sexta-feira, 11 de maio de 2018

DOCUMENTO SECRETO DA CIA REVELA QUE PELO MENOS 104 PRESOS POLÍTICOS FORAM EXECUTADOS NO MANDATO DE MÉDICI

Por Celso Lungaretti
Desde sempre eu tenho sustentado que os assassinatos, torturas e outras atrocidades perpetradas pela ditadura militar eram parte de uma política de Estado, com pleno conhecimento e anuência de toda a cadeia de comando das Forças Armadas, inclusive dos generais ditadores. 

E, claro, muitos outros companheiros, historiadores, jornalistas, escritores, artistas e cidadãos honestos já haviam chegado à mesma conclusão e a externado publicamente.

Ainda assim, é louvável que o Matias Spektor, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas, tenha desencavado um documento secreto da CIA (clique aqui para abri-lo) que confirma o que tantos já sabíamos. Serve para tapar a boca dos que negam estridentemente o Holocausto aqui praticado pelos néo-integralistas, enquanto que nos países civilizados quem nega o Holocausto praticado pelos nazistas se sujeita até à prisão.

Graças ao Spektor, ficamos sabendo que a continuidade das execuções, que já totalizavam pelo menos 104 assassinados ao término do mandato de Médici (1969-1974), tenha sido autorizada pessoalmente pelo ditador seguinte (Geisel), que delegou ao chefe do SNI (Figueiredo) a macabra tarefa de decidir quem morreria e quem sobreviveria:
"Eu já matei 104 pra te poupar trabalho"

"Este é o documento secreto mais perturbador que já li em vinte anos de pesquisa. 

É um relato da CIA sobre reunião de março de 1974 entre o general Ernesto Geisel, presidente da República recém-empossado, e três assessores: o general que estava deixando o comando do Centro de Informações do Exército (CIE), o general que viria a sucedê-lo no comando e o General João Figueiredo, indicado por Geisel para o Serviço Nacional de Inteligência (SNI). 

O grupo informa a Geisel da execução sumária de 104 pessoas no CIE durante o governo Médici, e pede autorização para continuar a política de assassinatos no novo governo. Geisel explicita sua relutância e pede tempo para pensar. 

No dia seguinte, Geisel dá luz verde a Figueiredo para seguir com a política, mas impõe duas condições. Primeiro, “apenas subversivos perigosos” deveriam ser executados. Segundo, o CIE não mataria a esmo: o Palácio do Planalto, na figura de Figueiredo, teria de aprovar cada decisão, caso a caso. 

De tudo o que já vi, é a evidência mais direta do envolvimento da cúpula do regime (Médici, Geisel e Figueiredo) com a política de assassinatos. E a pergunta que fica: quem era o informante da CIA?

O relato da CIA foi endereçado a Henry Kissinger, então secretário de Estado. Kissinger montou uma política intensa de aproximação diplomática com Geisel"
"Assassinos de razões! Assassinos de vidas! Que nunca tenham
repouso em nenhum de seus dias! E que até a morte
os persigam nossas memórias! Assassinos!"

2 comentários:

Valmir disse...

depois de tudo que se sabe não é ainda mais impressionante que os militares no poder (eleitores de bolsonaro) sejam uma opção cada vez mais sedutora e majoritária?
tal foi o tamanho da cagada da "esquerda" no poder???

celsolungaretti disse...

"Sedutora e majoritária"? Menos, bem menos. O fato é que o capitalismo, em seus estertores, engendra a barbárie.

Foi uma incrível tese do Engels que a esquerda prefere esquecer, referindo-se ao fim do Império Romano: quando um regime esgota seu potencial positivo e passa a ser um entrave para a ascensão da humanidade a uma novo patamar de desenvolvimento, se a vanguarda possível (no caso, os gladiadores de Spartacus) é anulada, sobrevém a barbárie.

O capitalismo há muito ultrapassou sua vida útil e está conseguindo conter a mudança necessária. A barbárie está aumentando. Esses pobres desmiolados que clamam pela truculência bestial nada mais são do que uma consequência.

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