COVAXIN CONSOLIDA PAZUELLO COMO BOI DE PIRANHA
Escondido atrás da escrivaninha de secretário de Estudos Estratégicos há um mês, Eduardo Pazuello está prestes a retornar à boca do palco.
Pretende-se que ele exerça o papel para o qual Bolsonaro o considera mais qualificado: o general será utilizado novamente como boi de piranha, para tentar evitar que o chefe seja enquadrado no crime de prevaricação no Caso Covaxin.
Boi de piranha é aquele bicho que é jogado no rio para ser comido enquanto o resto da manada passa. Na encrenca da vacina indiana, o Planalto trombeteia a versão segundo a qual Bolsonaro, depois de ser informado sobre irregularidades no contrato pelo servidor Luís Ricardo Miranda e seu irmão, o deputado Luís Miranda, repassou a denúncia ao então ministro Pazuello.
De acordo com o Luis Miranda, Bolsonaro atribuíra as tramoias da Covaxin ao seu líder na Câmara, o deputado Ricardo Barros. E prometera acionar a Polícia Federal, não Pazuello.
De resto, a blindagem a ser fornecida pelo general desafiaria o calendário. Os Miranda estiveram com Bolsonaro em 20 de março. Cinco dias antes, em 15 de março, o presidente anunciara que o cardiologista Marcelo Queiroga assumiria o cargo de ministro da Saúde.
Pazuello permaneceu no ministério até 23 de março, dia em que transmitiu o cargo para Queiroga. Quer dizer: decorreram apenas dois dias entre o encontro de Bolsonaro com os Miranda, num sábado. e a saída de Pazuello, na terça-feira seguinte.
Pela lógica, o presidente encomendaria o saneamento do contrato de compra da Covaxin ao doutor que assumia a Saúde, não ao general que batia em retirada.
A CPI não parece disposta a digerir a versão oficial. Se Pazuello pular no rio, será mastigado pela comissão, que já aprovou a sua reconvocação. Falta apenas marcar a data. Amigos de Pazuello alertam para o perigo de assumir culpas alheias.
No caso Covaxin, a blindagem alcançaria também o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros, um entusiasta da variante indiana do mercado de vacinas.
A ocupação militar promovida por Pazuello na Saúde resultou em desastre. Mas no dia em que deixou o cargo, poderia ter saltado da frigideira em que Bolsonaro o fritou em sua própria gordura.
O general despediu-se atirando. Ao lado de Queiroga, declarou-se vítima de ação orquestrada de políticos que queriam pixulé. A alturas tantas, Pazuello declarou: "A operação de grana com fins políticos acontece aqui". Bastaria continuar nessa linha.
Se Bolsonaro quisesse caminhar na mesma direção, teria cumprido o compromisso assumido com os irmãos Miranda, chamando a Polícia Federa. Haveria um curto-circuito. Mas talvez não houvesse CPI.
Optou-se por sustar o pagamento antecipado de R$ 220 milhões por um lote de vacinas jamais entregue, mantendo inalterado o contrato micado de R$ 1,6 bilhão. Deu no que está dando. Pazuello engatou marcha a ré.
Hipnotizado pelo lema segundo o qual um manda e o outro obedece, o general tomou gosto pelo papel de boi de piranha do capitão. (por Josias de Souza)
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