sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

COMO O NAZISMO IRROMPEU NA ALEMANHA (no Brasil, o ovo da serpente foi gorado) – 3

(continuação deste post)
Hitler em cana (deveriam
ter jogado a chave fora!)
E
ntre os presos estavam Adolf Hitler e Rudolf Hess (*), que compartilharam a mesma cela. 

Após o desespero da prisão e desmantelamento do movimento nazista. Hitler pensou em se suicidar. Entretanto, com o passar do tempo e o aprofundamento da penúria do povo germânico, ele começou a perceber que muitos alemães insatisfeitos, passavam a enxergar um certo estoicismo naqueles militantes corajosos e violentos, ainda que arbitrários e policialescos. 

No seu julgamento Hitler usou a própria defesa como libelo acusatório contra os que o prenderam,  com isto granjeando a simpatia de muitos dos próprios julgadores e da plateia, tanto que recebeu uma pena bem menor que a esperada (pena de morte, inclusive): apenas cinco anos, dos quais cumpriria apenas um ano, libertado em 1924.

Na cadeia, ajudado por Rudolf Hess, escreveu o que seria a bíblia do nazismo, um monte de ideias absurdas (antissemitas, homofóbicas, misóginas e totalitárias por excelência) mas que pareciam redentoras para os angustiados alemães de então: Minha Luta.

[Muitos simplistas de hoje, vítimas de amnésia histórica, tentam reintroduzir tais disparates como alternativa à depressão econômica, tal qual ocorreu na geração do nazismo. 

Libertado, Hitler, com a concordância da cúpula do partido, constatou que estavam dadas as condições para os nazistas capitalizarem os ideais de resgate do orgulho do povo alemão (em 1923 o marco perdera totalmente o valor, com a inflação atingindo patamares insuportáveis, enquanto o desemprego grassava avassalador) mediante discursos inflamados e simbologia ostensiva (fardamentos paramilitares e suástica), mas concorrendo aos cargos eletivos.

Embora embora eles não tivessem obtido sucesso na eleição de 1925 (ficando com apenas 1,1% dos votos e nenhuma vaga no Reichstag, o parlamento alemão), Hitler continuou com a cantilena que atribuía a penúria alemã aos judeus e à socialdemocracia que teria traído o povo germânico ao celebrar o inclemente Tratado de Versalhes. 
O Reich de mil anos desabou em apenas doze
Havia então, na Alemanha ultrajada, denotava forte simpatia pelo marxismo-leninismo. O Partido Comunista tinha muitos simpatizantes. 

O nazismo intitulava-se também socialista e criticava o capitalismo internacional (que via como fruto da uma conspiração do judaísmo mundial), além de exaltar a defesa dos trabalhadores alemães. 

Só que, embora adotando tais bandeiras do comunismo stalinista de então, paradoxalmente se apresentava como o seu oposto, apontando os comunistas como os seus mais ferrenhos adversários (mesmo porque com aqueles disputava um mesmo eleitorado).

O nazismo conservara entre seus princípios doutrinários a ideia da necessidade do espaço vital, pois o dito cujo era tido como necessário aos seus planos megalomaníacos de germanização do mundo; acalentava, portanto, o sonho de expandir-se para o leste europeu, de olho nas riquezas minerais da Rússia e adjacências. 

A raça ariana, descendente dos celtas, considerava-se superior à raça eslava do leste europeu, vendo-a como inculta e pouco desenvolvida economicamente, ainda relegada a uma vida campesina e rude. Este erro essencial de avaliação viria a ser catastrófico num futuro próximo.  

Tão logo voltou à liberdade, Hitler começou a remodelar as diretrizes de seu partido, copiando as do fascismo, inclusive com a adoção de disciplina rígida e a formação de grupos paramilitares. 

Hitler acreditava que o povo alemão era descendente da raça ariana, destinada a dominar o mundo e empreender a construção de uma nação forte e próspera. .
O Bozo nega vacinas às crianças brasileiras, mas Hitler
fazia pior com as judias: mandava-as para Auschwitz

Para tanto, o nazismo deveria vetar a diversidade étnica em seu território, evitando que suas forças produtivas fossem conspurcadas pelas raças inferiores.

