Se ainda faltava algo para o gaúcho Cássio ser reconhecido como o maior ídolo do Corinthians em todos os tempos, agora é incontestável.
Prestem atenção: eu escrevi ídolo, e não jogador ou goleiro.
Pois ele não é, nem nunca foi, um craque comparável a Cláudio, Luizinho, Marcelinho Carioca, Neco, Neto, Rivelino, Ronaldo Fenômeno e Sócrates, entre outros.
E nem mesmo como goleiro superou Gylmar e Dida, dois arqueiros com técnica mais apurada que a dele. Sempre lhe faltou, ao deixar a meta para interceptar cruzamentos, a mesma excelência que mostra defendendo os arremates contra seu gol.
Nas partidas mais difíceis, contudo, ele faz a diferença, graças a seus trunfos:
— é movido a adrenalina, então seus sentidos se aguçam, suas reações se tornam mais rápidas e ele fecha o gol nas partidas mais importantes;
— sabe aproveitar muito bem sua envergadura física, com 1,95m de altura e braços longos, o que intimida os atacantes (é comum errarem a meta de tanto que tentam tirar o chute do seu alcance);
— é um eleito dos deuses (e, como disse Nelson Rodrigues, "sem sorte não se chupa nem um [sorvete] chicabon, pois você pode engasgar com o palito ou ser atropelado pela carrocinha").
Assim, ao evitar com a ponta da unha um gol de Diego Souza na Libertadores de 2012, ele se tornou o principal responsável pela conquista inédita do Corinthians, que dificilmente conseguiria, na meia-hora restante, furar a sólida retranca do Vasco e marcar os dois tentos que se tornariam necessários para seguir adiante na competição.
Depois, para garantir a festa do bando de loucos em Yokohama, Cássio foi simplesmente portentoso, fazendo defesas dificílimas, inclusive o milagre que impediu Cahill de abrir a contagem logo no início da partida, com o disparo à queima-roupa sendo interceptado quase em cima da linha.
E a vítima daquela vez foi Fernando Torres, que pipocou nas várias chances que teve diante do gigante corinthiano. Dava a impressão de que, na hora de finalizar, ele via um Cássio de uns 3 metros de altura à sua frente....
E o que dizer das partidas decisivas do campeonato paulista de 2018, quando a semifinal contra o São Paulo e a final contra o Palmeiras foram ambas decididas nos pênaltis, com a estrela do Cássio brilhando mais uma vez?!
Contra o Boca Juniors na Libertadores 2022, Cássio voltou a ser decisivo, fazendo uma defesa impressionante em finalização de Benedetto na Neoquímica Arena e vencendo o duelo final contra o ótimo goleiro do time argentino, Rossi, quando a disputa da vaga foi para os pênaltis, após os 0x0 aqui e lá.
Cássio já havia pegado um e Rossi, dois (Benedetto chutara o seu nas nuvens), mas os cobradores tinham facilitado. Estava 5x5 nas cobranças alternadas. Aí Ramirez bateu com força e Cássio saltou como um gato para espalmar.
Gil, com todo o peso da Nação Corinthiana nas costas, cobrou forte e no canto, mas Rossi quase opera um milagre. Quase. Encostou na bola, tirou-lhe a força, mas ela escorreu para as redes.
E daí? Era só uma partida de oitavas de final...
Daí que, desfalcado como nunca, com quase um time inteiro no departamento médico, o Corinthians sobrepujou o temível Boca Juniors na Bombonera, algo que uma equipe brasileira não conseguia fazer desde o Santos de Pelé em 1963.
E Cássio foi o principal responsável por todas essas conquistas, pois elas não teriam ocorrido sem ele tirar coelhos da cartola. Sendo que as duas de 2012 são simplesmente as maiores do Corinthians em seus 111 anos de história.
E a desta 3ª feira (5) se deu em sua 599ª atuação pelo timão, para que a fiel lhe preste homenagens inesquecíveis quando entrar em campo na próxima vez.
[Já é o quarto atleta que mais jogou pelo Corinthians, devendo em breve superar as 602 partidas do também goleiro Ronaldo Giovanelli e as 606 do pequeno polegar Luizinho. Difícil mesmo será, com seus 35 anos, ainda ultrapassar as 806 de Wladimir, mas, com a estrela dele, tudo é possível...].
E pensar que há apenas três meses uns moleques que nada sabem de futebol nem da vida andaram ameaçando de morte o Cássio e sua família em razão de falhas menores em partidas menores! Deveriam é beijar-lhe as mãos santas... (por Celso Lungaretti)
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