domingo, 16 de dezembro de 2018

O MUNDO HOJE É GLOBALIZADO. NÃO DÁ PARA GRITAR 'PAREM O MUNDO QUE EU QUERO DESCER'.

clóvis rossi
IGNORÂNCIA GUIA POLÍTICA EXTERNA DO GOVERNO BOLSONARO
Folha de S. Paulo já disse tudo o que é imprescindível sobre as ameaças do futuro governo Bolsonaro de abandonar o Acordo de Paris (sobre mudança climática) ou tentar modificá-lo.

A frase do editorial desta 6ª feira (14) é definitiva: “Ambos, Salles e Bolsonaro, se equivocam e demonstram constrangedora ignorância sobre Paris” (o Salles é Ricardo Salles, futuro ministro de Meio Ambiente).

A constrangedora ignorância não se limita, desgraçadamente, ao Acordo de Paris. Estende-se também ao recém-assinado Compacto Global sobre Migração Segura, Organizada e Regular.

É óbvio que todo presidente tem o direito (e o dever, de resto) de aplicar as políticas que achar convenientes, tanto as internas como a externa. Mas tem também a obrigação de definir tais políticas com base em um mínimo de racionalidade, e não a partir de constrangedora ignorância.

O argumento do bolsonarismo, em ambos os temas, é o de que cabe exclusivamente ao país determinar suas políticas ambientais e migratórias, sem aceitar imposições de outras nações.

Já é um conceito discutível porque, no caso do meio ambiente, p. ex., é evidente que a mudança climática não se detém nas fronteiras deste ou daquele país. 

Logo, ou há uma ação conjunta ou os problemas se acentuarão inexoravelmente.

Mas o ponto aí é outro: nem o acordo sobre o clima nem o sobre migrações são vinculantes, como ressalta a Folha no seu editorial sobre Paris: 
"Nada há de impositivo em seu texto para o Brasil ou qualquer outro país. As metas de redução de emissões de carbono ali incluídas são voluntárias ("contribuições nacionalmente determinadas’)".
Vale idêntica afirmação para o acordo sobre migrações.

A constrangedora ignorância apontada pela Folha pode estar escondendo algo mais assustador. 

Escreve, em seu Facebook, Oliver Stuenkel, um dos mais lúcidos analistas de relações internacionais que o Brasil tem: 
"Toda a retórica sobre interferência externa não é realmente a respeito de mudança climática por si. De fato, é usada para combater o que [o bolsonarismo] percebe como inimigo: supostas forças globalistas".
É outro conceito estúpido. Pode-se detestar a globalização, podem-se enxergar nela mil e um defeitos, mas não dá para gritar parem o mundo que eu quero descer. O mundo hoje é globalizado.

Se é assim, a cooperação internacional é a única maneira de atenuar os eventuais danos que essa situação provoca.
"Como é que se vai discutir o assunto bilateralmente com um bando de tarados incompetentes?"
Preferir, como vem indicando o futuro governo, negociações bilaterais, em vez das multilaterais, é no mínimo improdutivo.

Veja-se o caso das migrações que mais diretamente afetam o Brasil, a dos venezuelanos. Como é que se vai discutir o assunto bilateralmente com Caracas, na qual reina um bando de tarados incompetentes e que fingem não ver o que está ocorrendo?

Impossível. Até um conservador americano, que os Bolsonaros certamente admiram, o senador Marco Rubio, acaba de dizer ao Miami Herald
"Acho que temos uma chance de uma parceria com Brasil, Colômbia, Chile, Argentina e outros na América do Sul para lidar com alguns dos desafios postos pela crise migratória na Venezuela".
Quer demonstração mais clara de que cooperação internacional não é invenção dos comunistas, caramba? 
.
(por Clóvis Rossi)

De repente vieram-me à lembrança as matinês dominicais em
que via os filmes de Francis, the talking mule. Por que será?

24 comentários:

Anônimo disse...

A imprensa esquerdista finge ignorar a diferença entre globalização e globalismo para pintar uma caricatura do novo chanceler. A ignorância premeditada por aqui é mérito.
Mário

Maria Antonia Dal Bello disse...

