O fascismo sempre esteve pautado no desejo de morte. Não apenas morte dos outros, mas também do próprio indivíduo.
Não à toa é o regime no qual o capitalismo surge mais plenamente em sua natureza nua e crua enquanto simples e pura forma de exploração.
O essencial do capitalismo é a reprodução do capital em detrimento da reprodução da vida humana. Vidas humanas são destruídas, seja pela morte física, seja pela morte psicológica ou pela vida limitada em prol do acúmulo capitalista.
No regime fascista é como se o capitalismo fosse reduzido ao seu grau zero, onde nada mais importa a não ser a pura e simples salvaguarda existencial da sociedade pautada na extração de mais-valia.
Por isso, não importa ao fascismo a liberdade, a democracia, a cultura, o pensamento ou mesmo a vida. Tudo é dispensável em nome da conservação da dominação burguesa. Ordem, patriotismo, tradicionalismo, obediência, moralismo, isso assume o papel fundamental.
Ao mesmo tempo, o movimento fascista só surge em períodos de aguda crise capitalista, justamente no momento em que se coloca de forma decisiva a continuidade do sistema.
Nestes períodos, a sociedade acelera seu processo de decomposição, com a força centrífuga, disruptiva, do mercado começando a ganhar cada vez mais força.
É como se o contrato social de Hobbes fosse se enfraquecendo, com a sociedade marchando em direção ao estado de natureza, à guerra de todos contra todos.
O egoísmo, o fanatismo, o irracionalismo, a crueldade e a desumanidade já comuns do capitalismo se ampliam e acentuam nesta época. A podridão social alcança patamares astronômicos e a feiúra capitalista assume-se em plena luz do dia: é homem lobo do homem em sua forma plena.
Esta forma social apodrecida condiciona o aparecimento de uma subjetividade igualmente apodrecida. Sem remédio ou sem ilusões, não se trata da mera escolha das pessoas, de suas opções conscientes, mas da força material agindo e capturando a vontade de milhões de pessoas.
Faz-se, assim, absolutamente verdadeiro aquilo a que Marx já aludia nos Manuscritos Econômicos e Filosóficos: é a realidade que condiciona a consciência.
Por isso, o sujeito pode sair de casa e ir à urna votar em quem deseja sua morte, em que quer apenas o seu mal.
No fundo, o que predomina é o delírio autodestrutivo, o comando do fanatismo religioso de que é preciso sacrificar-se em prol da guerra santa, pois haverá uma recompensa no além.
O erro crasso da esquerda, portanto, é insistir que basta convencimento para mudar a situação.
Não basta. É preciso modificar a estrutura social, a base do condicionamento psíquico. Sem mirar a modificação da sociedade, a esquerda já está derrotada desde o início.
Por isso, uma esquerda que trabalha em prol da preservação e aprofundamento desta sociedade apodrecida só pode ser duplamente derrotada, pois, no fundo, está apenas contribuindo para o fortalecimento da extrema-direita. Está, enfim, cavando sua própria cova e a de toda a humanidade.
Pena que aprender as lições de suas desventuras não seja o forte do lulopetismo. (por David Emanuel Coelho)
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