Das duas, uma: ou o presidenciável Jair Bolsonaro estava mesmo próximo da morte quando deu entrada na Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora após o atentado que sofreu na última 5ª feira (6), ou houve todo um esforço de campanha para impingir-se ao eleitorado um quadro mais sombrio do que o real.
A primeira hipótese, mais plausível, me obriga a considerar a possibilidade de que tenha estado sempre equivocado a seu respeito.
Pois seria tão bizarro seu comportamento — dois dias após quase sofrer morte violenta como possível consequência da violência que prega e exalta há décadas, se fazer fotografar dando tiros imaginários — que não haveria exagero nenhum em suspeitar de que ele possa estar sofrendo de insanidade mental, daí a chocante discrepância entre tal reação e a que qualquer pessoa normal teria.
A repulsa que suas opiniões desumanas e seu temperamento explosivo me causavam, paradoxalmente, fazia-me preferir ver nele um ogro e não um louco. Tinha receio de estar sendo preconceituoso.
No mês que antecede a escolha do novo presidente da República, contudo, não é mais tempo para melindres. Seria pusilanimidade extrema de minha parte deixar de alertar que um presidenciável com tantas intenções de voto talvez não tenha o necessário discernimento mental para o exercício do cargo.
E pode não ser nem mesmo uma afecção recente, pois há um episódio de três décadas atrás que, no mínimo, provoca estranheza: o seu plano esquisito de explodir os banheiros da Academia Militar de Agulhas Negras e de vários quartéis do Rio de Janeiro, seguido de sua esquisita decisão de contar tudinho para uma repórter de grande revista e até ilustrar o relato com desenho de próprio punho.
Justifica-se lançarmos agora um novo olhar para tal ocorrência. O jornalista Luiz Egypto, do Observatório da Imprensa, fez uma ótima síntese:
Jair Bolsonaro era então capitão do Exército, da ativa, cursava a Escola Superior de Aperfeiçoamento de Oficiais e morava na Vila Militar, na Zona Norte do Rio. Em setembro de 1986, ele assinara um artigo na revista Veja no qual protestava contra os baixos vencimentos dos militares. Por isso ele foi preso e, na época, sua punição provocou protestos de mulheres de oficiais da ativa – que, ao contrário dos maridos, podiam sair em passeata sem correr o risco de serem presas.
Bolsonaro tornou-se fonte da revista. Em meados de outubro 1987, a prisão de outro militar, capitão Saldon Pereira Filho, pelo mesmo motivo, levou à Vila Militar a repórter Cassia Maria, de Veja, destacada para repercutir o ocorrido. Ali ela conversou com Jair Bolsonaro, que estava acompanhado de outro capitão e da mulher deste.
Sob condição de sigilo, a mulher do militar contou à repórter – e depois Bolsonaro e seu colega confirmaram – que estava sendo preparado um plano batizado de Beco sem saída. O objetivo era explodir bombas de baixa potência em banheiros da Vila Militar, da Academia Militar de Agulhas Negras, em Resende (RJ), e em alguns quartéis.
...Veja não respeitou o off – no que fez muito bem, neste caso, pois do contrário estaria acobertando atos terroristas – e quebrou o pacto de sigilo com a fonte. A história toda foi contada nas páginas 40 e 41 da edição 999 (de 27/10/1987) da revista. A repórter Cassia Maria anotou em seu relato:
'...Perguntei, então, se eles pretendiam realizar alguma operação maior nos quartéis. Só a explosão de algumas espoletas, brincou Bolsonaro. Depois, sérios, confirmaram a operação...
Sem o menor constrangimento, o capitão Bolsonaro deu uma detalhada explicação sobre como construir uma bomba-relógio. O explosivo seria o trinitrotolueno, o TNT, a popular dinamite. O plano dos oficiais foi feito para que não houvesse vítimas. A intenção era demonstrar a insatisfação com os salários e criar problemas para o ministro [do Exército] Leônidas [Pires Gonçalves]'."
2 comentários:
como dizem..hospício sem bolsonaro é fraude
Bem diz o povo: de médico e louco, todos nós temos um pouco.
Ou, para enfrentar um louco só outro mais louco ainda.
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