leonardo sakamoto
POR QUE GUEDES FALA
MAL DOS POBRES? O
PSICANALISTA EXPLICA
"Paulo Guedes diz coisas inapropriadas, mas elas são dirigidas para um determinado setor da elite econômica, um grupo que compreende da mesma maneira que ele a subnarrativa do lugar de ricos e pobres.
Deixa claro que eles precisam se aliar contra os pobres, que usam demais os serviços públicos, que andam demais de avião, que vão a lugares que não deviam ir."
A avaliação é de Christian Dunker, psicanalista e professor titular do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da USP, ganhador do prêmio Jabuti pelo livro Estrutura e Constituição da Clínica Psicanalítica.
Ao responder às reclamações do preço alto da moeda norte-americana, Paulo Guedes disse que o tempo do dólar baixo acabou. Mas foi além:
"Não tem negócio de câmbio a R$ 1,80. Todo mundo indo para a Disneylândia, empregada doméstica indo para Disneylândia, uma festa danada".
O ministro falava a uma plateia de líderes políticos e econômicos num evento, em Brasília, no final tarde desta quarta (12). Isto provocou uma onda de reações indignadas ao preconceito do ministro contra trabalhadoras pobres.
A essa, somam-se outras declarações discriminatórias: como chamar funcionários públicos de parasitas, dizer que pobres são responsáveis pela destruição do meio ambiente, afirmar que pobre não sabe economizar e insinuar um AI-5 diante do risco de manifestações contra suas reformas. Dunker analisa:
"Ele fala sobre parasita no momento da entrega do Oscar, quando o filme sul-coreano Parasita estava na cabeça de todo mundo, filme que jogava com a ideia de usurpação do poder.
Filme sobre pobre e ricos, emerge Parasita como metáfora. Ele joga com um público que se identifica com a elite, aquele público que tem uma equação na cabeça, de que o Estado está roubando a gente.
Isso fica claro no caso das empregadas domésticas viajando à Disney. Pois tem parasita em nosso lugar".
Para Guedes, segundo o professor, economia é economia, moral à parte. E, como a moral dupla de Freud, uma coisa é a corrupção dos outros, outra é a que a gente faz. Uma coisa é os outros levando vantagem, a outra é a vantagem que nós levamos.
"Com o emprego que não cresce e suas projetos polêmicos no Congresso, Guedes tem que desviar a atenção para alguma coisa. Caso contrário, começam a aparecer suas anáguas." (por Leonardo Sakamoto)
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