domingo, 6 de junho de 2021

ELE COMEÇOU APANHANDO BOLAS PARA OS TENISTAS, TORNOU-SE O MAIOR DE TODOS, MAS CONTINUA UM ETERNO APRENDIZ

"...pouco vai importar, daqui a uma década, que Dominik Koepfer era o #59 do mundo e que a apresentação de Roger Federer num sábado à noite, sem público, valia apenas um lugar nas oitavas de Roland Garros fase que o suíço alcançou 67 vezes antes em torneios do grand slam durante sua longa carreira. 

Quando tudo acabar, o que vou lembrar é que um cidadão de 39 anos, pai de quatro filhos, vindo de duas cirurgias no joelho, sem jogar um torneio em melhor de cinco sets há quase um ano e meio, fez um pequeno milagre para vencer uma partida de 3 horas e 35 minutos que terminou quase à 1h da manhã. 

Não foi pelo prêmio em dinheiro. Os 170 mil euros de premiação pela vaga nas oitavas mal fazem cócegas em sua conta bancária (e tênis não paga adicional noturno!). 

Não foi pela motivação da torcida nem para agradar a fãs barulhentos e/ou semiebriagados. Por conta do toque de recolher em vigor em Paris, a partida foi disputada com a Quadra Philippe Chatrier vazia. 

E, obviamente, não foi pelo prazer de competir num saibro pesadíssimo, com a umidade lá no teto e condições de jogo lentíssimas. 

Sir Andy Murray, vendo o jogo, sentiu-se compelido a escrever. "É inspirador para mim. Faça o que você ama." A frase, além de explicar por que o próprio britânico ainda não se aposentou apesar de ter sofrido um problema gravíssimo no quadril, diz bastante sobre o que separa os grandes do resto.

Mesmo onde ele sabe que não tem chances de ser campeão, mesmo fazendo hora extra, mesmo perdendo uma partida que podia facilmente entrar pela quinta hora de jogo, Roger Federer não cogitou desistir de brigar. 

Ficou. Lutou contra o rival, contra seus próprios erros (e foram 63 deles!), contra o corpo e contra o silêncio. 

Sem a torcida que sempre esteve a seu lado para empurrá-lo, o cidadão encontrou uma maneira de triunfar. Não porque precisava. Porque queria.

Num daqueles raros dias ruins, Roger Federer foi menos talento e mais coração. É desses momentos do suíço que vou lembrar enquanto viver. 

Isso, caros leitores, é grandeza em seu estado puro. (por Alexandre Cossenza, na coluna Saque e Voleio do UOL)
Toque do editor – Como o Cossenza, o Andy Murry e (até) eu notamos, o Federer fez mesmo um esforço excessivo, mas, passada a empolgação da partida, tomou a decisão cabível nas circunstâncias, conforme explica nesta nota:
"Após conversar com meu time, decidi que precisarei me retirar de Roland Garros hoje. Após duas cirurgias no joelho e mais de um ano de reabilitação, é importante escutar meu corpo e garantir que não vou me forçar demais, muito rápido, no caminho para a recuperação. 

Estou feliz por ter conseguido disputar três partidas. Não há sensação melhor do que estar em quadra".

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