Pouco mais de uma semana após um ataque a uma escola de São Paulo, outro atentado, desta vez a uma creche em Santa Catarina, choca o Brasil. Infelizmente, tais acontecimentos têm se tornado rotina no país, apontando para a transformação desta prática de fato isolado em acontecimento sistêmico.
O crescimento de tal fenômeno acompanha a própria desestruturação social aprofundada nos últimos anos de agonia capitalista, sobretudo com a fase neoliberal deste sistema. A precarização generalizada das relações de trabalho, o aprofundamento da concorrência entre indivíduos, o adoecimento mental, o ressentimento crescente, tudo isso tem cultivado a base para ações de terror em massa.
Esculturas homenageiam as vítimas do massacre de Realengo (RJ) em 2011. |
Antes um padecimento quase exclusivo dos estadunidenses, a prática tem se disseminado ao redor do mundo, alcançando países anteriormente alheios ao problema. Em grande medida, o processo se generaliza graças à ação de grupos de extrema-direita, reunidos sobretudo na internet, onde centenas e até milhares de indivíduos se congregam para incentivar os massacres e celebrar seus praticantes. É engano, contudo, acreditar que apenas estes grupos estejam por detrás de tais ações, pois continuam a existir os chamados lobos solitários, os quais, isolados, agem à despeito de qualquer organização.
Diversos estudos psicológicos já foram feitos mostrando o quanto o desejo do indivíduo praticante de tais atos horríveis busca, ao fim, na morte indiscriminada de dezenas ou centenas de pessoas, uma vingança imaginária contra a totalidade social, como se a sociedade, genericamente considerada, fosse culpada pelo ressentimento e pela frustração vividas pela pessoa. Algumas vezes, a sociedade pode ser reduzida a algum grupo específico, marcado por gênero, raça, credo ou nacionalidade. Assim, ataques apenas contra mulheres, contra o público LGBT, contra negros, contra mulçumanos, etc., são ocasionais. Contudo, a maioria dos ataques é indiscriminada.
Filme de Michael Moore, Tiros em Columbine, é importante documento sobre a mistura de decomposição social e acesso às armas. |
Muitos destes indivíduos, inclusive, irão engrossar as fileiras da extrema direita, onde podem encontrar de forma mais satisfatória o cultivo para o ódio e a violência tão prezados por eles e, por isso, não é coincidência a ação de fascistóides em tais massacres.
Fato é que a decomposição social vivida no capitalismo contemporâneo alimenta todo tipo de podridão e indivíduos iguais ao responsável pelo ataque de hoje à creche é apenas mais um exemplar disto e, infelizmente, não será o último. (por David Emanuel Coelho)
2 comentários:
É o Brasíu! Hoje, na primeira página do Guardian!
https://www.theguardian.com/world/2023/apr/05/brazil-pre-school-attack
https://apnews.com/article/brazil-attack-school-daycare-hatchet-kids-killed-db58146631680a397cfd9bde66c15f06?utm_source=homepage&utm_medium=TopNews&utm_campaign=position_07
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