terça-feira, 21 de abril de 2020

DITADOR FIGUEIREDO: "DESEJO QUE ME ESQUEÇAM". BUFÃO BOZO: "ESQUEÇAM AQUELAS BESTEIRAS QUE DISSE ONTEM"

josias de souza
BOLSONARO EM VERSÃO LUÍS 14: 
"A CONSTITUIÇÃO SOU EU"
Tornaram-se frequentes os episódios em que Jair Bolsonaro tem recaídas de sobriedade depois de personificar ataques de insensatez. 

Se isso tivesse ocorrido uma vez, poderia ser entendido como mero acontecimento. Se tivesse ocorrido duas vezes, poderia ser interpretado como mera coincidência. Quando a coisa se repete incontáveis vezes, vira uma inquestionável estratégia. 

Na crise do coronavírus, o que era apenas incômodo vai se tornando insuportável. No seu vaivém estratégico, Bolsonaro já levou o rosto cinco vezes à vitrine da rede nacional de rádio e TV. Ele desdisse num pronunciamento o que dissera na fala anterior. 

Em março, Bolsonaro desconvocou uma manifestação anti-Congresso e anti-Supremo que ele havia estimulado em mensagens de WhatsApp. Depois, foi ao encontro dos manifestantes em frente ao Planalto, violando as recomendações de isolamento social do Ministério da Saúde. 

Neste domingo, Bolsonaro discursou para uma multidão que clamava, no gogó e em inúmeras faixas, por intervenção militar, fechamento do Congresso e do Supremo e um novo AI-5, que pressupõe, entre outras barbaridades, a censura à imprensa. Tudo isso na frente do Quartel General do Exército. 

Nesta 2ª feira, o presidente disse que respeita o Judiciário e o Legislativo. E proclamou: "Eu sou a Constituição". 

A frase lembra Luiz 14. Com uma diferença: o monarca francês, a quem se atribui a frase "O Estado sou Eu", viveu no século 17 e permaneceu no poder por 72 anos. Bolsonaro vive no século 21, num país democrático, em que os presidentes, mesmo os que se imaginam reis, têm prazo de validade. 

Com seu comportamento, Bolsonaro está conspirando contra renovação do prazo do seu mandato, porque um número cada vez maior de pessoas não consegue enxergar a utilidade da sua Presidência. 

No momento, o mundo se esforça para combater o coronavírus. No Brasil, o presidente se associa ao vírus para drenar as energias de um país em que as UTIs começam a entrar em colapso em diferentes localidades. 

Bolsonaro fez da sua Presidência uma máquina de moer que trabalha incessantemente. Se não há o que moer, o presidente tritura a si mesmo. 

Um presidente assim deve ser tratado com paciência, nos limites da Constituição que ele não consegue personificar. Fez bem a Procuradoria da República ao requisitar investigação sobre a organização do ato antidemocrático que o presidente da República decidiu estrelar. (por Josias de Souza)
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TOQUE DO EDITOR — É um ponto de vista respeitável o do Josias e seu artigo está bem estruturado. No entanto, permito-me acrescentar uma visão alternativa.

Não vejo estratégia consciente nenhuma no festival de besteiras com que o Bozo assola o país, mas apenas rompantes ditados por necessidades imediatas. Não passa de um político convencional que, tosco demais para respaldar sua carreira em públicos civilizados, optou pela solução fácil de tornar-se o messias dos medíocres ressentidos.

Então, para manter tal boiada mugindo e agindo em seu favor, passou três décadas encenando performances fascistoides estridentes enquanto contabilizava o$ ganho$ obtidos formalmente ou por baixo do pano com o que ele qualifica de velha política.

Quando um destino insólito atirou-lhe a presidência no colo, continuou fazendo o que sempre fez: trabalhando para manter e ampliar seus espaços na política convencional enquanto finge-se de Hitler para os desmiolados lhe servirem de mão-de-obra gratuita.

Agora, depois de cada desempenho circense, corre a desdizer-se para apaziguar os poderosos e notáveis que há muito tempo o deveriam ter expelido de um cargo que está a anos-luz de sua qualificação e competência.

Mas, quando exagera na bufonaria, como fez no domingo passado, o Bozo fornece o melhor motivo para uma cada vez mais necessária remoção, antes que seu zelo pelos mais mesquinhos interesses empresariais transformem o Brasil inteiro num imenso cemitério: a interdição por insanidade mental. (por Celso Lungaretti)  

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