Deu no New York Times? – perguntou o Henfil, que considero
o melhor cartunista brasileiro de todos os tempos. Deu, sim! (CL)
Até recentemente, o confronto entre o grupo Disney e o Estado da Flórida poderia parecer inconcebível.
Os ataques dos republicanos contra a gigante do entretenimento, que prejudicarão a economia do Estado, refletem um tombo súbito na direção da intolerância num país que parecia cada vez mais tolerante; e as alegações contra a Disney são, numa palavra, insanas.
O objetivo do governador, Ron DeSantis, e seus aliados não tem nada a ver com políticas – nem com a política no sentido convencional. Testemunhando, em vez disso, sintomas da transformação do Partido Republicano, de partido político normal num movimento radical fundamentado em teorias de conspiração e intimidação.
Mais diretamente, a Disney World localiza-se num distrito especial de 10 mil hectares, no qual a empresa provê serviços públicos básicos mesmo pagando os impostos sobre propriedade. Na semana passada, porém, DeSantis sancionou uma lei que elimina esse distrito, o que deixará os contribuintes locais em dificuldades – e também lhes impingirá uma dívida de mais de US$ 1 bilhão.
Além disso, o resort dá emprego a um número enorme de pessoas e atrai milhões de visitantes todos os anos – visitantes que gastam dinheiro que impulsiona a economia da Flórida. E, de maneira menos tangível, a Disney certamente contribuiu para a imagem da Flórida enquanto lugar agradável para visitar e viver. A indústria de lazer e hospitalidade do Estado é gigantesca, e a Disney World é uma importante razão para tanto.
Tudo isso, porém, foi colocado em risco quando a Flórida aprovou a lei Don’t Say Gay.
Depois da aprovação da legislação, o CEO do grupo Disney finalmente declarou que sua empresa era contra a lei. A resposta republicana foi radical – mas, afinal, nestes dias, tem sido sempre assim.
Não muito tempo atrás, usar o poder do Estado para impor penalidades financeiras sobre corporações em razão de as empresas terem expressado posições políticas das quais você discorda seria considerado inaceitável. Na realidade, pode ser até inconstitucional.
Mas o ataque contra o grupo Disney foi muito além da represália financeira: de repente, o Mickey Mouse virou parte de uma vasta conspiração. A vice-governadora da Flórida deu declarações ao site da Newsmax acusando o grupo Disney de doutrinar e sexualizar as crianças com sua agenda nada secreta.
Parece loucura – e realmente é –, mas essa tem sido cada vez mais a norma dos republicanos. A cobertura política não percebeu o quão profundamente QAnonizado o Partido Republicano se tornou.
Cerca de metade dos republicanos acredita que democratas graduados estão envolvidos em redes de elite de tráfico sexual.
Aqui vai um número mais impressionante: 66% dos republicanos acreditam na teoria de substituição dos brancos, concordando por completo ou em parte com a alegação de que o Partido Democrata está tentando substituir o atual eleitorado por eleitores vindos de países pobres de todo o mundo.
Em função dessa mentalidade, republicanos adotaram políticas projetadas para jogar com a paranoia da base e acusam qualquer um que se oponha a essas políticas de fazer parte de uma nefasta conspiração.
"Não importa como você conduz seus negócios, quão inócuo seu comportamento é realmente. Se você criticar nossas ações, ou se abstiver de alguma maneira de demonstrar lealdade à nossa causa, vamos encontrar alguma maneira de puni-lo".
A briga em torno da Disney é, na realidade, sintoma de um desdobramento muito mais amplo e perturbador: a QAnonização e orbanização [alusão ao ultradireitista Viktor Orbán, premiê eterno da Hungria] de um dos maiores partidos políticos dos EUA... (principais trechos de longo artigo escrito por Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia 2008 e colaborador fixo do New York Times, cuja tradução foi aqui publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo)
Eis a comédia escrita e dirigida em 1987 pelo Henfil, que também
aparece no elenco, ao lado de Chico Anysio, Antônio Carlos
Jobim e Elke Maravilha, entre outros.
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