terça-feira, 30 de novembro de 2021

A ESTRELA SOLITÁRIA BRILHA DE NOVO NA DIVISÃO DE ELITE DO FUTEBOL BRASILEIRO

dalton rosado
A RESSURREIÇÃO DO BOTAFOGO
Nasci no Rio Comprido, bairro pobre da zona Norte da Cidade Maravilhosa, e lá vivi a primeira infância.

O Rio de Janeiro era a cidade cultural do país e sede do Governo Federal nos anos 50, os chamados anos dourados do pós-guerra. Minha mãe, uma nordestina arretada, falava do Rio como quem fala do paraíso. 

Naquele tempo a maior malandragem era vender o Pão de Açúcar com bondinho e tudo aos caipiras ricos que vinham conhecer a capital federal.

Pré-adolescência em Belo Horizonte e adolescência em Mossoró, Rio Grande do Norte, terra da minha mãe (dos 10 aos 20 anos).
Meu pai era mineiro de Mariana e eu moro há 51 anos em Fortaleza, cidade que me acolheu e na qual construí minha história pessoal já longeva. Sou a síntese da brasilidade de que falou Chico Buarque numa de suas belas canções. 

Aprendi a gostar do Botafogo ainda na adolescência. Eis os ingredientes que me faziam admirá-lo:
— não era um time da elite carioca, nem estava entre os mais ricos; 
— não possuía a maior torcida, mas era muito teimoso no enfrentamento dos poderosos Flamengo, Fluminense e Vasco. 

Sempre tive a mania de ficar do lado dos aparentemente mais fracos e o Botafogo era o mais modesto dentre os quatro maiorais em termos financeiros. 

O Fluminense era o clube da fina flor da sociedade carioca, muito refinado para o meu coração plebeu. Dizem que por lá, após uma derrota, os torcedores ricos iam dançar valsas e polcas e comer quitutes nas Laranjeiras. O apelido de pó de arroz vem daí. 

Acho que o Vasco, por ser o time que mais cedo aceitou jogadores de ascendência africana em seu elenco. seria o segundo na minha simpatia. 
O ataque demolidor de 1962, da esq. p/ a dir.:
Garrincha, Didi, Amarildo, Quarentinha e Zagallo.
Mas, era impossível eu não gostar daquele time de 1962 (quando eu tinha 12 anos): 
— cuja linha era composta por Garrincha, Didi, Quarentinha, Amarildo e Zagalo;
— que na defesa tinha a enciclopédia do futebol que atendia pelo nome de Nilton Santos; 
— e que no contava com a coragem de Manga, o goleiro que defendia os arremates pegando a bola com uma única mão. 

Este último,  grande pernambucano que depois foi campeão brasileiro e brilhou mundo afora, ficou marcado por, como reserva de Gylmar dos Santos Neves na Copa do Mundo de 1966, ter sido o titular logo na partida das oitavas de final que decidiria a vaga (Gylmar atuara na vitória contra a Bulgária e na derrota diante da Hungria). Manga e todo o escrete jogaram mal e os portugueses nos despacharam para casa: 3x1.  

Os embates na década de 1960 com o Santos de Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe, que juntos formavam o ataque da seleção brasileira de então, ficaram na memória futebolística brasileira como espetáculos de rara arte e alegria. Pelé como o rei e Garrincha como a alegria do povo.  

Mesmo antes de ver quatro de seus jogadores se tornarem campeões mundiais nas copas de 1958 e 1962, o Botafogo já tinha história. 
Manga, hoje com 84 anos, foi o primeiro ex-jogador aceito
no Retiro dos Artistas do RJ, para veteranos empobrecidos
 

Fora tetracampeão do Rio de Janeiro de 1932 a 1935, com um time que tinha o brilhante Carvalho Leite e Patesko. 
Depois veio Heleno de Freitas, um fenômeno de elegância e categoria, bem como Paulo Valentim, da estirpe dos craques brasileiros que logo se situariam entre os melhores do mundo. 

[Só que ainda não sabíamos disso e sofríamos com o complexo de vira-latas, expressão cunhada por Nelson Rodrigues e sua sensibilidade arguta.]

Pelé e Garrincha em 1958, com o esquete de ouro, nos colocou no patamar que deveríamos estar perante o mundo (bola para isto já tínhamos há muito tempo). 

Uma nova leva de craques surgiu no final dos anos 60: Jairzinho, Gerson, Rivellino, Rogério, Zequinha, Paulo César Caju. 

[Foi este último que o carrasco Médici quis vetar ainda nas eliminatórias do Mundial Fifa de 1970, talvez porque o apelido caju se devesse à sua admiração pelos panteras negras, movimento revolucionário estadunidense, que o fez tingir seu cabelo de vermelho, algo inusitado na época.

João Saldanha, botafoguense de quatro costados e simpatizante comunista, ousou mantê-lo no escrete, dizendo que não dava palpite quando o presidente escalava seus ministros nem aceitava palpite ao escalar seus jogadores; e que o Paulo César Lima poderia não servir como genro, mas serviria para trazermos definitivamente a Jules Rimet (taça que, adiante, vergonhosamente deixaríamos larápios furtarem da sede da CBF).]  
Na sua última grande exibição pelo Botafogo, em 15/12/1962, Garrincha
foi o herói da decisão carioca: marcou 2 gols e de um centro seu saiu o 3º
Muitos outros sequenciaram a galeria de craques do Botafogo como o prezado amigo Afonsinho, Valtencir, Marinho Chagas, Mendonça, Donizeth Pantera, Túlio Maravilha, Leônidas, Gonçalves, Maurício, etc., etc., etc.  

O Botafogo sempre foi celeiro das vitoriosas seleções brasileiras e alguma coisa me diz que voltaremos a ganhar quando o Botafogo novamente forjar grandes craques nas suas fileiras. 

Ressurgimos das cinzas e o botafogo está embalado, viu? (por Dalton Rosado)
Homenagem ao título do glorioso, com letra e música do Dalton

Um comentário:

Anônimo disse...

Bela homenagem ao seleiro de craques que sempre foi o Botafogo,mas só fazendo um adendo, João Saldanha era botafogo e gremista,torcia pelos dois clubes,grande João sem medo, natural de Alegrete RS,grande abraço e parabéns pelo texto.

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