terça-feira, 17 de agosto de 2021

SE TANTOS PAÍSES PADECEM DAS MESMAS DIFICULDADES EM GRAU MAIOR OU MENOR, CULPE-SE O MODELO NELES ADOTADO – 1

dalton rosado
O FIM DO MUNDO QUE NÓS CONHECEMOS
Há momentos que condensam toda uma história pretérita, anunciando o seu fim e abrindo espaço para uma nova concepção de relações sociais. 

Vivemos perceptivelmente tal momento, com um agravante nunca antes experimentado: uma crise ecológica planetária. Assim, à falência  do modelo social atual soma-se uma desafio ecológico que coloca em xeque a própria sobrevivência da humanidade. 

Se quisermos considerar como início da história geral mais recente do ocidente podemos citar o surgimento e a queda do Império Romano, que durou meio milênio (de 27 a.C. a 476 d.C., marcando uma etapa importante da evolução da humanidade.

Foi graças aos seus embates militares e religiosos (cristãos monoteístas) e ao surgimento dos conceitos jurídicos como forma de doutrinação e introjeção mental de uma ordem escravista que tentava consolidar o injusto como justo (o Direito romano, que é a base de nossa legislação civil adaptada à realidade do capitalismo decadente do século 21), que começamos a história dita moderna.   

Mais tarde vieram os momentos da implantação e consolidação por séculos das monarquias feudais, ciclo que durou até o século 18, no qual floresceu vitoriosa, apesar das marchas e contramarchas, e como contraponto ao obscurantismo religioso da Idade Média, a doutrina iluminista (assim denominado porque seus princípios doutrinários visavam dar luz aos movimentos contra os preconceitos opressores e as práticas escravistas da idade das trevas).

Os fisiocratas e o poder aristocrático cediam espaço ao poder mercantilista dos burgueses em ascensão nos burgos, que cada vez mais se ampliavam em face do incremento comercial. 
O iluminismo nos permitiu sonhar com um estágio superior de civilização...
Podemos dizer que o advento do capitalismo, como modo de relação social marcado pela evolução de mediação social pela forma-valor e suas formatações políticas, iniciou-se por volta do século 16, terminando por abranger todos os poros das sociedades mundiais (ainda que com modelos políticos diferenciados). 

Mas agora encontrou o seu ponto histórico de saturação, representado pela inadequação entre forma e conteúdo sociais.

A cada mudança do modo de produção social imposto pela dialética do movimento das relações humanas corresponde uma ebulição social que reduz a fumaça o regime caduco, tal qual a água numa chaleira ao chegar o ponto de fervura, se transforma em fumaça e dá lugar a uma nova forma, não sem antes matar ou modificar as substâncias que estão no seu interior. 

As ebulições sociais são próprias às transformações dos modos sociais de produção, e são estes últimos que definem o político, e não o contrário. Trata-se da contenda entre o velho carcomido que resiste em desaparecer e o novo que força a passagem tal qual uma semente em solo asfáltico rachado pelas águas da chuva.
...mas amiúde as armas do passado sangrento prevalecem.

São as dores do parto, se quisermos usar uma metáfora com o momento doloroso e bonito de uma mulher dando luz a uma criança encoberta pelas substâncias do líquido amniótico e do sangue do parto. 

Vivemos um desses momentos nos quais os acontecimentos se agudizam de um modo que a cada passo para trás corresponde dois passos para a frente.

O que dizer da repetição de um acontecimento histórico tão marcante como a saída dos militares dos Estados Unidos do Vietnã, com milhares de jovens soldados mortos numa guerra que não lhes dizia respeito (aliás nenhuma guerra diz respeito a ninguém, como corretamente afirmou Muhammad Ali em sua recusa de matar vietcongues), às pressas e humilhados? Quem esperava que o desfecho no Afeganistão acabasse sendo tão parecido ?

Se devemos condenar as práticas do Talibã de retrocessos civilizatórios fundamentalistas religiosos como inaceitáveis, não devemos deixar de analisar as condições que estão subjacentes a uma força militar que consegue recrutar combatentes fanáticos e ganha de um exército nacional de moral baixa, equipado e financiado pelo Tio Sam.

Quando aqui no Brasil condenamos a adesão de milhares de meninos ao tráfico de drogas e práticas criminosas que abominamos, com razão, mas não podemos deixar de considerar as condições de opressão e carência absurda representada por modos de vida aviltantes desses mesmos jovens e de suas famílias.

Ainda no Brasil, vemos os sujos falando dos mal lavados. Se é certo que o processo eleitoral tem lisura no seu controle de apuração eletrônica, é certo, também, que os deputados são eleitos, em sua esmagadora maioria, pelo cabresto político e econômico dos grotões brasileiros.
Quantas vezes já vimos estas retiradas deprimentes?

Assim, a questão não é se discutir se o voto é auditado, impresso ou não (uma mera cortina de fumaça bolsonarista), mas analisarmos o que representa um processo pretensamente representativo que delega poderes a bandidos travestidos de representantes do povo, com salários e prerrogativas indecentes se considerarmos remuneração média dos assalariados de baixa renda, a grande maioria.

A questão não é de forma, mas de conteúdo. (por Dalton Rosado)
(continua neste post)

Um comentário:

Anônimo disse...

Uno scritto di Friedrich Engels 1857 per la New American Cyclopoedia
https://www.4shared.com/office/gjbCGHLOiq/La_trappola_dellAfghanistan_18.html

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