quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

O TORPOR SOCIAL TENDE A DISSIPAR-SE À MEDIDA QUE A DIREITA NÃO DÊ RESPOSTAS DURADOURAS A PROBLEMAS CRUCIAIS – 2

dalton rosado
A BARBÁRIE NO CEARÁ E SUA
CONEXÃO COM O BRASIL E O MUNDO
.
"O fetiche do capital é feito pelos homens e também
pode ser por eles eliminado. A barbárie não
é inevitável" (Claus Peter Ortlieb)
O estado do Ceará, principalmente a periferia de Fortaleza, está parcialmente paralisado(a). Há cerca de sete dias vêm se avolumando os ataques ao comércio, às empresas de serviços, às indústrias, aos órgãos públicos, delegacias, bancas de revistas, terminais de ônibus, agências bancárias, etc.

Espalha-se o lixo na cidade por conta do temor dos carros de coleta de serem incendiados e os motoristas agredidos, como já houve casos; e o transporte urbano entrou em paralisia parcial. 

Os moradores dos bairros periféricos são os mais atingidos, enquanto que na parte rica da cidade observa-se uma relativa tranquilidade, pois o trânsito é congestionado e bem mais policiado por empresas privadas de segurança e filmagens, o que intimida os bandidos. A barbárie é seletiva, atingindo com intensidade bem maior os de sempre.

O Ceará é hoje a explicitação mais evidente de um fenômeno nacional: a metástase do crime como realidade social bárbara diante de uma economia segregacionista, parasitária e de um Estado impotente. É o capital se subsumindo à impraticabilidade de sua normal funcionalidade social.

Por sua, vez, lá nos Estados Unidos do presidente destrumpelhado também se observa uma significativa paralisia, principalmente em Washington, mas também em todos os serviços públicos federais existentes no país, por conta da não aprovação do orçamento público e da relutância do Congresso em aprovar verbas para a construção do infame muro entre a riqueza e a pobreza.
Faces da mesma moeda: a violência nas ruas de Fortaleza...

O que há em comum nestas duas situações é a miséria social interna ou dos vizinhos.

No Ceará, como acontece de maneira generaliza no Brasil, formou-se um contingente de bandidos integrantes do chamado crime organizado, com armas potentes, dinheiro, estrutura hierárquica, recursos de comunicação e capacitação para práticas criminosas como jamais havia ocorrido. 

Os criminosos dão ordens a uma população amedrontada que fecha estabelecimentos comerciais, industriais e se tranca, em pânico, nas suas residências.  

Isto ocorre num país que tem 12% de sua mão-de-obra economicamente ativa desempregada e 50% subempregada; cujo Estado Federal é concentrador de impostos e está falido; que paga duas Petrobrás por ano de juros e quase outra Petrobrás de déficit na Previdência Social.    

Os Estados Unidos, que têm alto nível de empregabilidade e padrão salarial bem acima da média mundial, quer se fechar na sua redoma de prosperidade artificial: seu presidente pretende construir muros nas suas fronteiras terrestres do sul como forma de evitar a entrada dos coitadezas da América Latina.

O imbróglio do veto parlamentar aos gastos com a construção da muralha do México, orçada em U$$ 5 bilhões, é o pomo da discórdia que paralisa a aprovação do orçamento público estadunidense.
...e o lixo se amontoando nas ruas de Nova York.
O impasse continua mesmo após a fala do presidente Trump em cadeia de televisão nacional, tornando a população estadunidense refém de uma política de exclusão social fronteiriça. A política demonstra toda a sua incapacidade sobre a economia. 

O ponto comum da paralisia que ocorre no Ceará e nos Estados Unidos, além da impotência da política em resolver problemas, é a pressão ora exercida por grandes contingentes populacionais marginalizados pela lógica de exclusão do capital.

Vivemos a fase de incompatibilidade absoluta entre forma (o modo de produção) e conteúdo (a necessidade de provimento das necessidades de consumo da sociedade como um todo).   

A barbárie, em qualquer ligar do mundo, é inconsciente da natureza e das soluções para o mal social que lhe é subjacente. Trata-se de um modo de agir sem objetivo teleológico social definido, senão a satisfação de necessidades primárias não atendidas socialmente. 

Quem tem fome quer, antes de mais nada, comer, além de estimular outros comportamentos menos justificáveis. 

O crime, como regra social, busca no próprio crime a sua gênese constitutiva; é uma forma de ação tresloucada que extrai da sua prática o alimento vital da própria sobrevivência. Não tem objetivo de mudança social, mas apenas da intensificação da preservação da própria prática criminosa como meio de perpetuação do seu modus operandi.
A última esperança do capitalismo já se dissipou...

Não é articulação de pensamentos políticos conservadores ou progressistas, mas apenas a explicitação violenta da falência de um modo de relação social que se exauriu por seus próprios fundamentos e está a reclamar com urgência uma alternativa alternativa que somente pode ocorrer a partir de modo de produção capaz de satisfazer necessidades de consumo e estabelecer regras de convivências equânimes, até mesmo aos agentes inconscientes.

Engana-se o ministro Paulo Guedes quando afirma reiteradamente que o capitalismo redimiu metade da população mundial da miséria. É justamente o contrário que está a ocorrer.

É certo que o saber adquirido pela humanidade foi benéfico em muitos aspectos, possibilitando, p. ex., uma maior longevidade humana. Mas ainda que se queira atribuir ao capitalismo uma alavancagem desse saber como resultante da melhora de vida e da busca da melhora da produção de mercadorias, isto apenas corresponde à resultante boa (e contraditória) de um modo de relação social ruim. 

Tal como na guerra (que é um atestado eloquente da subalternidade da racionalidade humana ao que de pior o ser humano pode produzir e atingir, e na qual se impulsionam descobertas premidas pela necessidade), o capitalismo também contribuiu para a aquisição do saber, mas ambas as ocorrências são a expressão da negatividade social, e é justamente tal contribuição ao saber por vias oblíquas que prenuncia o seu fim histórico.  
...condenando a um fracasso anunciado a faina de Guedes
A redenção da ignorância exige a superação da forma de relação social capitalista e não a sua intensificação liberal ortodoxa, como quer a equipe econômica do novo governo.

Se o Brasil praticou um capitalismo burro, corrupto, burocrata, até ingênuo do que diz respeito às regras leoninas de mercado mundial, isto não significa que um capitalismo liberal, esperto, competitivo, vá nos redimir da barbárie que se intensifica em escala mundial (vergastando mais duramente os países periféricos do capitalismo, como o nosso).   

Tanto o capitalismo burro da burocracia estatal quanto o capitalismo pretensamente inteligente do laissez-faire são igualmente danosos para a humanidade, e isto a história já provou. (por Dalton Rosado)
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Observação: o Dalton recomenda, no espírito do artigo acima, que os leitores ouçam esta música por ele composta, na interpretação do Gomes Brasil.

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