segunda-feira, 20 de abril de 2020

DRAUZIO VARELLA ADVERTE: ESTAMOS NA IMINÊNCIA DE UMA TRAGÉDIA NACIONAL, COM NÚMERO MUITO GRANDE DE MORTES

Uma das mais esclarecedoras matérias jornalísticas sobre as perspectivas da pandemia no Brasil é a longa entrevista do cancerologista Drauzio Varella à repórter Lígia Guimarães, colocada hoje (20) no ar pela BBC News Brasil

Recomendando enfaticamente a leitura da íntegra (clique aqui para acessar), reproduzo abaixo as respostas de Varella que considerei de maior interesse para os leitores deste blog. (o editor)
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DESIGUALDADE SOCIAL: AGORA VEM A CONTA A PAGAR
"...agora é que nós vamos pagar o preço por essa desigualdade social com a qual nós convivemos por décadas e décadas, aceitando como uma coisa praticamente natural. Agora vem a conta a pagar. Porque é a primeira vez que nós vamos ter a epidemia se disseminando em larga escala num país de dimensões continentais e com tanta desigualdade. 

...as pessoas que introduziram o vírus no país (...) vieram de fora, de viagens internacionais, e trouxeram o vírus para cá. E aí estamos vendo o que acontece nas cidades que tiveram um afluxo maior desses brasileiros que viajaram. São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Manaus também, estamos tendo esse primeiro impacto.

Vamos ter, forçosamente, a disseminação dessa epidemia para as camadas sociais mais desfavorecidas. É assim que está acontecendo em Nova York hoje, onde os negros são representados em muito maior proporção nas mortes que acontecem nas cidades. 
"esse vírus vai atingir todo mundo"

Nós não sabemos ainda o que vai acontecer quando esses 13 milhões de brasileiros que vivem em condições precárias de habitação e que têm condições precárias de saúde também vão se infectar. Não sabemos o que vai acontecer, vamos aprender agora a duras penas. 

...você tem um cômodo em que moram quatro adultos e três, quatro crianças. De dia aquele cômodo é a sala de refeições, de noite a mesa vai para o canto e os colchões saem da parede e vão para o chão, e as pessoas dormem ali. Você não tem condição mínima de separação. Vão dizer fica em casa, não vão para a rua. Como é que essas pessoas não vão para a rua?

...em dois, três dias essas pessoas não têm o que comer. Porque a luta é sair, e conseguir passar no supermercado e levar alguma coisa para casa, diariamente. Imagina você o dinheiro que você tem não dá para aguentar dois, três dias isolada, porque não vai ter o que comer. E a ajuda do governo, lógico que é importante, mas é difícil organizar também.

...enquanto tiver gente vivendo nessas condições, se infectando e transmitindo o vírus uns para os outros, esse vírus vai atingir todo mundo, porque as pessoas se interconectam de uma forma ou de outra, ou dividem espaços comunitários de um jeito ou de outro.

Enquanto tivermos essa disseminação em lugares impróprios para a vida humana, como são esses, você não se livra do vírus. E é esse vírus que ameaça a todos, o tempo inteiro.
"gente vivendo nessas condições, se infectando e transmitindo o vírus uns para os outros"
Tenho visto a movimentação em todos os cantos, mas o problema é que a transmissão é muito rápida. Eu acho que vai acontecer uma tragédia nacional, eu não tenho dúvida disso. Eu acho que nós vamos ter um número muito grande de mortes, vamos ter um impacto na economia enorme, vamos ter uma duração prolongada.

A crise econômica já está estabelecida. quando você tem uma epidemia desse jeito, se você deixar as pessoas saírem, se infectarem pela rua, à vontade, a crise econômica vai acontecer da mesma maneira. Isso é irreversível. Nós vamos ter a crise. 

O que os médicos defendem, e muitos economistas defendem: a crise nós vamos enfrentar de qualquer jeito. Então vamos tentar reduzir o número de doentes para abreviar a duração da crise". (trechos selecionados das respostas de Drauzio Varella à repórter Lígia Guimarães)

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