ricardo kotscho
NEM GOLPE NEM IMPEACHMENT:
ACORDÃO DEIXA BOLSONARO SOLTO
"O Brasil virou uma outra coisa que ninguém sabe bem
o que é" (Washington Olivetto, autoexilado em Londres)
O medo dele era ser preso, mas Bolsonaro e seus generais ficam onde estão, garante o grande acordão costurado entre os Poderes, sob as bênçãos de Michel Temer, o golpista que virou pacificador. A Faria Lima respira aliviada.
Este é o trágico resumo da Semana da Pátria.
Na ponta do lápis, ainda faltam 474 dias para essa agonia acabar, com a posse de um outro presidente, qualquer um, se deixarem ter eleições e respeitarem o resultado.
Depois do fracasso do autogolpe e da carta de rendição ao Judiciário assinada por Jair Bolsonaro, não se fala mais em impeachment nem em qualquer punição pelos crimes em série cometidos pelo capitão no levante do 7 de setembro.
"Perdoá-lo seria como soltar o curandeiro João de Deus se ele pedisse desculpas às dezenas de mulheres que violentou", escreve hoje Ascânio Seleme em sua coluna no Globo.
Mas o ministro Gilmar Mendes, do STF, acha que "é preciso acreditar na boa fé de Bolsonaro". Quem, em sã consciência, ainda pode acreditar nisso? Parece brincadeira...
Deixamos de ser uma democracia no golpe de 2016 e ainda não somos uma ditadura.
Aquele Brasil que o amigo Washington Olivetto, em boa hora, deixou para trás, não existe mais. Não somos mais nada aos olhos do mundo.
É tudo tão desalentador que os mesmos grupos responsáveis pela chegada de Bolsonaro ao poder vão protestar contra ele na avenida Paulista, neste domingo 12, num comício da patética terceira via, que busca desesperadamente um candidato.
Se depender deles, o presidente pode dormir tranquilo, depois de dias de insônia.
O fato é que hoje não temos nem governo nem oposição, nenhum projeto de país, qualquer esperança de que as coisas possam mudar tão cedo. Vamos nos arrastando, apenas tentando sobreviver, um dia de cada vez.
Resta apenas o vazio e a lembrança das quase 600 mil vítimas desta insanidade; da destruição da Amazônia; da educação e da cultura, entregues a um bando de bárbaros saqueadores, cafajestes que declararam guerra ao próprio país, onde o presidente faz acordos até com um tal de Zé Trovão, homiziado no México, para segurar-se na cadeira e não ser atropelado pelos caminhoneiros.
Aonde foi parar o Brasil feliz e confiante que existia aqui, admirado pelo mundo, não faz muito tempo, onde não se vivia sobressaltado com o medo do amanhã, como nos tempos da ditadura militar, tão exaltada pelos atuais ocupantes do poder?
A semana que termina apenas aumentou a incerteza sobre o nosso futuro.
Qual Brasil sobreviverá até as próximas eleições?
Quanto tempo levará para reconstruir o país?
Não dá para ficar batendo palmas para ver louco dançar à beira do abismo e achar que tudo isso é normal.
Perdão pelo desabafo, mas também não dá pra ficar com o grito preso na garganta.
Bom fim de semana.
Vida que segue. (por Ricardo Kotscho)
Toque do editor – Incomoda-me ver um bom homem e uma lenda viva do jornalismo brasileiro tão desconsolado. Mas, como convencê-lo de que os acontecimentos históricos não são determinados apenas pelo que está à vista de todos, como o blefe ridículo e o recuo vergonhoso do Bozo na sua palhaçada de Dia da Pátria?
Nunca se sabe o exato momento em que os cidadãos não aguentarão mais as condições subumanas de vida que lhes estão sendo impostas e explodirão em revolta, como as que pipocaram por tantos países no final da década passada.
O certo é que o Brasil está cada vez mais perto de um desses momentos, pois há gente demais sofrendo demais com a depressão econômica que eterniza-se sem perspectiva nenhuma de melhora sob o genocida louco.
Não precisa ficar contando os dias que faltam até 1º de janeiro de 2023, meu caro Kotscho. O desfecho do drama virá muito antes, apesar da tibieza e pusilanimidade dos atores políticos e empresariais que preferem esticar o elástico ao máximo antes de agir.
Acabarão sendo obrigados a fazê-lo no sufoco, quando se virem ameaçados de perder não só os os anéis, mas também os dedos e todo o resto. E ainda ficarão com as caras marcadas pelo estouro dos elásticos... (por Celso Lungaretti)
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