sábado, 12 de dezembro de 2020

POR INCRÍVEL QUE PAREÇA, O BOZO NÃO É TOTALMENTE INÚTIL: CONHEÇAM O USO QUE (TAPANDO O NARIZ) PODEMOS FAZER DELE

hélio schwartsman
A BÚSSOLA MORAL DE BOLSONARO
O Brasil tem a incrível capacidade de, retrospectivamente, transformar presidentes incompetentes em estadistas. 

Quando eu comecei no jornalismo, sob a gestão de José Sarney, que assumira o posto com a inflação em 242% e o entregou com ela em 1.973%, parecia impossível imaginar uma liderança pior que a dele, mas aí veio Fernando Collor de Mello e tive de reconsiderar.

Na comparação, o valentão alagoano nos fez sentir saudades do poeta maranhense. Jair Bolsonaro também consagra Dilma Rousseff, apesar de ela ter arruinado a economia e tolerado corrupção.

Bolsonaro, porém, tem uma peculiaridade que o distingue de outros maus presidentes. Ele se revela um desastre não só na condição de gestor mas também nos aspectos simbólicos do cargo.

Presidentes desempenham sempre dois papeis:
  1. precisam ser capazes de montar uma equipe de governo que entregue resultados; 
  2. mas também exercem influência pelos exemplos que dão e pela forma como se posicionam diante das grandes questões que se apresentam para o país –algo que antigamente chamávamos de bússola moral.
A pandemia dá especial relevo ao segundo papel. Enquanto líderes de outros países se desdobram para conseguir vacinas e fazem questão de ser os primeiros a receber a injeção diante das câmeras, Bolsonaro não cessa de dar declarações que diminuem a gravidade da epidemia, aparece quase sempre sem máscara e ainda sabota iniciativas de imunização planejadas por rivais.

Parte da população, em especial seus simpatizantes, imita suas atitudes. Um bom exercício acadêmico para os próximos anos será estimar qual o excesso de mortes que pode ser atribuído ao gestual do presidente.

Mas talvez eu exagere nas críticas a Bolsonaro. Ele, afinal, continua funcionando como uma bússola moral. 

Desde que se saiba que é uma com os polos invertidos, dá para orientarmo-nos fazendo exatamente o contrário do que o presidente sugere. (por Hélio Schwartsman)

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