domingo, 24 de novembro de 2019

JAMAIS EXISTIRÃO FESTAS TÃO COMOVENTES QUANTO AS DOS TIMES DO POVO!

Foi bonita a festa, , fiquei contente!

Lembrei-me do time que mais me empolgou na vida, o da democracia corinthiana. Eu, que ia pouco aos estádios, nunca frequentei tanto o Pacaembu e o Morumbi quanto naquela época. 

Ver Sócrates e Zenon jogando era uma experiência única: em quase todos os lances, a decisão que eu percebia ser a melhor lá do alto da arquibancada correspondia à que eles tomavam no gramado. 

Nunca esquecerei um contra-ataque do Corinthians em que o doutor mirou o tempo todo o ponta-direita, chegou a apontar-lhe para onde deveria correr, então a marcação adversária acreditou e foi junto. Aí, sem um olhar sequer, ele deu um passe perfeito para onde adivinhava que o  ponta-esquerda se encontraria e este, livre e solto, estufou as redes.

Mas, retomando o fio da meada, o timão de quatro décadas atrás e o Flamengo de hoje se assemelharam na concretização da vitória quando os adversários, cansados, já não conseguiam fechar todos os espaços como antes.

A frequência com que aquele Corinthians definia as partidas no 2º tempo sempre me pareceu ter muito a ver com a inteligência privilegiada do Sócrates. Sem preparo físico para correr o tempo todo, certamente ele reservava suas energias para quando poderia ser mais decisivo.
O Fla que acaba de conquistar a América não se programou para fazer isto, mas acabou fazendo. 

Emparedados na primeira etapa pelo esquema tático perfeito do técnico Marcelo Gallardo, os flamenguistas ouviram do seu treinador, no intervalo, as palavras mais oportunas: além de instrui-los sobre detalhes específicos, reergueu-lhes a confiança ao ressaltar que os rivais não aguentariam manter a mesma intensidade durante a partida inteira, então cabia-lhes evitar o desânimo e a afobação, esperando o momento em que as oportunidades inevitavelmente surgiriam.

Mas, como as viradas milagrosas não caem do céu, Jorge Jesus fez sua parte, colocando em campo, na reta final, jogadores com maior poder ofensivo, como Diego e Vitinho.

A única falha de Gallardo acabou sendo fatal: não calculou bem o quanto seus comandados se desgastariam cumprindo o esquema por ele traçado; então, quando o mister foi para o tudo ou nada, desguarnecendo sua defesa, o River Plate já não tinha fôlego nem qualidade para aproveitar bem as brechas surgidas.

Uma primorosa jogada de Bruno Henrique decidiu tudo: chamou quatro adversários para dançar e conseguiu tirar da cartola um passe perfeito para Arrascaeta servir Gabigol, que só teve o trabalho de empurrar para as redes.

Com o empate aos 43' do 2º tempo, já ficou tudo praticamente decidido: se houvesse prorrogação, aquele River que se arrastava em campo seria massacrado por um Flamengo cheio de energia e de confiança.

Não precisou, pois, num esticão para a frente aos 46', um zagueirão argentino vacilou bisonhamente, o outro estava mal colocado e ficou rendido, então o Gabigol fez o que os bons artilheiros são pagos para fazer: não desperdiçou a chance imperdível, chutando com força e convicção onde o bom goleiro Armani jamais conseguiria alcançar.

E veio a maravilhosa festa da nação rubro-negra, tão parecida com a dos alvinegros em Yokohama, sete anos atrás.

Tornei-me corinthiano por acaso, quando mal acabara de completar quatro anos: na primeira vez em que os moleques da rua me perguntaram para qual time torcia, eu, que nunca havia pensado nisso, disparei Corinthians! para manter uma boa imagem. Talvez porque se ouvia falar muito no recém-sagrado campeão paulista de 1954, ou então por ser o time do meu pai. E corinthiano fiquei.
Todos os outros times de que gostei e cujos jogos acompanhei durante certas fases eram times do povo e/ou praticantes do chamado futebol-arte

Na primeira categoria, minha simpatia maior sempre foi pelo Mengão. Até porque o povo que até hoje mais me encantou  e com o qual mais me identifiquei foi o carioca dos tempos em que a cidade era realmente maravilhosa e tinha a maior concentração de brasileiros cordiais de todo o nosso território. 

Hoje, além do Corinthians, assisto tudo que posso do Barcelona, para ver o maior gênio futebolístico do século 21 antes que pendure as chuteiras; e, ultimamente, do Flamengo, que pratica um futebol ofensivo e é capaz de chegar ao gol com jogadas trabalhadas, o que quase todos os grandes brasileiros desaprenderam.

Aqueceu meu velho coração ver neste sábado o povão tão feliz! 

Feliz como estaria sempre se os frutos dos esforços humanos beneficiassem a grande maioria dos seres humanos, sem que uma ínfima minoria de abasta(rda)dos se apropriasse de fatia tão desmesurada do bolo! (por Celso Lungaretti)

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