quarta-feira, 20 de outubro de 2021

MARIA RESSA E SEU PRÊMIO NOBEL DA PAZ EM PLENA GUERRA DA INFORMAÇÃO – 2

(continuação deste post)
N
um artigo divulgado no início de 2021, Maria Ressa faz uma análise do que ocorre nas redes sociais, perfeitamente adaptável às redes sociais brasileiras:
"As plataformas de redes sociais que publicam notícias são tendenciosas contra os fatos, contra os jornalistas, contra comentários sérios. Elas estão nos separando e nos radicalizando. 

Não se trata de liberdade de expressão. Não é culpa dos que utilizam as redes sociais. Essas plataformas não são simplesmente o espelho da humanidade. Eles nos transformam no pior de nós mesmos, criando um comportamento emergente que se alimenta com a violência, com o medo, a insegurança, e permite a escalada do fascismo".
Maria Ressa se refere à influência das fake news no nosso cotidiano e na nossa maneira de agir e de pensar. As fake news são notícias falsas ou tendenciosas fabricadas e difundidas voluntariamente pela Internet, com o objetivo de induzir ao erro. 

Como uma espécie de câncer informativo, essas notícias conspirativas, de fundo político ou religioso, começaram, faz alguns anos, a invadir o espaço da mídia, de rádios, canais de TV, jornais e imprensa online. 

Propagam-se rapidamente e muitas vezes se impõem, pois nem todos têm acesso a uma pluralidade de informações ou de meios que os torne capazes de detectar mentiras. 

Nos EUA, houve mesmo uma uberização de notícias falsas sobre o coronavírus, umas minimizando os riscos e outras amedrontando a população. Ainda hoje, uma grande parcela da população estadunidense recusa a vacina com base nas mentiras difundidas.

Nem sempre os gigantes das redes sociais conseguem controlar o fluxo de notícias falsas e desativar as contas difusoras de fake news

O caso mais notório nos EUA foram os milhares de tuítes lançados nas redes sociais pela conta do então presidente Donald Trump.

Com base nisso, Trump insuflou a rejeição à vacina e disseminou a teoria da fraude, caso não fosse eleito. 

Bolsonaro, sem muita imaginação, copiou a fórmula trumpista de difusão de fake news contra a vacina e lançou com mais de um ano de antecedência a suspeita de fraude nas eleições de 2022.

A supressão desse tipo de conta não é fácil e nem sempre as empresas que controlam essas plataformas, Facebook, Youtube, Telegram, etc., consideram ser sua responsabilidade executar esse tipo de vigilância. 

Geralmente tais contas, como tem acontecido no Brasil, são suprimidas só por decisão judicial. O baixo nível de instrução da população é um dos fatores favoráveis à disseminação das notícias falsas, por serem diferentes e fantasiosas; pesquisas revelam serem os idosos, talvez porque ficam mais tempo no computador ou celular, os maiores propagadores das fake news.

Existe praticamente uma espécie de indústria da fabricação e reprodução das fake news. A propagação rápida dessas notícias falsas ou tendenciosas pode ser acelerada pelas detentoras das plataformas e existe mesmo a possibilidade de serem turbinadas mediante pagamento.

No Brasil, praticamente em todas as redes sociais lançadoras de fake news, que permitiram a eleição e agora sustentam o governo Bolsonaro, os investimentos foram de milhões de reais. Uma reduzida parcela desse custo é ressarcida pela monetização ou pagamento por publicidades inseridas no corpo das fake news que transitam pela Internet.

E tudo isso é facilitado com o uso de algoritmos pelas grandes empresas controladoras das redes sociais. Os algoritmos permitem a qualificação massificada das pessoas, de maneira automatizada. Noutras palavras, possibilitam o direcionamento das informações segundo os grupos de pessoas, suas preferências, idades, condições de vida, etc., tudo isso numa velocidade vertiginosa.

É assim que funcionam as redes sociais que infestam nossos computadores e celulares. Basta uma vista d’olhos para os títulos falaciosos que chegam para se perceber que são notícias distorcidas, fabricadas nas usinas de mentiras. 

São esses algoritmos que, desconhecendo esquerda ou direita, fascismo ou nazismo, mentiras ou verdades, ajudam a manter Bolsonaro no poder. (por Rui Martins)

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