O inesquecível Vianninha, talento que perdemos cedo demais |
O desalento e apatia nas fileiras da esquerda brasileira, após sofrer os sucessivos e terríveis abalos do impeachment da Dilma, prisão do Lula, eleição do Bolsonaro e entrega de Battisti à Itália, lembra muito a prostração subsequente ao golpe de 1964, quando a facilidade com que João Goulart foi expelido pelos conspiradores da caserna machucou quase tanto quanto a derrubada em si.
Como voltar a crer nos dirigentes responsáveis por aquele desastre depois de as fanfarronices de Luiz Carlos Prestes se desmancharem vergonhosamente no ar, com um passeio de recrutas pela BR-3 (hoje rodovia BR-040) bastando para botar governantes e dirigentes de esquerda em fuga desabalada?
É esse momento de profundo desencanto que O desafio (d. Paulo César Saraceni, 1965), flagrou, esmiuçou e pretendeu superar, apontando o caminho da retomada da luta.
De quebra, o filme dá, a quem viveu aqueles tempos, oportunidade de rever figuras queridas do cinema e das artes, como Elis Regina, Hugo Carvana, João do Vale, Joel Barcellos, Maria Bethânia, Nara Leão, Oduvaldo Vianna Filho, Zé Keti e outros. Quantos já se foram...
A utilização de É um tempo de guerra (um dos temas musicais da peça Arena conta Zumbi, adaptando poesia célebre – vide aqui – de Bertolt Brecht) dá a palavra final: impossível conviver-se passivamente com o que o Brasil havia se tornado, então era hora de juntar os cacos e iniciar a resistência à desumanidade.
A utilização de É um tempo de guerra (um dos temas musicais da peça Arena conta Zumbi, adaptando poesia célebre – vide aqui – de Bertolt Brecht) dá a palavra final: impossível conviver-se passivamente com o que o Brasil havia se tornado, então era hora de juntar os cacos e iniciar a resistência à desumanidade.
Estudantes pichavam os muros com o título do filme, que tinha duplo significado, sugerindo tratar-se de um repto cinematográfico ao regime militar. Lá pelos meus 14 anos, eu não entendia que raio de desafio era aquele. Levaria um tempinho para compreender. Mas, quando entendi, encontrei meu caminho na vida para sempre.
Cumprirá Marighella, de Wagner Moura, o mesmo papel em 2019?
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