Me admira a leviandade do autor ao dizer que o governo da Venezuela é "um bando de tarados incompetentes". Falta de argumentação? Por isso a linguagem chula na ânsia de difamar?

celsolungaretti disse...

Anônimo das 11h18, fazer uma caricatura do novo chanceler é missão impossível. Como caricaturizar quem já extrapolou todos os limites do caricato?

celsolungaretti disse...

Maria Antonia,

o Clóvis Rossi, um dos maiores jornalistas brasileiros das últimas décadas, cometeu aqui uma imprecisão. Deveria ter escrito "um bando de genocidas incompetentes".

André Luiz disse...

Engraçado. Temos anônimos bradando contra os "esquerdistas" aqui.
Olá, Celso! Queria saber se são muitos. Não sei se você acompanha os casos ocorridos no you tube. Agora está uma guerra. O pessoal resolveu responder aos idiotas guiados pelo Olavo de Carvalho. Está muito engraçado... Pessoas gastando uma enorme retórica contra uns doidivanas malandros que ganham um bom dinheiro com essas cirandas de ofensas difusas e produtos certos e rentáveis para vender. Eu tomei conhecimento disso há poucos dias. Achei muito curioso. Eu não duvido que os anônimos venham falar aqui bastante da para frente.

André Luiz disse...

Ah. Esqueci o tema. O novo Chanceler é uma caricatura. Não há meios através dos quais seja possível utilizar uma linguagem diferente. E simplesmente uma coisa aberrante. É preocupante que pessoas que serão impactadas por tais posturas não pensem seriamente no que isso vai resultar.

Anônimo disse...

André Barbosa deve estar com saudade da diplomacia petista que entregava o patrimônio nacional de graça para ditaduras mundo afora, via BNDES. Depois de chegarmos ao fundo do poço com o PT, o que vier é lucro.

Anônimo disse...

Celso, tivemos um partido que apoiou abertamente a ditadura jurássica cubana e a venezuelana por tara ideológica. Mais ofensivo à liberdade e caricatural que isso impossível.

celsolungaretti disse...

André,

não só estão aparecendo comentários fora do padrão habitual, como voltaram a tirar o blog do ar na noite de domingo + madrugada de hoje. Desta vez com um requinte: deram um jeito de redirecionar os leitores para um blog secundário que possuo no Firefox, destinado àqueles que acessam o Náufrago com celulares.

Mea culpa: deveria ter mantido o outro blog atualizado. Agora, a matéria inicial é exatamente aquela que eles querem abafar. Não lucrarão nada se repetirem a brincadeira.

Quanto à meia-dúzia de ministros caricatos, desde uma doida de pedra até fascistas hidrófobos, infelizmente não serão o parâmetro pelo qual o povão vai julgar o novo governo. Para o homem da rua, contará mesmo é acontecer ou não alguma melhora na situação econômica.

Nenhuma novidade: em 1969 as pessoas tinham medo da ditadura e deixavam perceber sua insatisfação, mesmo sem alardeá-la. Bastou terem uma graninha a mais no bolso graças ao "milagre" para saírem grasnando "Brasil, ame-o ou deixe-o".

Se o Guedes não mostrar serviço, o Bolsonaro nem sequer iniciará 2020 como presidente. Pode anotar.

Maria Antonia Dal Bello disse...

Celso, tudo pode ser relativo. Depende de qual jornalismo estamos falando. Se o jornalista usa linguagem desapropriada e mentirosa, ele já perdeu pontos como jornalista. Afirmações do tipo, suas e dele, precisam ser demonstradas pois qq um pode dizer absurdos e tudo ficar por isso mesmo, não é. Um jornalista que se preze e que faz jornalismo sério, não diz sem provas, sem fontes, não inventa, não difama. Mostra o que diz.

celsolungaretti disse...

Pô, um jornalista sério e com sólidos princípios humanistas, que sabe qual é a VERDADEIRA situação da Venezuela, só pode perder a calma diante da destruição do país por parte de um regime policial e, ademais, extremamente burro na sua intolerância.

