O plano do golpe germinou e cresceu com o apoio dos pastores
evangélicos, policiais e supostos jornalistas.
O golpe vinha sendo alimentado há quatro anos pelos pastores
nos púlpitos, congregações ou tendas evangélicas, agindo junto a pessoas
simples e sem cultura. Uma grande maioria dos dirigentes protestantes, agora
também conhecidos como evangélicos, aceitou aderir à extrema direita fascista
para ter acesso ao poder político.
As igrejas, com cultos duas vezes por semana, escolas
dominicais, reuniões semanais de jovens e idosos são hoje o setor mais
politizador do país, porém de maneira discreta, mesmo imperceptível para os
profanos. A grande imprensa desconhece esses lugares onde se abastecem os
cérebros do gado bolsonarista.
Foram elas, as igrejas, com seu proselitismo, a base da
vitória de Bolsonaro. A senadora Damares Alves, eleita com mais de novecentos
mil votos, é uma prova, e Michelle Bolsonaro poderá ir na esteira, caso o
marido se torne inelegível.
Qual o segredo do crescimento político do evangelismo? Não
há necessidade de uma plataforma de promessas econômicas, salariais,
profissionais, de saúde, nada disso. Os pastores prometem o céu e as pessoas
simples aceitam: serão felizes depois da morte.
Não podemos esquecer as pregações e os gritos golpistas de
Silas Malafaia, os apelos golpistas de Cláudio Duarte e de outros pastores
usando de forma desinibida a Bíblia para justificar suas falas antidemocráticas
e em favor de uma ditadura teocrática bolsonarista.
E quando não são os pastores, são os chamados formadores de
opinião, da Jovem Pan ou da Record e deve haver outras rádios e jornais e redes
sociais na mesma linha. Há mesmo gente falando dos EUA, onde se sentem seguros
para pregar o golpe.
Ainda agora, descrevendo as invasões em Brasília, chamavam
os vândalos criminosos de manifestantes e não de golpistas. Para eles, tudo é
permitido em nome da liberdade, inclusive se pregar um golpe de estado e querer
fechar o STF.
Lembram-se do quebra-quebra em Brasília, no 12 de dezembro,
quando incendiaram carros e ônibus? Com a maior cara de pau e o maior cinismo,
falavam terem sido petistas infiltrados e, agora, devem estar falando a mesma
coisa…
Quanto aquele quebra pau, até o dia de hoje a polícia do
governador recém afastado Ibaneis Rocha não prendeu ninguém! Ainda agora, no começo da invasão de milhares de
bolsonaristas à Esplanada, não havia reforço policial e provavelmente também
não haveria prisões, se não fosse a intervenção federal no DF. E diante dos estragos feitos, inclusive em obras de arte,
nos ataques dos golpistas, o que fez ele? Escreveu uma carta de
desculpas ao presidente Lula. Ora, deveria ter apresentado sua demissão!
Mas não foram só falsos jornalistas, mentores de redes
sociais, pastores e governadores que vinham preparando o golpe na água morna
nestes quatro anos. Também havia a participação de policiais, situação clara no
flagrante de PMs de Brasília tomando água de côco enquanto se quebravam as
portas do Palácio do Congresso ou do STF. Outros conduzindo mesmo os golpistas
aos seus alvos.
Tudo disso poderia ter sido evitado se Augusto Aras ou sua
substituta Lindora Araújo tivessem aplicado a lei. Porque não aplicaram?! Devem
ter razões bem fortes…
E o responsável por tudo isso já foi para bem longe, de
onde agora será difícil voltar. Jair Bolsonaro, o presidente instigador do
golpe, que negociou o apoio com os pastores evangélicos, pensava ir pedir a
nacionalidade italiana, que lhe daria imunidade. Mas a chefe do governo
italiano, Giorgia Meloni, embora sendo também de extrema direita, já criticou
os ataques em Brasília, juntando-se na condenação aos golpistas feita também
por Emanuel Macron e Joe Biden, entre outros, o que coloca um banho de água
fria nas intenções do ex-presidente.
Ficará aos olhos do mundo a propaganda negativa após a ação
deflagrada pelo bando de bolsonaristas e a depredação dos prédios
governamentais. Nesta segunda-feira, 09, os jornais estrangeiros estampavam em
suas manchetes o fato.
Contudo, não é possível haver dúvidas que o golpe fracassado
estava sendo gestado há quatro anos a partir da liderança perniciosa de Jair
Bolsonaro, o qual agora refugia-se bem longe do Brasil em algum resort de
Orlando. (por Rui Martins)
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