A criação da ONU e outros órgãos multilaterais veio junto com a ideia de que as superpotências – EUA e URSS à época – não deveriam enfrentar-se diretamente.
Não que houvesse paz de fato, bem sabemos. Os conflitos não aconteciam diretamente no centro, mas indiretamente na periferia, como atestam as guerras do Vietnã e as intervenções estadunidenses na América Latina.
Contudo, a regra era não haver ações militares no coração do sistema econômico e político mundial, ou seja, no hemisfério norte.
Mesmo após o fim da União Soviética, a lógica desta pactuação pós-guerra manteve-se em pé. As guerras aconteciam na periferia – Iraque, Afeganistão, Síria, Líbia, etc –, nunca no centro.
Tudo parece desmoronar agora. E aqui a responsabilidade é dos EUA, pois este país avançou agressivamente sobre as antigas nações soviéticas, aproximando-se perigosamente do território russo com sua Otan.
Em resposta, a Rússia também iniciou processo de avanço sobre regiões historicamente dominadas pelos ianques, estabelecendo alianças com a Venezuela, a Nicarágua e países da África. Mas estes avanços nem de perto equivalem-se à audácia estadunidense de tentar transformar a Ucrânia em membro de sua aliança militar.
Ironicamente, foram os próprios EUA que avançaram para quebrar a ordem do pós-guerra.
Os europeus tentaram ao máximo contemporizar, até por dependerem enormemente do gás russo, mas Biden manteve-se impassível e fez o máximo para dinamitar soluções diplomáticas com Moscou, optando pela via belicosa de sanções e do não-recuo na decisão de transformar a Ucrânia em mais uma parte de seu terreiro.
De modo sintomático, a ação russa na Ucrânia começou exatamente no momento em que transcorria uma reunião do Conselho de Segurança da ONU para tentar solucionar a crise. Putin deu uma afrontosa banana para o órgão multilateral, levando a guerra para o coração da Europa pela primeira vez desde 1945.
Não foi novidade. Na guerra do Iraque, Bush já havia ignorado a ONU em sua invasão. Mas é a primeira vez que uma outra potência mundial repete o ato e isto acende um grande sinal de alerta, pois coloca em cena a possibilidade de um conflito direto entre as grandes forças militares do planeta.
Putin não iguala o mestre, mas blitzkriegs sabe lançar |
Toque do editor – Pax americana é uma expressão errônea comparando a pax romana do tempo dos césares à hegemonia mundial dos EUA a partir do final da guerra de 1939/45.
O blog a manteve por haver-se tornado usual neste contexto, mas reafirma seu entendimento de que as pessoas nascidas nos Estados Unidos não podem ser chamadas de americanas, já que nosso continente possui outros 35 países; nem de norte-americanas, pois isto criaria confusão com mexicanos e canadenses, que também são da América do Norte. O certo, mesmo, é denominá-las estadunidenses. (CL)
Bob Dylan, aos 22 anos, interpretando uma canção que compôs
sob o impacto emocional da crise dos misseis cubanos
Um comentário:
Escutando Alô alô Marciano.
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