Tenho um amigo com parentes na Venezuela que envia daqui remédios extremamente necessários que não existem mais lá. Sem nunca ter certeza de que chegarão às mãos dos destinatários, pois frequentemente são saqueados pelo caminho.

Você se dá conta do que seja uma inflação de mais de UM MILHÃO POR CENTO AO ANO? Eu vivi como cidadão e escrevi como jornalista sobre a devastadora inflação do Sarnei, que no último ano foi de 1.764,86%. Não consigo entender como alguém possa conviver com inflação umas 560 vezes pior!

Você sabia que nos DOIS últimos anos 2,3 milhões de venezuelanos deixaram o país para tentar a sorte pelo mundo e sofrerem tratamento como o que sofreram aqui? E que este número supera o total de imigrantes que entraram em países da União Européia em QUATRO anos (1,8 milhão)?

Uma tragédia humanitária de tal porte não pode ser vista com antolhos ideológicos. É inconcebível e inaceitável sob qualquer regime de direita, de centro ou de esquerda. Não é o governo que precisa ser salvo e que merece a nossa solidariedade. É o povo venezuelano.

No ponto que a coisa chegou, todos os lados têm de ceder algo para viabilizarem um GOVERNO DE SALVAÇÃO NACIONAL, que receba ajuda do resto do mundo para começar a reverter esse quadro.

Sou um revolucionário à moda antiga: meu compromisso primordial é sempre com os explorados, não com governos que falam em seu nome mas, às vezes, não passam de nomenklaturas cujos dirigentes compõem CASTAS exploradoras tão odiosas quanto as CLASSES exploradores que nós combatemos.

Alessandro Alcântara disse...

André, essa guerra não começou hoje. Deste final de 2014 que a Direita iniciou essa batalha de comentários em massa pra intimidar a Esquerda e implantar uma sensação de maioria direitista, pro leitor médio ser manipulado. Isso implantou o bolso-fascismo que vivemos hoje, e se a Esquerda tivesse reagido a isso deste cedo (só agora que o estrago tá feito que aparecem?), o Bozo nem conseguiria ter ido ao segundo turno, já que ele é o primeiro a conseguir se eleger por 90% de propaganda online. Eu passei a comentar aqui por causa disso, combater esse macarthismo cultural da internet, e também porque leio esse blogue deste 2013. Aprendi muita coisa aqui.
É até triste e desconfortável eu ser compelido em usar tom mais agressivo num blogue cujo autor preserva a serenidade, o problema é que na internet de hoje é levado mais a sério quem comenta com tom de contenda. Essas doidivanas da internet são a nova máquina de fazer doido.

Anônimo disse...

Celso, ainda não percebeu a essa altura que o ideal revolucionário que defende invariavelmente descamba para regimes totalitários? E que bobagem é essa de almejar o paraíso na Terra? Isso é autoengano.

celsolungaretti disse...

O ideal revolucionário que eu defendo jamais descambou para regime totalitário, pois nunca foi aplicado na prática.

Marx ensinou países desenvolvidos a construírem uma sociedade em que os homens tivessem atendidas suas necessidades materiais trabalhando muito menos e sendo muito mais livres e felizes.

Nunca deu receita para nações atrasadas se alçarem do fim da fila para a vanguarda do progresso, queimando um montão etapas.

A realidade das revoluções russa, chinesa, cubana, etc., foi exatamente esta, combinando tarefas das revoluções liberais e tarefas de revoluções socialistas. Não podiam dar certo.

Então, o que se construíram foram regimes híbridos que se deformaram e acabaram dominados por nomenklaturas.

Como o capitalismo está conduzindo a humanidade à debacle econômica e a uma terrível crise ecológica, a hipótese marxista ainda poderá ser testada, como alternativa à hipótese liberal que já o foi e fracassou em definitivo.

Anônimo disse...

