DEMISSÃO PARA O PASTOR-MINISTRO É O MÍNIMO
A criação pelo ministro Milton Ribeiro de um gabinete paralelo (ou de um lobby constituído por dois pastores) dentro do Ministério da Educação, para facilitar a certos prefeitos o recebimento de verbas para obras públicas, escolas, mas também construção de igrejas, é um tipo de corrupção que tem o objetivo de reforçar o peso político das igrejas evangélicas, favorecer seus candidatos e influir nas próximas eleições nesses municípios.
Enquanto se aguarda o pronunciamento do procurador geral da República Augusto Aras, a reação atônita da mídia, desde a revelação pela Folha de S. Paulo dessa licitação de recursos públicos controlada pelos evangélicos, vai no sentido de terem sido cometidos diversos crimes, como o de responsabilidade, improbidade administrativa e do tráfico de influência.
O ministro da Educação Milton Ribeiro deveria, portanto, ser exonerado sem delongas ou se demitir, sujeitando-se depois aos devidos processos.
A questão vai mais longe porque envolve também o presidente Jair Bolsonaro, segundo a gravação da reunião de Ribeiro com prefeitos e com seus dois indevidos auxiliares (os pastores Gilmar Silva Santos e Arilton Moura, da denominação evangélica Assembleia de Deus) na criação desse gabinete paralelo.
Ambos os usados por Ribeiro para distribuir verbas públicas a irmãos (no jargão evangélico) não têm nenhum cargo por eleição ou por nomeação: seus amigos, idem. Mesmo assim, gozam de livre acesso dentro do Ministério, viajam grátis em aviões da FAB, reúnem-se em nome do Ministério com prefeitos e empresários e já participaram de 22 reuniões oficiais do MEC.
Evangélicos querem converter o Brasil – Existe um plano paralelo dos evangélicos para converter o Brasil, considerado por eles país pagão e católico idolatra, acabar com o Estado laico e instalar um regime teocrático religioso fundamentalista, baseado na Bíblia?
Pode parecer absurdo, um contrassenso cultural e mesmo político, mas existe. Porém, não é tão simples: existem os fiéis seguidores convencidos de ser preciso salvar sua alma e o povo do pecado, mas existem os aproveitadores interessados em se beneficiar, em tirar proveito próprio da crença ou do fanatismo.
O protestantismo, nessas duas vertentes, viu no candidato Messias Bolsonaro a oportunidade de unir o fervor religioso ao fervor político. Aproveitando a onda do combate à corrupção veiculada pela direita, as lideranças protestantes unidas com as lideranças conservadoras evangélicas firmaram acordos, usaram seus templos e suas tendas para impedir o retorno do petismo e da esquerda ao poder.
A fidelidade do evangelismo protestante ao candidato, cujo programa e campanha do ódio baseada em fake news nada tinha de cristão evangélico, não foi apenas nas eleições. Em retribuição aos cargos e mesmo ministérios dados aos evangélicos, coisa nunca antes ocorrida, seus líderes têm apoiado todos os absurdos ditos e feitos pelo presidente, ao qual designam como escolhido por Deus (!!!) nos cultos nas igrejas, que se transformam em usinas de cabos eleitorais.
Sete desses pastores estiveram na micareta golpistas do 7 de setembro, participando de maneira nada evangélica das ameaças ao Supremo Tribunal Federal e ao ministro Alexandre de Moraes. Os pastores Silas Malafaia e Cláudio Duarte apoiavam ostensivamente um golpe.
Faltou apenas lembrar que o poder corrompe, mas isso fica para outro artigo.
Ribeiro e suas declarações – Logo após a posse de Ribeiro no MEC, publiquei neste bolog um longo texto (acesse-o aqui) que se revelou premonitório.
Nele adverti que o Ribeiro tinha um plano de reforma do ensino que, sem dúvida, iria alterar para pior o existente. Uma de suas últimas declarações foi a de que universidade não é para todos, mas para poucos, e todo mundo sabe que seu modelo é a universidade paga e privatizada. Homofóbico, responsabilizou famílias desajustadas pela criação de gays.
Ribeiro tem consciência da importância dos 30% de evangélicos para o presidente se reeleger e, no atual escândalo, se prestou a criar um lobby para favorecer o voto evangélico pela concessão de verbas públicas. Ou seja, uma influência ilegal junto aos eleitores para ajudar a reeleger Bolsonaro.
Ao mesmo tempo, as verbas são um poderoso argumento para obter mais conversões de pessoas pobres e influenciáveis aos evangélicos. (por Rui Martins)
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