O então presidente, que já ocupava o cargo havia quatro anos, tinha a pretensão de se perpetuar no poder e governar indefinidamente.
Mas, a Constituição do país determinava eleição a cada quadriênio e ele não pudera rasgá-la oficialmente, como queria.
Confiante de que o país estava se tornando o primeiro entre seus pares de toda a região e supondo que ganharia facilmente o pleito, aceitou submeter-se ao processo eleitoral. Afinal, deduzia, os seus intentos despóticos seriam mais facilmente concretizados com a legitimação do voto popular.
O seu desejo inconfessado era o de não desocupar o poder de maneira nenhuma. Mas, narcisista exacerbado, considerava-se o macho alfa capaz de seduzir o eleitorado como o fizera com todas as mulheres na sua trajetória de vida.
Levava em conta também o poder econômico e militar que detinha, aliado ao seu pretenso charme de homem midiático. De tudo isso lhe vinha a certeza de que o adversário com gosto de sopa de chuchu seria incapaz de o derrotar. Julgava-se imbatível
Convocou, portanto, eleições, renunciando ao tradicional aumento do tempo de mandato a partir de um decreto proposto por seus aliados no Senado, casa em que detinha maioria.
Tudo parecia estar indo bem, embora houvesse rumores de que a insatisfação na periferia do palácio presidencial e sede do governo, denominada Casa Amarela, ainda latente, começava a crescer perigosamente.
O inesperado, contudo, estava à espreita do presidente Ronaldo Topete (apelido que lhe adviera de sua vasta cabeleira).
Ele, vale acrescentar, era dono de um conglomerado de empresas de imobiliárias, turismo, hotelaria e de comunicação, mas costumava não pagar impostos dos seus lucros, aproveitando os limites de uma lei que ele mesmo apoiara no Congresso.
De repente, uma praga nos bananais da região comprometeu 90% da produção de bananas, que era a base da economia do seu país.
Além do mais, a pobreza das nações vizinhas, também atingidas pela praga, desconstruiu todo o discurso de pujança e prosperidade do Ronaldo Topete, alavancando a candidatura do oposicionista José Banana, que ressurgiu das cinzas e começou receber maciço apoio dos plantadores de bananas.
Durante os movimentos reivindicativos dos bananeiros, um policial mais afoito na proteção do princípios racistas e xenófobos do seu líder, repetindo o que sempre acontecia, quis mostrar serviço ao chefe e matou inadvertidamente um representante dos bananeiros, de forma cruel e covarde.
Assim, a crise econômica, aliada à praga agrícola e à revolta popular contra a truculência policial, minou aquilo que parecia um poder monolítico indestrutível, e as coisas começaram a ruir inexoravelmente.
A presidência do país, que procurava manter uma aura de isenção e imparcialidade debaixo de uma pomposa solenidade de poder, vendo seus atos e versões questionados, passou a mentir descaradamente, em flagrante contradição com a realidade dos fatos.
Veio a eleição e, surpreendentemente, o José Banana venceu as eleições por uma inesperada e confortável margem de votos.
O presidente Ronaldo Topete, que considerava a Casa Amarela como propriedade sua, reagiu tal qual qualquer menino rico ameaçado de ficar sem seu brinquedo predileto: declarou que a eleição havia sido fraudada e não respeitaria seu resultado.
É claro que a vitória do José Bananas, consumada nos variados locais de votação e sob a vigilância de todos, inclusive dos partidários do Ronaldo Topete, não podia ser contestada.
Mas a birra do presidente continuou, demostrando quão ridículas eras as suas fanfarronices, a tal ponto que conseguiu, com suas estapafúrdias teses conspiratórias, rachar a opinião dos próprios apoiadores.
Entretanto, ele tinha também seguidores tão obtusos quanto fanatizados, que se consideravam os mais autênticos dentre todos. E estes resolveram botar pra quebrar com bananas bem menos saudáveis (de dinamite), implodindo o processo eleitoral da república bananeira.
O resultado foi a morte de uma funcionária do governo baleada e de outros cidadãos por emergências médicas. Mas, mesmo com a transição do poder, não houve a prisão do Ronaldo Topete por conspiração contra a ordem democrática vigente, o que demonstrou cabalmente a fragilidade do verticalizado poder democrático-burguês na república bananeira.
Verificou-se, também, a vulnerabilidade da moeda nacional diante dos surpreendentes episódios de apego ao poder e a fragilidade da farsa democrática. O país entrou em depressão econômica profunda, gerando questionamentos sobre tudo o que ocorrera como prenuncio da fim de uma era bananeira. (por Dalton Rosado)
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