domingo, 20 de março de 2022

O BOZO NÃO DEFENDE A LIBERDADE DE EXPRESSÃO E SIM A DE ELE DELINQUIR

josias de souza
QUEM COM CENSURA DE COMÉDIA FERE, COM
BLOQUEIO DO TELEGRAM SERÁ FERIDO
P
ode-se acusar Bolsonaro de muita coisa, menos de incoerência: ele sempre foi a favor de tudo e absolutamente contra qualquer outra coisa, desde que seu interesse político venha em primeiro lugar. 

Dias atrás, o governo do capitão censurou uma comédia de Danilo Gentili sob a alegação de que fazia apologia da pedofilia. O mesmo governo pega em lanças pelo desbloqueio do Telegram, usado para a prática de crimes variados. Entre eles a pornografia infantil. 

O filme de Gentili Como se tornar o pior aluno da escola– é de 2017. Havia sido liberado pelo Ministério da Justiça para maiores de 14 anos. Súbito, com cinco anos de atraso, o bolsonarismo implicou com uma cena em que dois meninos são assediados por um vilão adulto. 

Há muito filme ruim por aí. Mas ninguém lembraria da má qualidade desta comédia se a censura inconstitucional e extemporânea da gestão Bolsonaro não tivesse o cuidado de chamar a atenção.

O Telegram foi bloqueado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, a pedido da Polícia Federal. Alegou-se que o desrespeito à legislação brasileira e o reiterado descumprimento de inúmeras decisões judiciais pelo aplicativo é circunstância completamente incompatível com a ordem constitucional vigente." 

Moraes realçou a omissão do Telegram em retirar do ar notícias fraudulentas e cessar a prática de crimes –da venda de armas ao sexo com crianças. 

Na censura do Ministério da Justiça à comédia de Gentili, Bolsonaro usou a estrutura do Estado para alimentar o bolsonarismo que percorre as redes sociais à procura de encrenca. 

A polêmica forneceu aos devotos do mito a ração que mantém viva a guerra cultural bolsonarista um composto vitamínico que mistura fuligem ideológica e detritos morais. 

Na petição protocolada pela Advocacia-Geral da União no Supremo em defesa do desbloqueio do Telegram, o presidente colocou a máquina estatal a serviço de sua milícia digital. Depois que o WhatsApp passou a retirar bolsonarices do ar e a colaborar com a Justiça Eleitoral, Bolsonaro e seus filhos migraram para o Telegram. Apenas a família real mantém no aplicativo 1,3 milhão de seguidores. 

Plataformas de streaming ignoraram a censura humorística. E a pasta da Justiça alterou a classificação da comédia de Gentili para maiores de 18 anos. 

O bloqueio ao Telegram, ainda pendente de efetivação e sujeito a dribles, deve perdurar até que as decisões judiciais sejam cumpridas pela empresa. 

Numa das ordens desobedecidas, Alexandre de Moraes mandara tirar do ar publicação do próprio Bolsonaro. Nela, o presidente vazou inquérito sigiloso da PF para propagar mentiras sobre urnas eletrônicas. 

O mesmo Bolsonaro que se fingiu de morto diante da censura à comédia tachou de
inadmissível o bloqueio judicial imposto ao seu aplicativo predileto. 

Num Estado democrático de direito, não se deve censurar um presidente. Mas certas declarações oficiais deveriam ser proibidas para menores de 150 anos. 

Até uma criança de cinco anos percebe o óbvio: Bolsonaro defende sua liberdade de delinquir, não a liberdade dos usuários do Telegram de se expressar. 

Um político:
— capaz de dizer que jamais estupraria uma deputada porque ela é muito feia;
— que mede o peso de um afrodescendente em arrobas;
— que evoca a condição de capitão para esclarecer que minha especialidade é matar, não curar;
 que chama de fraudulento o sistema eleitoral que lhe garantiu oito mandatos... 

Um político assim não quer um aplicativo para divulgar suas mensagens. Prefere um Telegram baldio, no qual possa despejar seu lixo radioativo. 

O diabo é que, numa democracia, quem com censura de comédia fere. com bloqueio do Telegram será ferido. (por Josias de Souza)

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