quarta-feira, 15 de julho de 2020

A DISFUNCIONALIDADE DO CAPITALISMO TORNA IMPERATIVA A SUA SUPERAÇÃO. A ALTERNATIVA É UM GENOCÍDIO SEM FIM – 1

dalton rosado
UMA ANÁLISE CRÍTICO-CONTRIBUTIVA
DAS PROPOSIÇÕES DE PAUL MASON
"O fim do modo de produção de um sistema econômico
é frequentemente uma mistura de suas fraquezas
internas com o que chamamos de choques
externos ou exógenos" (Paul Mason)
Quando várias pessoas passam a ter a mesma compreensão sobre um determinado fenômeno social, estamos diante de uma configuração conjuntural que se torna mais claramente exposta.

Assim, quero saudar as últimas publicações da BBC News focadas em autores que reconhecem a debacle capitalista, como Joseph Schumpeter  (vide aqui) e Paul Mason (vide aqui). Indiretamente, elas confirmam o acerto e contemporaneidade das teses de Karl Marx sobre a crítica da economia política.

Entretanto, mesmo considerando benfazejo tal reconhecimento vindo do mundo capitalista desenvolvido, começo por divergir frontalmente da conclusão final e propositiva de Paul Mason: não há forma sustentável de capitalismo, com mais verde, menos exclusão e menos especulação financeira. 

O capitalismo é uma forma de relação social baseada na subtração de valores produzidos de quem os produziu (os trabalhadores assalariados), condição sine qua non para a acumulação do capital ad infinitum; esta esbarra, contudo, no limite interno de expansão do capital, causando o colapso do capitalismo, como agora está a se explicitar.

Esta é a razão do equívoco amiúde cometido pelas sociedades ditas proletárias do marxismo-leninismo: o dinheiro jamais pode ser distribuído equitativamente para a coletividade como um todo. 

Apenas nos países dominantes pode haver concessões, mas estas acabam quando o regime concorrencial de mercado se globaliza, como agora ocorre. 

Estava certo Karl Marx quando afirmou que a relação entre capital fixo crescente (máquinas e instalações) e capital variável decrescente (salários), com a exigência de investimentos cada vez maiores, esbarra no impasse da impossibilidade de reprodução do lucro nos níveis exigidos pela sua própria dinâmica, não satisfazendo um imperativo para a sua cumulatividade progressiva.

As contradições internas do capitalismo, que promovem a acumulação da riqueza abstrata e impedem a sua funcionalidade de modo socialmente equilibrado, ou serão superadas e substituídas por outro modo de produção e distribuição, ou levarão a humanidade ao suicídio provocado pela miséria social, pela hecatombe bélica, pela variedade e agressividade das pandemias ou pelo ecocídio. 

Não há como regenerar a natureza social e ecológica predatória da lógica capitalista, humanizando-a; o que se impõe é a afirmação de outra forma de relação social, que entronize um modo de produção e distribuição compartilhado. 

Não se trata de uma mudança semântica, mas sim de necessária superação da forma e conteúdo de uma relação social (a capitalista) tornada obsoleta no espaço e no tempo. 

Mas, aproveitemos aquilo do pensamento de Mason que converge com nossas análises ao longo dos mais de quatro anos e meses durante os quais venho colaborando com este blog que é verdadeiramente aberto às proposições no campo da emancipação humana, sem concessões mercantilistas.

É que não estamos aqui numa disputa egocêntrica de donos da verdade, ou de maior ou menor sapiência, mas de busca de saídas teóricas e práticas que nos são exigidas pelo momento histórico. Não podemos jogar a criança fora com a água do banho. 
SOBRE AS AGRESSÕES ENDÓGENAS E EXÓGENAS – Está correto Mason quando afirma que vivemos um período de agressões internas e externas ao capitalismo.

Na atual fase do capitalismo, os pontos de estrangulamento se tornam cada vez mais flagrantes, como a eliminação substancial dos postos de trabalho em relação à criação de novos postos, configurando-se, assim, o desemprego estrutural. A soma de fatores externos, exógenos e adicionais é indício óbvio de que estamos presenciando o começo do fim.

As antigas formas de produção pre-capitalistas e feudais foram absolutamente substituídas pela produção de mercadorias mediante trabalho abstrato em todos os quadrantes do mundo.  Quem não trabalha, não come; esta é a regra do capital. 

Não há, portanto, outra maneira de obter-se os recursos em dinheiro para o próprio sustento sistêmico do capital fora do critério de venda da força de trabalho em dinheiro, para a compra de mercadorias e serviços igualmente em dinheiro.
Ora, com a eliminação de custos de produção mediante o uso da alta tecnologia de produção (junção da robótica, programas de computação que racionalizam procedimentos e fazem com extrema rapidez os cálculos mais complexos,  a informação instantânea via satélite, máquinas e engenhos altamente sofisticados, descobertas de ligas metálicas resistentes, avanços da química e bioquímica, engenharia genética, etc.), a força de trabalho humana se tornou substancialmente supérflua.

Assim, toda a lógica de reprodução do valor está se desmanchando, como algo abstrato que é – ainda que se materialize no lado concreto (valor de uso) sensível dos objetos transformados em mercadorias (que carregam em si o preponderante e abstrato valor de troca). 

O abstrato, representado por uma contagem numérica de valor, perde a capacidade de hipostasiação no concreto e desaparece tal como um objeto que, consumido pelo fogo, vira fumaça. Tal forma de relação social fundada no abstrato e tornada real pelo lado sensível e palpável da mercadoria entra em disfunção social e se torna inviável como tal. 

O problema é que diante da sua disfuncionalidade, mas sustentada pelo poderio militar e político, essa relação social tende a provocar uma tensão social de tal magnitude que impõe à sociedade esta alternativa: ou a superação de sua forma e do seu conteúdo ou um genocídio sem fim. (por Dalton Rosado)
(continua neste post)

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