Celso, apesar de discordar, não posso deixar de dizer que o admiro por responder pacientemente e expor honestamente suas opiniões. Quando ousei opinar em outros blogs de esquerda, fui sumariamente bloqueado. É um jornalista sério e aberto ao diálogo, qualidades raras hoje em dia.
Bom, isso de o marxismo nunca ter sido aplicado é a velha desculpa de sempre da esquerda para evitar a autocrítica, não? Se assumirem que seu ideal produziu aberrações como o stalinismo, ficariam desnudados e seriam obrigados a rever crenças sustentadas ao longo de toda uma vida. Mas o fato é que o socialismo tentou ser implantado diversas vezes e não funcionou, como ensina a história do século XX.
Por mais que o ideal romântico socialista seja sedutor (a mim não, pois não gosto da ideia de construir uma nova sociedade utópica, pois tal premissa justifica regimes totalitários), isso não significa que seja factível. O marxismo é um movimento cultural, mas que parte de uma teoria econômica. E esta teoria econômica está equivocada. A ideia de mais-valia não faz sentido economicamente. Também é falsa a noção de que um fenômeno altamente complexo e incompreensível como o mercado possa ser domado pelo Estado.
O livre mercado não é uma ideologia imposta artificialmente como o marxismo, não surgiu da cabeça de um "gênio". É um fenômeno econômico natural, com traços primitivos identificáveis até mesmo na pré-história (época em que já existiam formas iniciais de comércio), pois o homem tem vocação inerente para as trocas e para a busca de utilidades/comodidades. Este fenômeno foi apenas detectado por autores como Adam Smith e Mises, não pré-concebido.
E a ideia alarmista de que o capitalismo está próximo do fim é aventada por autores pré-marxistas há quase 250 anos. Todas as previsões nesse sentido fracassaram. E, embora não seja um sistema ideal (não existem sistemas ideais), é o melhor possível, assim como ocorre com a democracia. Basta comparar os dados sociais desde a época de Marx até hoje para ver como suas previsões eram furadas: a qualidade de vida aumentou e muito desde a revolução industrial - vivemos muito mais, há muito menos miséria, há maior nível educacional, etc. Claro que a distribuição não foi equânime, e a desigualdade é a principal disfunção do capitalismo, mas não há um único país em que os índices de qualidade de vida não tenham avançado consideravelmente nos últimos dois séculos. Sim, os países africanos e latinos continuam pobres, mas basta comparar os dados em qualquer um deles com os de cinquenta anos atrás para verificar como houve avanço. Uma exceção a isso? Coréia do Norte...
A afirmação de que o liberalismo fracassou em definitivo não faz sentido quando se verificam os dados. É apenas o desejo daqueles que eternamente torcem contra ele, sem sucesso.
O bom é um Estado que garanta mínimas condições de vida, mas em que exista livre mercado, sem o qual não há prosperidade econômica possível. Como beneficiar os pobres sem crescimento econômico? Até a China, que é uma ditadura execrável, abraçou o liberalismo econômico para se desenvolver. Quem seguiu o caminho contrário, do intervencionismo, amarga a miséria, a exemplo da Venezuela.

celsolungaretti disse...

Posso ser paciente, meu caro, mas você deve levar em conta que tenho 68 anos e não consigo mais manter, simultaneamente, a qualidade e rapidez de tempos idos. Comentários quilométricos, exigindo respostas idem, me consomem uma energia que preciso reservar para outros textos e outras batalhas.

Recomendo a leitura da série de três artigos que o blog publicou quando do centenário da revolução russa, começando por este: https://naufrago-da-utopia.blogspot.com/2017/11/mamae-revolucao-faz-100-anos-nesta-3.html Algumas de suas dúvidas ou alegações já estão esclarecidas.

Quanto a essa argumentação sobre livre mercado, desculpe, mas já cansei de ouvi-la e sempre me faz lembrar uma frase de um grande filme do Jean-Luc Godard, MADE IN USA: "Quando eu falo de um homem, é porque ele já morreu".

Simplesmente o capitalismo atingiu seu limite máximo de expansão e entrou em queda acelerada, à medida que o lucro continua sendo, sim, trabalho humano não pago ao seu autor, e que cada vez mais diminui a participação do trabalho humano na produção, o que produz distorções cada vez mais graves, até que desemboquemos num crash muito pior que o de 1929.