No campo político, o partido de Hitler era contrário a um regime político pluripartidário, embora admitisse atuar, em sua escalada para o poder, dentro da institucionalidade então vigente . 

Via as diferenças ideológicas entre os partidos como fomentadoras da desunião de uma nação que deveria estar engajada em ideais maiores. Pregava o descarte das liberdades democráticas para que prevalecesse um único partido, liderado por uma única autoridade (ele mesmo!) comprometida com a construção de uma nação soberana e que buscasse a hegemonia econômica e étnica. 

Entre outras prioridades, Hitler defendia enfaticamente a construção de um espaço vital para que a nação ariana pudesse cumprir seu destino.

O ideário nazista, prometendo prosperidade e o fim da miséria do povo alemão, alcançou grande popularidade com a crise de 1929. Os nazistas organizavam grandes manifestações públicas nas quais os ataques doutrinários e físicos ocorriam por onde passavam, tendo como alvos:
— os judeus, cujas lojas eram saqueadas ou incendiadas:
— os homossexuais, que tinham seus bares incendiados e cujos donos eram obrigados a vender seus estabelecimentos por preços vis, para não serem espancados e mortos impunemente; e
— os comunistas e democratas, vergastados com discursos de ódio sistematicamente repetidos como um mantra.
Soldados se exibindo: a Wehrmatch estava
excluída da intolerância com homossexuais?

Prometendo o fim das imposições do Tratado de Versalhes, os hitleristas pareciam querer para o povo alemão tudo de que ele mais precisava; em pouco tempo, o apoio popular assim obtido levou grupos empresariais a financiarem o Partido Nazista e suas propostas absolutistas.

Como vimos no capítulo anterior desta série, o partido tinha alcançado uma vitória expressiva nas eleições de 1933, conquistando 288 das 647 cadeiras do Poder Legislativo alemão. 

Hitler, que perdera as eleições presidenciais de 1932 para o marechal Hindenburg, deu a volta por cima no ano seguinte: sitiado, o velho militar finalmente cedeu, empossando Hitler como chanceler. 

Pouco tempo após a morte de Hindenburg, Hitler aplicou com êxito sucessivos golpes políticos, que lhe deram o controle absoluto da Alemanha. Tornou-se o führer, detentor do poder supremo, superior a todo e qualquer outro poder que se lhe tentasse antepor.

O resta da história nós já sabemos.  

Há muitas semelhanças com o que aqui ocorreu desde 2013, com reflexos graves em 2018, mas, felizmente, o Brasil e o capitalismo na sua fase de declínio já não comportam fantasias tresloucadas de tiranos destrambelhados. 

2022 e anos seguinte, prenhes de crises econômicas e climáticas prometem muitos rebuliços. Aguardemos. (por Dalton Rosado)
Hess supôs que conseguiria sozinho acabar com a
guerra: sua presunção lhe valeu 46 anos de prisão
.
* Outro dos fundadores do Partido Nazista, Rudolf Walter Richard Hess (1894-1987) recebeu em 1933 de Hitler a recompensa por sua fidelidade desde os primeiros momentos, sendo nomeado vice-führer.
Ou seja, passou a ser o terceiro homem mais poderoso do país, atrás de Hitler e Göring, tendo redigido grande parte da legislação da era nazista, inclusive as Leis de Nuremberg de 1935, que suprimiram os direitos dos judeus. 
Contrário à guerra com a Inglaterra, pela qual nutria certa simpatia, e visivelmente abalado tanto com as pressões que aumentavam cada vez mais devido ao conflito, quanto com as constantes intrigas e disputa de poder no seio do núcleo duro nazista (do qual estava sendo alijado), em 1941 voou sozinho e pousou de pára-quedas na Escócia.
Supondo que seria recebido por Winston Churchill, pretendia negociar uma trégua. Mas, sem o aval de Hitler para tal intento, não foi considerado interlocutor habilitado. 
Preso e humilhado, fracassou numa tentativa de suicídio e permaneceu preso até o fim da vida. Foi condenado à prisão perpétua pelo Tribunal de Nuremberg e só saiu da prisão berlinense de Spandau para o sepultamento: enforcou-se aos 103 anos de idade! 
 Dalton Rosado e Graça Santos juntos: ele compõe, ela interpreta 

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