quinta-feira, 15 de setembro de 2022

O GUEDES ERA DE VIDRO E SE QUEBROU, SEU LIBERALISMO ERA POUCO E SE ACABOU – 2

 (continuação deste post)
A
revolta popular de junho de 2013 em São Paulo foi encabeçada pela esquerda mais consequente e aproveitada de modo oportunista pela direita mais conservadora  (embandeirada de verde-amarelo).

Foi uma consequência da debacle capitalista exatamente onde o capitalismo é mais desenvolvido, fazendo sentir do modo mais rápido e cruel os impasses de sua decadência; e já prenunciava o anseio popular por mudanças.

Foi o então candidato Jair Bolsonaro (e sua fakeada) quem melhor soube aproveitar eleitoralmente a insatisfação popular, com seu discurso:
— conservador nos costumes;
— falsamente liberal na economia;
— mentiroso quanto ao seu passado, pois ele fez os desinformados acreditarem que se tratava de um outsider na política, embora acumulasse três décadas de mandatos legislativos fisiológicos;
— mentiroso quanto ao seu futuro se eleito, pois fingiu que combateria a corrupção (tida erradamente como o grande empecilho ao progresso brasileiro) e acabou torpedeando a Operação Lava-Jato e favorecendo sua extinção.

É fácil de se comprovar que já havia naquelas eleições de 2018 uma contradição ideológica inconciliável do militarismo nacionalista com o liberalismo clássico apregoado por Paulo Guedes e endossado de modo oportunista pelo então candidato Bolsonaro.

O que se viu depois foi: 
— o descumprimento da promessa de campanha de privatização das estatais (aliás, uma bandeira que em nada resolve os problemas sociais, posto que o patrão estado e o patrão privado obedecem à mesma lógica de extração da mais-valia e acúmulo do capital para fazer face à guerra concorrencial de mercado);
— o aparelhamento do estado com militares de pijama ou da ativa em cargos estratégicos e até de terceiro escalão;
— o aumento da dívida pública, o pagamento de juros escorchantes aos nossos credores e o descontrole fiscal;
— a redução de direitos trabalhistas e previdenciários;
— o aumento da inflação;
— a corrupção nos ricos ministérios da Saúde e da Educação (sem falar na descoberta de rachadinhas anteriores) e com a compra de dezenas mansões em Brasília, com dinheiro vivo, por parte de integrantes da famiglia presidencial;
— o aumento do analfabetismo, que tanto favorece o coronelismo eleitoral nos rincões do Brasil profundo;
— a completa submissão aos parlamentares do centrão, com Bolsonaro retirando descaradamente a máscara de outsider e voltando a esse seu berço político que não passa de um cancro histórico em nosso país;
— a continuação das década perdidas (2000, 2010) neste início da de 2020, com registros pífios de crescimento do nosso Produto Interno Bruto;
— o desmatamento criminoso da Amazônia (comprovado pelos órgãos oficiais e cinicamente reconhecida numa reunião ministerial por quem deveria proteger o maio ambiente, mas agia mesmo é para facilitar a passagem da boiada do agronegócio e da extração mineral e vegetal indevida);
— a política externa desastrosa que tornou o Brasil um pária no mundo civilizado e atingiu o auge do ridículo com a convocação de embaixadores estrangeiros para ouvirem as mentiras presidenciais sobre as urnas eleitorais e com a tentativa frustrada de fazer de Eduardo Bolsonaro nosso embaixador nos EUA;
— a 
reinserção do Brasil no mapa da fome da FAO, organismo da ONU; e
— a administração criminosa da crise sanitária da covid, colocando-nos como campeões mundiais da relação mortes por habitantes (supostos 700 mil, embora o total não maquilado superasse 1 milhão, para uma população de 210 milhões de habitantes), fato que se configura como genocídio tendo em vista a recusa governamental em comprar vacinas num primeiro momento, optando pela aquisição e distribuição (sem concorrência pública) de remédios comprovadamente ineficazes.

Vamos ficar por aqui, ainda que pudéssemos citar muitos outros exemplos de desgoverno  .

Mas o pior é que o capitalismo continuará indo ao encontro do seu amargo fim, com o Brasil sendo particularmente atingido pela crise que já é um fenômeno mundial;  os remédios anunciados alhures como eficazes nada mais são do que mais do mesmo, ainda que provavelmente sem a idiossincrasia de um governo esclerosado no tempo.

O risco é que a volta da insatisfação popular nos faça retroceder aos comportamentos anticivilizatórios hoje tão incensados por energúmenos desavisados que insistem em olhar com simpatia a vida social pelo retrovisor, ao invés de fazerem a roda da história acelerar para a frente!

Por que insistirmos num modelo de mediação social caduco, que nos coloca sob o risco de sucumbirmos à nossa própria insensatez??? (por Dalton Rosado)

2 comentários:

Anônimo disse...

Do Financial Times
https://www.businesslend.com/news/samba-scandals-and-saudades-the-battle-between-lula-and-bolsonaro/

https://www-businesslend-com.translate.goog/news/samba-scandals-and-saudades-the-battle-between-lula-and-bolsonaro/?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt

SF disse...

***
A economia é uma ciência social. Então ela não é preditiva como, por exemplo, a química.
Logo, os economistas aderem a doutrinas que deem uma direção a seu pensamento procuram fatos que comprovem o que eles acham.
O inverso da ciência, para se falar claro.
***
Contudo, um abacaxi é sempre um abacaxi e se for dado em troca, de amizade ou batatas, configura um ato econômico entre indivíduos.
Sabedores disso, surgiram os intermediários.
A eles cabe a tarefa de complicar algo simples e tirar alguma vantagem para, em geral abusiva, contando sempre com a desinformação e o desconhecimento dos agentes econômicos em relação a verdadeira natureza das trocas que eles (os marreteiros) intermedeiam.
***
Você tem desatado o nó dos conceitos e clareado os aspectos obscuros da mercadoria e do dinheiro de maneira brilhante, diga-se.
Esse é o que considero o mais nobre aspecto do trabalho do economista.
Educar.
***
Seu lado sonhador o leva a pensar utopias, onde o homem não seja um ser rapace e alienado.
Um homem dotado de valores coletivos que se sobreponham ao individualismo cego.
E que, esperto, não entregue seu individualismo a um coletivo comandado pelos atravessadores de sempre.
Algo ou alguém que coopere sem se alienar no dogmatismo e examine cada ato econômico para ver a que classe pertence. Se é um simples ato de trocar abacaxis por batatas, ou trocar sua liberdade por batatas...
***
Você é muito bom!
*

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