De qualquer forma, se é economia política o campo do seu interesse, recomendo ler os artigos do Dalton Rosado (este, p. ex., está na linha do seu comentário: https://naufrago-da-utopia.blogspot.com/2018/04/a-bomba-relogio-do-colapso-do-capital_3.html) e trocar ideias com ele. O Dalton é o especialista em economia política do blog e gosta muito de responder a comentaristas realmente interessados em aprofundar seu conhecimento.

Abs.

Anônimo disse...

Celso, obrigado pela resposta. Sei que é uma pessoa educada e gostaria de responder a todos que aqui comentam, mas não se sinta obrigado a isso. Responda o que puder e quando puder.
Lerei os textos recomendados.
Abs

Maria Antonia Dal Bello disse...

Celso, perder a calma em um espaço público, com palavras de baixo calão e sobretudo, mentirosas, não é papel de jornalista sério não! Críticas são necessárias, porém desconhecimento e deturpação, não. Precisa saber que o que está acontecendo na Venezuela, tem as mãos do imperialismo norte americano, que, junto com a oligarquia e as classes dominantes do país, está ocasionando o caos, com boicotes de mercadorias e violência nas ruas. Esse filme já vimos várias vezes, no Chile principalmente. Chamar de Estado Policial, é como colocar máscara no que acontece lá. É preciso saber que é o país que mais eleições democráticas (0bservadas por todo o mundo) faz. E que o governo é eleito em eleições limpas, não tem fake news como aqui. O país consegue resistir aos ataques imperialistas, porque lá o governo é composto por governo-forças militares-povo. Não fosse assim, já teria caido. Diferentemente dos militares entreguistas brasileiros, os de lá estão com o povo. Portanto, de que Estado Policial você fala? Sobre a emigração, realmente muita gente foi embora do país, devido ao caos provocados pelas Forças do Mal.Mas não se pode omitir o fato que o presidente determinou uma ponte aérea e terrestre, para trazer de volta os emigrantes, que, enganados, pensavam de ter uma vida digna em outros países (ledo engano, nem o dinheiro para a passagem de volta tinham). O plan Vuelta a la Patria, já levou de volta mais de 10 mil venezuelanos, e continua aberto. Quando retornam, recebem ajuda social de vários serviços. Querem criticar? Ok. Jornalismo sério, não omite dados importantes como esses e muito menos, perdem a calma e saem por ai a dizer bobagens e leviandades. Estou à disposição.

Maria Antonia Dal Bello disse...

Celso, não aquero abusar desse espaço. Só que acho importante esclarecer o assunto, ver visões diferentes, isso é democrático. Eu nem pensava que você publicaria minhas postagens. Abraço.

celsolungaretti disse...

Maria Antonia,

o Clóvis Rossi realmente utilizou um termo impróprio no contexto ("tarados"), o qual, contudo, não é uma palavra de baixo calão. Mas, para pessoas sensíveis, os sofrimentos que o Governo Maduro impõe ao povo venezuelano com seu autoritarismo e crassa incompetência são mesmo revoltantes.

Eu entrei aos 17 anos nas lutas sociais, aos 19 estava bem no olho do furacão (como dirigente de escalão intermediário da organização guerrilheira mais perseguida pela repressão) e, depois de sair mais morto que vivo dos porões, peguei o restinho do sonho das comunidades alternativas e, finalmente, fiz longa carreira jornalística.

Aprende-se muito numa trajetória dessas. Inclusive a discernir a verdade dos fatos da mera propaganda política. Infelizmente, os dois lados mentem, e mentem muito. Passei praticamente a vida adulta inteira fazendo a triagem, pois, na VPR, eu recebi a surpreendente missão de criar e comandar um serviço de Inteligência. Como era militante devotado, empenhei-me muito em aprender o ofício.

O jornalismo, depois, acabou sendo algo parecido: o jornalista passa o tempo todo tentando descobrir o que é verdade em meio à enxurrada de mentiras com que é bombardeado o tempo todo. Há muita gente querendo usá-lo e para mim foi sempre um ponto de honra não ser feito de bobo pelos canalhas da política, das finanças, do mundo empresarial e até das artes.

