A frase foi dita pelo presidente Jair Bolsonaro durante uma rápida coletiva, nesta 6ª feira (28), após o último debate com Luiz Inácio Lula da Silva, promovido pela Rede Globo. Simplista, ela é a síntese de como as discussões foram conduzidas pelos candidatos em seu último encontro antes da votação no domingo (30).
Sim, as projeções apontam que o Brasil pode encerrar o ano com uma taxa de crescimento acima da chinesa pela primeira vez desde os anos de 1980. Porém, uma associação entre os dois países é patética, para dizer o mínimo.
Não existe régua de comparação entre as duas economias. Nem vale a pena citar o abismo estrutural. Vamos olhar apenas a diferença na grandeza do Produto Interno Bruto. O chinês fechou 2021 em US$ 17,7 trilhões, enquanto o brasileiro ficou em US$ 1,6 trilhão.
O mesmo vale para a comparação do custo de vida. Ao final de setembro, considerando 12 meses, a inflação na Zona do Euro alcançou 10%, o pico numa série histórica inIciada em 1977. No Brasil, a alta do custo de vida ficou em 7,17% no mesmo período.
Essas pretensas vantagens econômicas do Brasil não são consequências de nenhuma política pública do atual governo. São meras disfunções momentâneas ainda geradas pela pandemia.
Estivesse o Brasil surfando uma onde de crescimento e com inflação domada, Bolsonaro não teria iniciado o debate apostando na máxima de que a melhor defesa é o ataque.
Ele abriu a discussão dizendo que vai adotar um salário mínimo de R$ 1.400 na tentativa neutralizar um dos maiores estragos à sua campanha neste 2ª turno, o vazamento de que o Ministério da Economia avalia acabar com o reajuste do salário-mínimo pela inflação passada. Os estudos nesse sentido foram revelados pela Folha de S. Paulo.
O presidente não deu reajuste acima da inflação para o salário-mínimo no momento em que o rendimento das famílias encolheu e também foi corroído pela inflação, que chegou a 11,89% nos 12 meses encerrados em junho deste ano.
O Brasil não está melhor que a China ou que a Zona do Euro. Ao longo de todo o debate, o eleitor sofreu com o jogo de palavras e raciocínios.
Foi obrigado a acompanhar uma enxurrada de falas desconexas e a banalização de discussões tão vitais para o futuro do país como o combate a pobreza, temática que abordada com um recital de números que pouco dizem para o eleitor.
No trecho em que a discussão deveria tratar de respeito à Constituição, item essencial para garantir a confiança dos investidores, as falas erráticas foram de Lula promovendo invasões de terras a Bolsonaro defendendo pílula do dia seguinte nos anos de 1990.
O momento em que se falou de saúde Lula citou que Bolsonaro foi ao enterro da rainha da Inglaterra, mas não prestou apoio aos mortos da Covid no Brasil, enquanto Bolsonaro criticou o programa com médicos cubanos.
Num dos raros momentos de interação entre os candidatos, Bolsonaro explicou que a distribuição de 35 mil caixas de Viagra para o Exército eram para tratamento de próstata e ainda perguntou ao oponente: "Você usa?".
Ao questionar a proposta de desarmamento, Bolsonaro tentou associar Lula ao crime organizado, lembrando que ele visitou o Complexo do Alemão.
Como não poderia deixar de ser, vieram as citações a Roberto Jefferson, aliado do PT no passado e aliado de Bolsonaro até pouco tempo, que foi empurrado de um lado para o outro pelos candidatos que não querem ser relacionados ao ex-deputado que recebeu a PF a balas e granadas.
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