sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

RESISTÊNCIA À TIRANIA, TERRORISMO CONVENCIONAL E TERRORISMO DE ESTADO

Este atentado terrorista contra o arquiduque Ferdinando precipitou  a 1ª Guerra Mundial
O
terrorismo foi uma prática característica da segunda metade do século XIX, quando revoltosos impotentes para conduzir seus povos à tomada de poder decidiram intimidar os governantes, atentando contra suas vidas.

Então, em vez de conquistar as massas para a revolução, eles optaram por tornar impossível à classe dominante continuar governando. Tentavam criar o caos. O termo terrorista definia com exatidão a atuação política desses cidadãos.

Os terroristas mais característicos foram os narodniks da Rússia, que cometeram um sem-número de atentados contra o czar e seus ministros, à bala e com bombas.

Já os movimentos de resistência aos regimes militares latino-americanos, tanto quanto os que combateram o nazi-fascismo na Europa, sempre objetivaram conquistar o apoio das massas para sua causa. Nunca quiseram criar o caos. Designavam suas ações com uma expressão que fala por si mesma, propaganda armada. Eis algumas dessas ações:
O irmão de Lênin tentou
matar o czar: foi executado
— e
xpropriavam bancos para manter a luta e sustentar militantes nas condições de rigorosa clandestinidade;
— sequestravam diplomatas para trocá-los pelos resistentes que estavam presos e sofrendo torturas atrozes;
— ocupavam estações de rádio para obrigar a colocação no ar de seus manifestos;
— tomavam supermercados e convidavam os trabalhadores a saqueá-los;
— sequestravam empresários e condicionavam sua libertação à distribuição de gêneros alimentícios em favelas;
— criavam guerrilhas na esperança de que se tornassem o embrião de um exército de libertação.

Como em toda luta desse tipo, houve um ou outro excesso, como a bomba contra o jornal O Estado de S. Paulo (que só chamuscou o mural) e o atentado contra o QG do II Exército (que vitimou um recruta e foi criticadíssimo pela própria esquerda).

No entanto, o Comando de Caça aos Comunistas (organização paramilitar consentida pela ditadura), sozinho, cometeu muito mais ações caracteristicamente terroristas do que todos os grupos de esquerda juntos.

Idem, os integrantes dos órgãos de segurança da ditadura que tentaram sabotar a abertura de Geisel, com bombas, atentados e agressões covardes aos jornaleiros que ousavam vender veículos alternativos (suas bancas eram incendiadas!).

Centenas, talvez milhares, de inocentes teriam morrido no Riocentro, se o feitiço não houvesse virado contra o feiticeiro.

E, claro, que moral tinha a ditadura militar brasileira para rotular alguém de terrorista?! Com absoluto desprezo pelos direitos humanos, cometeu atrocidades que incluíram o sequestro e a execução de opositores, capturados com vida e levados a centros clandestinos de tortura, para sofrerem suplícios terríveis e depois receberem o tiro de misericórdia; e a ocultação de seus cadáveres, tanto que famílias continuam em busca dos restos mortais dos seus entes queridos.
Atentado contra o WTC deu aos EUA pretexto para desmedidas violações dos direitos humanos   
Quem levou a grau extremo a prática do
terrorismo de estado não deveria nem sequer tocar nesse assunto...
ROLO COMPRESSOR – O rótulo de terrorista, portanto, não passou de uma deturpação da História com fins propagandísticos. Assim como chamavam de terroristas quem não o era e nunca foi, os militares brasileiros chegaram até a distribuir por todo o País cartazes acusando de assassinos pessoas que jamais haviam matado uma mosca – inclusive eu.

Era, sim, a mais vil e infame aplicação, no Brasil, dos conceitos de Goebbels: repetir tantas vezes uma mentira até que ela passasse por verdade.

Tudo isso ficou para trás quando os historiadores esclareceram a verdade sobre os anos de chumbo, os juristas reconheceram que a ação dos grupos armados se deu em conformidade com o princípio de resistência à tirania e o Estado brasileiro admitiu e começou a reparar sua culpa pelos maus feitos da turba de delinquentes que agiu em seu nome durante 21 anos.
Guerra psicológica: mentiras oficiais
eram espalhadas pelo Brasil inteiro
   

No entanto, a extrema-direita se reagrupou e passou a desenvolver uma propaganda avassaladora e massacrante, principalmente na internet. E voltou a tratar os resistentes como terroristas, exumando o velho clichê propagandístico, que já estava desmoralizado e banido do debate civilizado.

Não tenta mudar conceitos no ambiente acadêmico, pois sabe que seria exposta ao ridículo. Seu alvo preferencial, ao buscar prosélitos, são os incultos, os fracassados, os medíocres, os frustrados e os ressentidos – a mesmíssima escória que respaldou a ascensão de Mussolini e Hitler.

