dalton rosado
A ECONOMIA BRASILEIRA, HOJE
o que está acontecendo" (Julian Assange)
Há que se fazer uma análise criteriosa, sem facciosismo, sobre uma certa euforia que tomou conta dos adeptos do boçalnarismo, por conta do resultado do PIB do primeiro trimestre do Brasil, fixado em 1,2%.
A ansiedade dos economistas e donos do capital no sentido da recuperação econômica que lhes garantiria a manutenção de lucros empresariais e financeiros, ainda que isto não representasse melhoria considerável e generalizada na vida dos explorados pelo capital, é o que faz com que, a cada dado minimamente positivo surgido, logo haja uma nova projeção de crescimento do PIB anual. Até agora, elas têm sido sempre desmentidas pela realidade.
A primeira coisa a se considerar é que percentagem se trata de um número relativo a alguma coisa, e não número absoluto. Quando se tem, p. ex., um prejuízo de 50% sobre uma unidade de 1.000, e se vê reduzida tal unidade para 500 unidades, daí em diante, caso se obtenha um superávit de 10% sobre a base de 500, o aumento é de 50 unidades, o que significa que o prejuízo será, ainda, de 45% sobre a base inicial.
O Brasil está amargando dados negativos sob o governo do Boçalnaro, o ignaro. Após um aumento do PIB de 1,0% no seu primeiro ano de governo (menor do que os 1,1% de 2018, sob o presidente temerário), tivemos uma queda de 4,1% do PIB no ano de 2020, e as projeções otimistas (como sempre) para este ano de 2021, que chegam até a 5,0% ao ano, não são consistentes, a menos que fatores imprevisíveis venham socorrer estes profetas capitalistas.
O que está a ocorrer é que, após uma profunda depressão de preços das commodities, tanto as metálicas, como, principalmente, as agrícolas, todas registraram subida de preços relativos no mercado internacional.
O Brasil, país que não produz nem vende mercadorias tecnológicas no nível que faz a hegemonia das nações ricas (e a prosperidade dos poucos ricos das ditas cujas, proporcionalmente falando), é, de fato, um grande produtor agrícola, daí o crescimento do PIB no primeiro trimestre, sem que isto acarrete uma maior oferta de emprego.
Melhoram as finanças em receitas de exportação, mas isto não implica despiora do padrão salarial dos brasileiros, de vez que a alta mecanização da produção agrícola caminha no inverso da empregabilidade.
O mesmo acontece com as chamadas commodities metálicas. Os minerais também tiveram alta nos preços internacionais, e o petróleo, combustível fóssil, vem acompanhando a tendência de alta relativa de preços.
Setores de alta empregabilidade como a construção civil, que implica o uso de mão-de-obra menos qualificada e não pode ser substituída facilmente por máquinas (ainda que haja cada vez mais o uso de pré-moldados, concretos e tijolos fabricados tecnologicamente), está estagnado no atual governo simplesmente porque não há uma política habitacional popular em curso.
Ademais, a alta da inflação de preços, principalmente dos alimentos (componente expressiva no orçamento familiar de baixa renda), impede que um trabalhador, mesmo empregado, tenha condição de arcar com os altos custos do financiamento de longo prazo da casa própria.
Esta é a razão de estarmos observando um acentuado processo de favelização no Brasil, em meio a um comprovado pauperismo dessa mesma população nos últimos dois anos e meio de desgoverno.
Por seu turno, a internalização de dólares em razão da melhora na balança de pagamentos pela alta das exportações com relação às importações, produz uma queda acentuada do dólar, pari passu à concomitante emissão desenfreada e sem lastro desta moeda nos Estados Unidos pelo FED, sob o governo de Joe Biden.
Entretanto, mesmo com a queda do dólar dos EUA relativamente ao nosso real, a verdade é que perdemos competitividade nas exportações e, assim, o que à primeira vez pode parecer 100% positivo, tem, também, o seu lado negativo, uma vez que em economia tudo tem efeito colateral numa conta que nunca fecha, e que é sempre paga pelos que pouco ou nada têm.
Estamos amargando a volta da inflação, que corresponde ao maior confisco da salário do capitalismo, e que somente beneficia os que podem dela se aproveitar: o detentores do capital.
A nossa taxa Selic tem acompanhado a alta dos preços e isto significa que, com juros mais caros, tanto aumenta a nossa conta de juros a serem pagos aos nossos credores com contratos a ela atrelados, como o dinheiro fica mais caro para os empreendedores, circunstância que contraria o otimismo inconsistente dos profetas da prosperidade capitalista.
Novamente são os rentistas que se beneficiam com a alta dos juros, já que o capital trabalha para eles enquanto eles dormem seus sonos tranquilos e sonham com carneirinhos se multiplicando enquanto descansam.
Numa análise macroeconômica de prazo mais abrangente, e que não se restringe apenas a um trimestre relativamente positivo, estamos a constatar:
— aumento no nível de desempregados, principalmente entre o segmento terciário da economia, o de serviços, o qual apresenta números discrepantes com relação àqueles provocados pelos aumentos dos preços das commodities (o governo Lula também surfou nesta onda até morrer na praia com Dilma Rousseff), enquanto o auxílio emergencial de pouca monta se mostra suficiente para aplacar a miséria que se instala fortemente entre os desempregados;
— temos, segundo o IBGE, uma acentuada queda no consumo e renda das famílias brasileiras, com o consequente ascenso de todas as mazelas sociais daí decorrentes (miséria insuportável e escalada da criminalidade sob suas várias formas).
Todo o cenário é de dificuldades para os assalariados, que em nada se beneficiam com as aparentes melhoras apregoadas em razão do crescimento circunstancial e fora da curva do PIB brasileiro no primeiro trimestre de 2021.
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