Em sua edição dominical, a Folha de S. Paulo relembrou momentos do passado em que o presidenciável Jair Bolsonaro, sem a obrigação de ser comedido para não afugentar eleitores civilizados, mostrou-se exatamente como era e é: um devotado seguidor de Carlos Alberto Brilhante Ustra, aquele oficial do Exército que comandou o pior centro de torturas brasileiro dos anos de chumbo.
Entrevistado em 1999 no programa Câmara Aberta, Bolsonaro assim respondeu à pergunta sobre se fecharia o Congresso Nacional caso fosse presidente da República:
"Não há menor dúvida, daria golpe no mesmo dia! [O Congresso] Não funciona! E tenho certeza de que pelo menos 90% da população ia fazer festa, ia bater palma, porque não funciona. O Congresso hoje em dia não serve pra nada, só vota o que o presidente quer. Se ele é a pessoa que decide, que manda, que tripudia em cima do Congresso, dê logo o golpe, parte logo para a ditadura!"
Foi a mesma entrevista na qual defendeu a morte de 30 mil pessoas, incluindo o então presidente Fernando Henrique Cardoso:
Marcha de Jesus?! A verdadeira bíblia dele é esta aqui... |
"Através do voto você não vai mudar nada nesse país, nada, absolutamente nada! Só vai mudar, infelizmente, no dia em que partir para uma guerra civil aqui dentro, e fazendo o trabalho que o regime militar não fez. Matando uns 30 mil, começando pelo FHC, não deixar ele pra fora não, matando! Se vai morrer alguns inocentes, tudo bem, tudo quanto é guerra morre inocente".
Noutra ocasião, quando repercutiam pessimamente declarações que dera à imprensa defendendo a volta da ditadura, ele discursou no plenário da câmara e... reafirmou tal convicção!
"Sou a favor sim de uma ditadura, de um regime de exceção, desde que esse Congresso Nacional dê mais um passo rumo ao abismo, que no meu entender está muito próximo".Como diziam os antigos: quem não te conhece, que te compre!
Minutagem dos trechos principais: 14'55'', era favorável à tortura;
26'46'', fecharia o Congresso; 31'08'', mataria 30 mil e o FHC.
3 comentários:
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Depois da demagogia (para os leigos democracia) segue-se a tirania.
O demagogo procura a aprovação da maioria dando poder aos mais torpes criminosos (que são maioria na sociedade), mas ainda procura aparentar ser digno.
Contudo, os reflexos dessa "política" desgosta a população e elege o Tirano que promete acabar com a democracia.
Essa falha já foi apontada por Platão a milhares de anos.
Quem tem bons olhos, bem vê. Só se engana se quiser, ou porque quer!
A esperança continua sendo a ciência e o avanço tecnológico que, remotamente talvez, consiga estabilizar a sociedade num processo democrático.
Leia Marcuse, tem mais a ver com nossa época: hoje a ciência e o avanço tecnológico estão, isto sim, fornecendo ferramentas para o capitalismo manter sua dominação, mediante a manipulação científica das consciências.
O capitalismo agônico tange a sociedade para a entropia e a barbárie. A alternativa é dar-lhe fim de uma vez por todas, por meio da revolução.
Abs.
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Em momento nenhum meu pensamento diverge do de Marcuse.
O que talvez não tenha ficado claro é que entendo que uma Teoria necessariamente tem postulados observáveis. Que deve se basear em hipóteses e testá-las para consubstanciar teses que permitam a formatação de regras e Leis que possibilitam a previsão de eventos dentro o universo estudado.
Citei Platão porque a sua teoria política da degradação dos governos, até se tornarem tiranias, é referendada pela história.
Concomitantemente, os etologista vem demonstrando que talvez nunca tenham existido nem aristocracias e nem timocracias, mas sim oligarquias decaindo até tiranias.
A Teoria dos Jogos demonstrou que mesmo oligarquias, em algum momento, podem ser cooperativas.
Então, pode ser que tenhamos apenas oligarcas que uma hora apoiam demagogos e em outra tiranos.
Marcuse concordaria com isso.
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Quanto a tecnologia manipular consciências teria que dizer o que entendo por Consciência, o que me parece impossível.
Mas posso afirmar que um ser humano consciente nunca pode ser manipulado.
O que pode ser manipulado é a dualidade medo/desejo do ego, propiciado pela sua identificação com a personalidade (seu posto na hierarquia social).
Existem dois tipos de tolos: os que dizem que a vida é dual e os que afirmam que tudo é ambíguo (Marcuse incluso).
Os mais acordados sabem que a vida é causal.
Não importa o que você pensa, o que acha que é ou como se sente, mas sim como você age.
A sua ação é o que dá causa a tudo que ocorre consigo.
Extrapole isso para os povos e verá que é uma regra.
Diria mais: a causalidade é uma Lei, expressa matematicamente nas funções.
Portanto não é o dinheiro o problema, nem a faca e nem o caminhão, porém a maneira como são utilizados.
Obviamente forma e função denunciam a volição do seu criador, seu pensamento, seu nível de alienação ou consciência.
Mas nem tudo é tão óbvio.
Um punhal pode ser utilizado como bisturi e um bisturi como punhal.
O que faz a diferença é a ação de quem o empunha.
Nesse momento Marcuse aplaude.
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