dalton rosado
O FIM DO MUNDO QUE NÓS CONHECEMOS
Há momentos que condensam toda uma história pretérita, anunciando o seu fim e abrindo espaço para uma nova concepção de relações sociais.
Vivemos perceptivelmente tal momento, com um agravante nunca antes experimentado: uma crise ecológica planetária. Assim, à falência do modelo social atual soma-se uma desafio ecológico que coloca em xeque a própria sobrevivência da humanidade.
Se quisermos considerar como início da história geral mais recente do ocidente podemos citar o surgimento e a queda do Império Romano, que durou meio milênio (de 27 a.C. a 476 d.C., marcando uma etapa importante da evolução da humanidade.
Foi graças aos seus embates militares e religiosos (cristãos monoteístas) e ao surgimento dos conceitos jurídicos como forma de doutrinação e introjeção mental de uma ordem escravista que tentava consolidar o injusto como justo (o Direito romano, que é a base de nossa legislação civil adaptada à realidade do capitalismo decadente do século 21), que começamos a história dita moderna.
Mais tarde vieram os momentos da implantação e consolidação por séculos das monarquias feudais, ciclo que durou até o século 18, no qual floresceu vitoriosa, apesar das marchas e contramarchas, e como contraponto ao obscurantismo religioso da Idade Média, a doutrina iluminista (assim denominado porque seus princípios doutrinários visavam dar luz aos movimentos contra os preconceitos opressores e as práticas escravistas da idade das trevas).
Os fisiocratas e o poder aristocrático cediam espaço ao poder mercantilista dos burgueses em ascensão nos burgos, que cada vez mais se ampliavam em face do incremento comercial.
Podemos dizer que o advento do capitalismo, como modo de relação social marcado pela evolução de mediação social pela forma-valor e suas formatações políticas, iniciou-se por volta do século 16, terminando por abranger todos os poros das sociedades mundiais (ainda que com modelos políticos diferenciados).
Mas agora encontrou o seu ponto histórico de saturação, representado pela inadequação entre forma e conteúdo sociais.
A cada mudança do modo de produção social imposto pela dialética do movimento das relações humanas corresponde uma ebulição social que reduz a fumaça o regime caduco, tal qual a água numa chaleira ao chegar o ponto de fervura, se transforma em fumaça e dá lugar a uma nova forma, não sem antes matar ou modificar as substâncias que estão no seu interior.
As ebulições sociais são próprias às transformações dos modos sociais de produção, e são estes últimos que definem o político, e não o contrário. Trata-se da contenda entre o velho carcomido que resiste em desaparecer e o novo que força a passagem tal qual uma semente em solo asfáltico rachado pelas águas da chuva.
...mas amiúde as armas do passado sangrento prevalecem. |
São as dores do parto, se quisermos usar uma metáfora com o momento doloroso e bonito de uma mulher dando luz a uma criança encoberta pelas substâncias do líquido amniótico e do sangue do parto.
Vivemos um desses momentos nos quais os acontecimentos se agudizam de um modo que a cada passo para trás corresponde dois passos para a frente.
O que dizer da repetição de um acontecimento histórico tão marcante como a saída dos militares dos Estados Unidos do Vietnã, com milhares de jovens soldados mortos numa guerra que não lhes dizia respeito (aliás nenhuma guerra diz respeito a ninguém, como corretamente afirmou Muhammad Ali em sua recusa de matar vietcongues), às pressas e humilhados? Quem esperava que o desfecho no Afeganistão acabasse sendo tão parecido ?
Se devemos condenar as práticas do Talibã de retrocessos civilizatórios fundamentalistas religiosos como inaceitáveis, não devemos deixar de analisar as condições que estão subjacentes a uma força militar que consegue recrutar combatentes fanáticos e ganha de um exército nacional de moral baixa, equipado e financiado pelo Tio Sam.
Quando aqui no Brasil condenamos a adesão de milhares de meninos ao tráfico de drogas e práticas criminosas que abominamos, com razão, mas não podemos deixar de considerar as condições de opressão e carência absurda representada por modos de vida aviltantes desses mesmos jovens e de suas famílias.
Ainda no Brasil, vemos os sujos falando dos mal lavados. Se é certo que o processo eleitoral tem lisura no seu controle de apuração eletrônica, é certo, também, que os deputados são eleitos, em sua esmagadora maioria, pelo cabresto político e econômico dos grotões brasileiros.
Quantas vezes já vimos estas retiradas deprimentes? |
A questão não é de forma, mas de conteúdo. (por Dalton Rosado)
(continua neste post)
Um comentário:
Uno scritto di Friedrich Engels 1857 per la New American Cyclopoedia
https://www.4shared.com/office/gjbCGHLOiq/La_trappola_dellAfghanistan_18.html
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