Aproveitando a justa indignação contra o Governo Lula – que é tudo, menos um governo de esquerda –, desenvolve uma pregação totalitária sem sutileza nenhuma. Se a justiça fosse séria no Brasil, muitos néo-integralistas já estariam presos por pregarem ostensivamente o fim da democracia.

Essa corja atua como rolo compressor, intimidando as pessoas equilibradas, que acabam deixando de participar dos fóruns de discussão política na internet para não terem de enfrentar uma malta de adversários que não hesita em recorrer a intimidações e grosserias.

Ou seja, fazem na internet o que os primeiros fascistas e nazistas faziam nas ruas: amedrontavam as pessoas de bem, para que não reagissem à escalada do arbítrio.

Como devemos nos comportar?

Não é próprio dos seres humanos decentes ficarmos discutindo com seres tão destituídos de humanidade, solidariedade, compaixão e, até, compostura. Pessoas capazes de vituperar de forma demagógica e virulenta o que um grande homem como o rabino Henry Sobel fez [pequenos furtos em estabelecimentos comerciais] em decorrência de uma moléstia, só nos causam o mais profundo asco.

Mas, quem deixar o terreno livre para os obscurantistas será cúmplice de todos os retrocessos que vierem a ocorrer. Então, não podemos nos acovardar nem continuar cedendo terreno.
Eduardo Bolsonaro negando a tortura; na
Europa, quem nega o holocausto vai em cana

Tampando o nariz, devemos reagir. Marcar posição. Afirmar nossa crença na civilização e nosso repúdio à barbárie.

Pois eles, com suas mentiras e calúnias, são muito mais fracos do que nós, com nossos ideais e verdades. Podemos expulsá-los de volta para as trevas das quais nunca deveriam ter saído.

Lembrem-se: é fácil esmagar o ovo da serpente, mas muito difícil matar a víbora depois. (por Celso Lungaretti)
OBSERVAÇÃO – Relendo artigos antigos, encontrei num deles este esclarecimento até didático sobre o que realmente era e é terrorismo, palavra que nos anos de chumbo passou a ter um novo significado, utilitário, no uso propagandístico que lhe deram as viúvas da ditadura brasileira e os ultradireitistas em geral.

Em março de 2007 fiz um artigo sobre o que haviam sido os 21 anos de ditadura militar e os direitistas o combateram encarniçadamente. Dei uma resposta a todos neste outro texto e, derrotados na batalha dos argumentos, eles partiram para o ad hominem, tentando desqualificar-me como ex-terrorista.

Aí, para encerrar a polêmica, escrevi um terceiro artigo no qual ensinei aos fanáticos burrinhos o que era realmente terrorismo.  Foi dele que extraí esse longo trecho, que, acredito, continua sendo esclarecedor nos dias atuais. (CL)

2 comentários:

Anônimo disse...

Da BBC (canal para a Russia)
Verdugo argentino que dio conferencias en Francia recibe 15 años
https://www-bbc-com.translate.goog/russian/news-64065404?_x_tr_sl=ru&_x_tr_tl=es&_x_tr_hl=es

celsolungaretti disse...

A Argentina, atualmente, não é melhor do que nós só no futebol.

Durante o governo do Lula, ele determinou a seus ministros que não encampassem propostas de mudanças na anistia de 1979, que igualara as vítimas a seus carrascos, passando uma borracha sobre tudo. Recomendou que se elogiassem os resistentes e que se deixasse a questão da punição dos crimes cometidos pelos torturadores a cargo da justiça.

Eu percebi de imediato que isto inviabilizaria, na prática, quaisquer punições àqueles que torturaram, executaram, estupraram, ocultaram cadáveres, etc. Defendi que ao menos essas atrocidades fossem julgadas, ainda que o Executivo as perdoasse porque, digamos, já se havia passado muito tempo e os criminosos estavam idosos demais ou combalidos.

Ou seja, o Lula não queria ter problemas com as viúvas da ditadura, então preferiu lavar as mãos e passar o abacaxi para o Judiciário. Só que este, por causa da Lei de Anistia, não podia condenar os ex-torturadores nem que quisesse.

Com isto, tudo que aconteceu de horroroso acabaria terminando em pizza, pois os processos podiam até ter alguma decisão favorável aos queixosos nas instâncias inferiores, mas ao chegarem às superiores eram extintos. Cantei a bola de que isto aconteceria e tal se confirmou.

Se pelo menos os carrascos fossem punidos, ainda que não cumprissem pena, o precedente para o futuro seria o de que fizeram coisas inaceitáveis e só teriam deixado de ir em cana porque o Estado brasileiro havia deixado transcorrer tempo demais antes de julgá-los (os processos deveriam ter começado logo em 1985, quando da redemocratização, mas já estávamos em 2007). Morrerão todos como nem inocentes, nem culpados, num limbo jurídico.

Foi, portanto, graças ao cagaço do Pôncio Lulatos que NENHUM torturador foi em cana ou sequer recebeu uma condenação definitiva à prisão.

É por essas e outras que jamais considerei o ex-metalúrgico como autêntico esquerdista.

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