sexta-feira, 20 de março de 2020

ACABOU, BOLSONARO!

david emanuel coelho
A TEMPESTADE PERFEITA
Quem acompanha minhas análises no Naufrago, sabe que não me escapava a extrema fragilidade de Bolsonaro e sua derrocada iminente. 

Após a reforma da Previdência ter sido aprovada, Bolsonaro começou a assumir o papel de um elefante na sala. Então, sendo ignorante mas não idiota, passou a se movimentar para persistir no poder. 

Travou, e perdeu, a disputa pelo domínio do PSL, lançando-se então à tentativa de criar seu próprio partido. Ampliou o número de militares ao seu redor. E, acreditando que demonstraria força, convocou manifestações para o dia 15 de março.

No entanto, no meio disso tudo, vieram dois acontecimentos inarredáveis: a crise econômica mundial e a pandemia do coronavírus. 

A crise econômica, com o pibinho resultante, haviam colocado Bolsonaro na corda bamba. O elevado desemprego e o aumento do custo de vida, somados à queda generalizada da renda do trabalhador, já davam o mote para o desgaste governamental. 

Para piorar o quadro, surgiu a pandemia de coronavírus e a reação absurda de Bolsonaro diante dela fez a insatisfação popular explodir.                                               .
.
O VÍRUS DA IDIOTICE – Bolsonaro não apenas subestimou o risco da pandemia, como foi além, assumindo uma clara atitude de confrontação, como se fosse uma criança birrenta. 

Contra recomendações expressas de seu próprio Ministério da Saúde, convocou manifestações nos vários estados para tentar emparedar Congresso e STF, jogando milhares de idosos em aglomerações país afora. 

Não satisfeito, e mesmo tendo grande chance de estar contaminado com o vírus, resolveu sair de seu isolamento sanitário e ir ao encontro de centenas de pessoas para interagir com elas. Um ato tresloucado  que foi acompanhado de ataques às medidas sanitárias tomadas por governadores e prefeitos. 

Para completar, em desafio alucinado, revelou que iria fazer uma festinha para celebrar seu aniversário...
.
QUEM SOBROU? – As manifestações convocadas por Bolsonaro para o dia 15 de março, além de serem um atentado à saúde pública, foram um fiasco retumbante. 

Ele chegou a fingir recuo, já antevendo o fracasso das micaretas, mas acabou por se render aos atos, tentando botar pressão sobre os demais poderes. 
Nas ruas, viu-se um festival da terceira idade. Quase nenhum jovem, participação nula da classe trabalhadora e de setores mais combativos do país, as manifestações pró-Bolsonaro acabaram sendo mais um epílogo da presidência de Bolsonaro, mostrando o quanto ele hoje está isolado e sem o endosso do povo.

Para piorar, mesmo antigos apoiadores da burguesia comercial e bancária começam a se afastar. Sintomática disto é a manifestação crítica de um dos maiores apoiadores de Bolsonaro, o véio da Havan, o qual reclamou da atitude inconsequente do governo diante da pandemia. 

A queda vertiginosa da bolsa e a desaceleração das vendas farão a burguesia rapidamente abandonar o presidente para ser devorado pelos lobos. 
.
AUTOFAGIA LIBERAL – As panelas voltaram a ressoar no Brasil após quatro anos. Impedido de sair às ruas devido à pandemia, restou ao povo mostrar seu descontentamento indo às janelas e varandas para bater panelas. A história é irônica. 

O panelaço foi forte nas grandes capitais, inclusive em áreas nobres e que deram vitória expressiva a Bolsonaro na eleição de 2018, claro sinal do desgaste monumental do governo, agravado com a resposta irresponsável à pandemia. 

O coronavírus, na verdade, foi a famosa gota d’água, mas nem de longe é o elemento fundamental da crise. 

Organicamente disfuncional, Bolsonaro apostou no programa neoliberal para conseguir sustentação no governo. Contudo, o mesmo programa que o assentava também erodia seu poder. 

Na mesma medida em que especuladores riam à toa com ganhos da Bolsa e a política de terra arrasada de Paulo Guedes, o povo trabalhador ia perdendo confiança no governo e sentindo-se abandonado. 
.
ABRAÇO DOS AFOGADOS – Bolsonaro está em contagem regressiva para o fim de seu governo. Morrerá abraçado ao Posto Ipiranga, seu fiador junto à elite financeira, a mesma que agora cinicamente tenta salvar a si mesma e se distanciar das bizarrices governamentais. 

Por mais uma ironia da história, coube a um imigrante (e haitiano!) decretar o fim do governo Bolsonaro e conclamar ao presidente para ir para casa. 
.
O QUE VIRÁ DEPOIS? – O grande problema nosso é entender o que virá depois. Mourão vai assumir? Conseguirá conduzir o país? O programa neoliberal vai continuar?

A pandemia do coronavírus está apenas no começo no país e não é possível ainda antever seus efeitos. Se trouxer mortes em massa e uma paralisação gigantesca da economia, as consequências deverão ser as mais nefastas. 

Mesmo considerando um contexto ameno, com a pandemia sob controle no país, ainda restará a crise econômica que pegará em cheio um Brasil já arrasado. 

Dias terríveis nos esperam e vão abrir uma janela histórica que poderá nos levar a mudanças radicais, não necessariamente positivas. (por David Emanuel de Souza Coelho) 

Nenhum comentário:

Related Posts with Thumbnails