terça-feira, 6 de novembro de 2018

PARA GILBERTO CARVALHO, PT DEVE FAZER AUTOCRÍTICA NA PRÁTICA E COMPOR UMA FRENTE COM OUTRAS FORÇAS DE ESQUERDA

Carvalho: "resistir a toda forma de privação da liberdade"
"...grande parte da mobilização dos corações e mentes se deu através do manuseio das redes sociais particularmente, Facebook e WhatsApp, no submundo. 

É o envio de mensagem de um jeito muito qualificado com conteúdo psicossocial de captação do ânimo das pessoas, do interesse das pessoas, que dá um salto de qualidade em relação a tudo anteriormente.

Para nosso aprendizado e da democracia, a gente precisa aprofundar um pouco mais qual é a natureza desse processo que levou as pessoas a mandar esse recado. Porque, aparentemente, é um recado de aprovação de uma candidatura que se afirma forte, que afirma que vai resolver todos os problemas, que autoriza a violência, a discriminação racial, de orientação sexual etc. e tal. Quer dizer, é uma viragem muito brusca naquilo que tem sido o recado político e as mensagens que a gente recebe.

A ironia é que é uma mensagem antipolítica contra um tipo de política, porque os que estão com Bolsonaro não são novos na política, nenhum deles, tirando o Paulo Guedes, que vai ser ministro da Economia. Bolsonaro tem 26 anos de mandato de deputado federal, Magno Malta não sei quanto, Onyx Lorenzoni não sei quanto [ambos iniciaram a carreira política nos anos 90]. 
"Problemas que magoaram, ofenderem, decepcionaram a sociedade"

E da pior política, porque são todos eles praticantes do velho fisiologismo, da manipulação religiosa (terrível no caso do Magno Malta!). A nós, cabe de todo modo entender alguns recados. 


O primeiro deles é que de fato precisamos muito retomar contato com a nossa base, a periferia, com aqueles que foram beneficiários da nossa política social, acho que não foram conscientizados da natureza desses benefícios sociais, do que era nosso projeto.

Esse antipetismo que surgiu aí, que para mim é uma pena que voa, é um antipetismo baseado na mentira. Mentira de que nós iríamos venezuelizar o país, a mentira de ter um kit gay contra família, toda essa multidão de fake news que não permanece.

Nós temos que olhar e procurar corrigir aquilo que de fato são problemas nossos. E que nós sabemos que magoaram, ofenderam, decepcionaram a sociedade. A nossa convivência com a política tradicional, o financiamento empresarial de campanha, junto com isso veio corrupção, na forma de arrecadar dinheiro para campanha, até em alguns casos o enriquecimento de algumas pessoas, embora muito poucas, mas teve. 
"Sair da burocracia e conviver mais com os pobres"

Isso sim a gente tem que encarar, que eu chamo de a gente visitar os nossos demônios. Nós temos que ter coragem de visitar, e, menos do que ficar fazendo uma autocrítica em praça pública, é fazer autocrítica na prática, mudar a nossa prática. Sair da burocracia e conviver mais com os pobres, fazer um trabalho de base novo de formação. 

Há um convite, de fato, para que o partido se repense do ponto de vista da sua prática profissional, a sua relação com a corrupção, a sua relação com os modos tradicionais de fazer governo, o fisiologismo do toma lá, dá cá.

Há um convite para a gente deixar a arrogância de lado e ter a humildade de reconhecer que essa primavera de novas energias que surgiram, sobretudo no 2º turno, não querem se enquadrar dentro de um partido e não querem ser hegemonizadas por um partido. É um convite para formação de uma frente que não seja apenas formal de partidos. Tem que haver a costura desse energia e a busca de encontrar caminhos e expressões que se adequem mais a essa mobilização.

Há também, naturalmente, um desafio enorme de, junto com essa frente, se fazer uma resistência à toda forma de privação da liberdade. Então, eu acho que as urnas dão esse recado. 
"esse governo pode ter destino semelhante ao do Collor"

Agora, insisto, tudo isso carece de uma análise mais profunda e também de um acompanhamento para gente poder ver no que vai dar.


Esse processo eleitoral me lembra muito quando Collor se elegeu presidente em 1989, pelas categorias manejadas, e acho que esse governo pode ter um destino semelhante ao do Collor, no sentido de uma grande promessa rapidamente frustrada."
(trechos de entrevista de Gilberto Carvalho, dirigente histórico do PT e chefe da
Casa Civil no primeiro governo de Dilma Rousseff, à repórter
Mariana Schreiber, da BBC News Brasil)

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