Enfim, você tem uma visão inteiramente moldada por veículos de esquerda tão manipuladores quanto os da direita. Sua visão da Venezuela é de uma inocência angelical. Trata-se, sim, de um estado policial, o pior da América do Sul neste momento.

Todos os seus indicadores econômicos são espantosamente ruins. Tem um índice de inflação que desconstrói qualquer país e a perda de peso da população (11 quilos em média) é um pesadelo. São pessoas ou zumbis?

Isto eu capto num sem-número de fontes e ouço do meu amigo chileno que tem parentes venezuelanos. Posso afirmar que, nos meus 68 anos de vida, só tive conhecimento de tragédias humanitárias tão extremadas em países africanos, nunca por aqui.

Sabe por que não houve até agora uma intervenção estrangeira lá? Porque aos reacionários interessa manter a Venezuela morrendo aos poucos, como um exemplo negativo que eles usam para satanizar a esquerda. E, infelizmente, isso funciona.

Então, não só tenho compaixão e solidariedade pelo povo venezuelano, mas também muita raiva do governo que criou essa situação calamitosa e hoje cumpre o papel de espantalho na propaganda inimiga.

Dois motivos fortíssimos para querermos que a situação mude o quanto antes, ao invés de acobertarmos um ditador fardado que se sustenta basicamente graças à superioridade militar, pois a batalha política já perdeu há muito tempo.

André Luiz disse...

Celso, obrigado pela resposta. Não sabe o quanto me custa falar algo aqui... Com você e Dalton já dizendo, basicamente, tudo. E meio difícil. Embora, graças a.... (Zico? Messi?) Seja um pleno espaço para discutir ideias. Grato

André Luiz disse...

Alessandro, você tem uma visão muito melhor que a minha para esquadrinhar o que acontece e vem acontecendo. Se você tem a mesma dificuldade que eu para falar aqui entre os caras que vivenciaram é pensam. Não tenha. Estou aqui todos os dias (e meus amigos por tabela). Vamos seguir. Espero ouvir mais vocês. Acho que aqui e um espaço de bom moderador.

Maria Antonia Dal Bello disse...

Pois é né Celso, você despolitiza meus argumentos,chamando-os de ingenuidade angelical e não publica minha réplica! Fácil né. Na falta de argumentação plausível, a última palavra fica com o "jornalista sério".

celsolungaretti disse...

Maria Antonia,

a que argumentos você se refere? Não havia nenhum realmente seu, só a propaganda enganosa que você absorve em veículos de uma esquerda totalmente desvirtuada e repete mecanicamente.

Mas, se você nem sequer percebia que tinha levado xeque-mate na argumentação e insistia em repetir esses odiosos clichês stalinistas, sou obrigado a deixar que o faça indefinidamente?

Não conheço veículo de imprensa que permita a leitores se manifestarem mais do que duas vezes sobre um mesmo texto por ele publicado. Sigo a mesmíssima regra.

Na verdade, nem duas intervenções suas caberiam, mas fui condescendente. Defender Maduro, que destruiu seu país, é ir contra quase todos os princípios deste blog, enunciados no topo da página inicial.

Temos compromisso com os direitos humanos e ele os infringe o tempo todo.

Com a liberdade e ele não passa de um tirano obtuso.

Com o pensamento crítico e ele impõe o pensamento único pela força.

E com a justiça social, mas o que ele produziu foi a igualação do povo por baixo, gerando uma miséria indescritível, da qual são poupados os sustentáculos do regime (os militares).

Por último: brasileiros ficarem defendendo o Maduro não alivia em absolutamente nada a situação de seu governo ditatorial, um morto-vivo esperando para ser enterrado.

Mas, brasileiros defendendo o Maduro são um argumento formidável para a direita nos apresentar como totalitários e afastar de nós os novos quadros de que precisamos desesperadamente para reerguer a esquerda.

Ou seja, defender Maduro é não apenas uma infâmia à luz dos verdadeiros princípios marxistas, como também uma tremenda burrice.

Assunto encerrado.

Related Posts with Thumbnails