quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

PRECISAMOS TER MUITO CUIDADO COM A MANIPULAÇÃO DO CONCEITO DE "DEUS" VISANDO DISSEMINAR O CONFORMISMO

dalton rosado
COMENTÁRIO AOS COMENTÁRIOS DOS LEITORES SOBRE O ARTIGO "O MISTÉRIO"
O tema que versa sobre o mistério da criação e a concepção do que seja Deus é seara das mais complexas, por envolver a incrível capacidade racional da nossa segunda natureza (em mutação) e a nossa efemeridade enquanto seres vivos.

Somos, ao mesmo tempo, grandes e pequenos, como se o universo quisesse testar até aonde podemos ir. Sou sempre muito cauteloso quando me meto a escrever sobre tal mistério, de vez que confesso a minha ignorância.

Mas, há coisas sobre as quais temos mais informações científicas. Uma delas trata da evolução da espécie humana e das suas relações sociais (ainda atrasadas).

Sabemos, segundo estudiosos do tema como o respeitado cientista Yuval Noah Harari, que:
— há cerca de 3,8 bilhões de anos (que é a data de nascimento da biologia) surgiram os primeiros organismos;
 há cerca de 6 milhões de anos, o último ancestral comum de humanos e chipanzés;
 há 2,5 milhões de anos, o gênero homo na África e as primeiras ferramentas de pedra;
 há 2 milhões de anos, os ditos cujos se espalharam da África para a Eurásia, proporcionando as diferentes espécies humanas;
 há cerca de 500 mil anos surgem os neandertais (que depois foram extintos ou simbioticamente transformados) na Europa e no Oriente Médio;
 há 300 mil anos aprendem a manusear o fogo;
 há 200 mil anos surge o Homo sapiens na África Oriental e, a partir desse período, a revolução cognitiva, também conhecida como racionalidade, com o ser humano passando a indagar-se sobre o porquê de sua existência e sobre a sua inserção no mundo; 
 há 12 mil anos surge a revolução agrícola e a domesticação de animais como contributo para a vida humana.
Até ai predominava a partilha comunal e a característica da solidariedade comunitária e vida em grupos étnicos bem mais harmoniosos que os atuais (apesar dos conflitos pelo uso da terra em alguns lugares, não havia a escravização do ser por outro ser).

Mas é a partir de 5 mil anos que surgem os primeiros sistemas de comunicação escrita e o critério de valorização de objetos na troca quantificada.

Especula-se que data de 3 mil a convenção social de objetos que serviram como equivalente geral para as trocas, ou seja, a forma embrionária do dinheiro, que posteriormente passou a ser cunhado em moedas de fácil manuseio.

Foi a troca quantificada (o escambo) aquilo que gerou a ideia de escravização do ser humano por outro ser humano visando à acumulação de riqueza e poder, ou seja, a entronização embrionária da forma-mercadoria e da ideia de valor abstrato, meramente numérico, mas que paulatinamente passou a comandar one world a produção e apropriação dos bens servíveis à satisfação do consumo humano.

Como vemos, os humanos são seres em constante mutação evolutiva (tomar que ela não seja interrompida pelo próprio ser humano ou por um fenômeno externo, vindo do cosmo!).

Acredito que a etapa seguinte da nossa evolução será a superação dessa forma-valor (dinheiro e mercadorias) como o grande passo da humanidade em busca de sua emancipação e da volta à vida solidária e sustentavelmente gregária do ser humano sobre a face da Terra, agora com os recursos antes inimagináveis da ciência.

Ainda assim, especulo que estaremos ainda distantes de desvendar o mistério do que seja Deus (se é que isto é possível...).

Até lá, precisaremos ter muito cuidado com a conceituação de cada um sobre o que seja Deus e com a manipulação desse conceito para disseminar o conformismo diante da exploração e subjugação do homem pelo homem. (por Dalton Rosado)

3 comentários:

Anônimo disse...

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Ei! Eu deu meu pitaco no texto O Mistério.
O que destaquei é justamente o autor do Logos, do discurso, que, no dizer de Aristóteles, é o discurso fundamentado.
Como se sabe, o discurso sobre o mistério não pode ser fundamentado, pois o que não pode ser compreendido não pode ser dito de maneira lógica.
Há sim, o discurso (lógico) da impossibilidade da existência de Deus.
O resto é guerra de narrativas...
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Isso dito...
O discurso de Yuval Noah Harari a respeito de como o ser humano vem evoluindo na sua maneira de lidar com o mundo, ao qual, me parece, você acresceu suas ponderações, é fundamentado, mesmo que, sob certos aspectos, também seja uma narrativa a qual se contrapõe outra narrativa (a criacionista) que descaradamente não vem do Logos.

A guerra de narrativas é hoje denominada fake news e considero urgentíssimo destacar-se as narrativas que tenham como base o logos e, mais precisamente, para o despertar o único ente pode fazer esses discursos: o ser humano.

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SF
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Anônimo disse...

De fato, o livro "Sapiens" deveria ser leitura obrigatória de primeiranista de qualquer curso universitário.Talvez, melhor ainda, de todo aluno ao concluir o ensino médio.

É uma obra que faz o leitor se posicionar no tempo e no espaço e entender um pouco da "engrenagem biológico-social" que nos trouxe até a atualidade.

Entre as abordagens, o que é ser humano além de um conjunto de genes, hormônios e sinapses em interação com o meio ambiente em que vive ?

Também questiona se realmente somos mais felizes depois que descobrimos agricultura e nos fixamos na terra ou se era melhor permanecermos nômades em pequenas comunidades ?

Anônimo disse...

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Obviamente, o ser humano pode fazer o discurso fundamentado em evidências que não são o que parecem e, assim, conduzem o seu autor a inferências falsas.
A afirmativa de que Deus é Natureza (Deus sive natura), até onde ouvi dizer, vem de Baruch Spinoza.
Ora, Baruch era de uma família judaica portuguesa fugitiva da inquisição e que, mostrando o quanto a intolerância não privilégio de nenhuma religião, também foi banido pelos próprios judeus de sua sinagoga, em português, evidentemente. Afinal, as vezes, as toupeiras são eruditas e poliglotas.
Sua afirmação foi considerada herética, mas ainda assim concedia substância à Deus.
O deus de Baruch ainda era um substantivo e, portanto, agente capaz de sancionar algum tipo de ética. Uma vez que , segundo o abençoado Spinoza, ele estava imanente na natureza. Daí, para dizer que a Bíblia não exprime a verdade sobre deus foi um pulo, seguido por uma cacetada do clero nele.
Considerando a conjuntura na qual viveu, Spinoza foi extremamente corajoso ao fazer o seu discurso fundamentado nas evidências que tinha, mesmo que tergiversando para evitar danos maiores a si mesmo.
Sua sorte é que vivia nos países baixos, menos intolerantes, cruéis e impenitentes que a sociedade portuguesa (que expulsou sua família), pois não foi queimado vivo, nem torturado e nem preso por suas ideias ou sua religião, apenas civilizadamente expulso dos círculos religiosos, podendo morrer tranquilamente de tuberculose e com o nome de Benedicti de Spinoza.
https://tumulosfamosos.blogspot.com/2011/08/baruch-spinoza-arte-tumular-548-nieuwe.html
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