Por Apollo Natali |
Nas feiras livres vazias, nas lojas vazias, nas papelarias vazias, nas oficinas vazias, nas portas de ferro abaixadas das fábricas vazias, nos bancos cheios, nas lotéricas cheias, nos metrôs e ônibus cheios, três assuntos: bolsos vazios, roubalheira dos políticos e justiça só para os que possuem.
Bem aventurados os que possuem, porque eles jamais verão o sol nascer quadrado.
Tem aqueles que esperam dias melhores com o troca-troca de políticos nas eleições.
Ai eu falo: não adianta, sai governo ruim, entra outro pior.
O brado, no mercadinho vazio: tem de pôr
os corruptos na cadeia!
Alguém sempre pergunta: por que o Supremo
Tribunal Federal não põe político meliante na cadeia? O que fazem os 11
respeitáveis velhinhos integrantes do STF entrando e saindo pomposamente do
plenário cheio de blá-blá-blá de lei para cá e lei para lá?
Hoje há 369 inquéritos e 102 ações penais
dormindo nas gavetas do Supremo. A informação é do ministro do STF Luis Roberto
Barroso.
Indignados,
os simples. Todos: no Brasil a justiça só é severa com os três pês : pobre,
puta e preto. Esse linguajar é particular, inteirinho deles, mas é também meu e
igualmente do país inteiro. Faz tempo.
O Brasil afundou de vez, concordamos. Nosso enorme e querido país é agora alvo
de chacotas no mundo todo.
A última é a capa do jornal Le Monde. Num palanque do tempo da idade média, o ministro Gilmar Mendes é o pato de Troia, a comandar a execução da Justiça, algemada e pendurada numa forca. O presidente da República, empertigado, com a desacreditadíssima faixa no peito. O povo, com trajes daquela época e números dos jogadores da seleção brasileira nas costas. O que o chargista quis dizer com isso?
A última é a capa do jornal Le Monde. Num palanque do tempo da idade média, o ministro Gilmar Mendes é o pato de Troia, a comandar a execução da Justiça, algemada e pendurada numa forca. O presidente da República, empertigado, com a desacreditadíssima faixa no peito. O povo, com trajes daquela época e números dos jogadores da seleção brasileira nas costas. O que o chargista quis dizer com isso?
Mais agitados ainda se mostram os simples ao
serem lembrados da podridão impune. E é bom mesmo ajudá-los a lembrar!
Em 2016, p. ex., cálculos obtidos a partir do
cruzamento das delações de integrantes da construtora Odebrecht e das suas
planilhas de propina revelaram um saldo de 40 senadores, 200 deputados e 16
governadores envolvidos no mega-esquema de corrupção comandado pela empresa. Seu
presidente, o maestro da orquestração de afundar o país, está solto.
Nunca na história deste mundo, tamanha
putrefação dos costumes políticos. Vomitemos, vomitemos até as tripas.
Um ou
outro na feira-livre grita: é preciso uma revolução!
Concordo. Tenho até uma ideia.
Uma revolução nos costumes políticos. O primeiro
alvo do bombardeio dessa rebeldia é o
odioso foro privilegiado. A munição, uma saraivada de petardos humorísticos
contra os envolvidos nesses costumes. O humor é instrumento universal de
redenção dos povos, disse um dos maiores deles, Henfil.
Confirmavam os latinos que a
pseudo-respeitabilidade dos políticos é o ridículo: ridendo castigat mores. Rindo, esculhambamos com os
maus costumes.
Pois bem, esta revolução dos costumes já começou e prontamente ganhou dois
combatentes de peso: o juiz Sérgio Moro e o ministro Barroso. O juiz disse que abre mão do foro privilegiado para
ele. O ministro defende o fim desse hábito político pernicioso de garantir
impunidade para crimes hediondos contra a nação.
Nos Estados Unidos não há um cidadão
sequer com foro privilegiado. Isso é que é país. Na Alemanha, apenas um. No
Brasil, há 45.300 desses vampiros da coisa pública.
O Congresso, com a maioria dos nobres
colegas suspeitos de corrupção, não vai derrubar essa nojeira. A única
esperança é o STF.
Derrubado o foro, forma-se uma bola de neve a
crescer e a se agigantar. Os mais de 20 mil juízes de todo o país vão passar a
salivar em cada julgamento de corrupto. Vai virar moda.
Pois tal nauseabundo instrumento de
impunidade, o foro, é campo minado, responsável
pelo aniquilamento da economia, do direito das pessoas, suas dignidades, da
esperança do brasileiro em não viver um apavorante ocaso neste país, hoje em
estado de barbárie movido a livre perpetração de delinquência.
Meter um menino na cadeia portando alguns gramas de maconha e não um agente político que cometeu fraude de milhões é a canalhice da justiça brasileira, disse o ministro Barroso.
Não, ministro, a hedionda canalhice da justiça brasileira é o rigor apenas contra os três pês.
Não, ministro, a hedionda canalhice da justiça brasileira é o rigor apenas contra os três pês.
Temos de trabalhar para sustentar nossas
famílias. Merecemos um descanso em nossas poltronas no fim do dia. Brigar com
essa gente, os ladrões do dinheiro público, é perigoso. Eles são maus. O jeito é zombar deles.
Não vamos provocar. Em suas aparições, gozemos com a cara deles em silêncio.
Uma canção é o nosso canhão. A podridão é
o inimigo.
Uma canção, simples, de poucos versos,
criativa, fácil de lembrar, a ser cantarolada em alta voz ou apenas
murmurada, em nossas poltronas, no
trabalho, nas ruas, com os amigos, nas reuniões, nos botecos. Em todo o Brasil.
Sempre. Até o fim dos tempos.
Tem melhor do que a conhecida La cucaracha? A
letra é ferina, o ritmo é zombeteiro.
Cucaracha é barata, no dicionário. Mas tem outros significados. Um
deles, o nome da metralhadora do
revolucionário mexicano Pancho Vila. Era uma senha entre os combatentes.
Em
todo o Brasil, cada um de nós, 220 milhões de brasileiros, a cantar, a
cantar, a cantar. La cucaracha.
Está chateado com a montanha de cínicos representantes do povo no governo, aqueles ladrões? Sussurre La Cucaracha. É revolucionário.
É difícil acreditar no Brasil, não é mesmo? Mas é preciso acreditar. É possível acreditar. Os grandes navegadores não teriam molhado um dedo no oceano se não tivessem acreditado.
É difícil acreditar no Brasil, não é mesmo? Mas é preciso acreditar. É possível acreditar. Os grandes navegadores não teriam molhado um dedo no oceano se não tivessem acreditado.
Relaxe, é uma revolução sem canseira. Não
é preciso sair do lugar nem cavalgar um corcel branco nem agitar uma espada
cortando o ar. É só cantarolar La Cucaracha onde quer que estejamos, pode ser baixinho.
Em castelhano tem mais força.
Nem é
preciso cantar na cara dos assaltantes do país. Na frente deles, sorrimos e cantamos
sem som. Eles entendem.
Serve até para melhorar nossa auto-estima,
estraçalhada pela quadrilha impune que nos governa desde o Palácio do Planalto
aos bastidores da vida.
Nossa mensagem de nojo dos ladrões da pátria
não custa nada. Vai chegar até eles até pelo pensamento. Eles têm que sentir toda a aversão que o país
e o mundo guardam deles.
Um lugar estratégico para cantar La Cucaracha é o banheiro, onde todos temos de fazer aquelas coisas
diariamente. O cheiro vai envolvê-los por telepatia.
Nosso divertido versinho revolucionário: La cucaracha, la cucaracha, / ya no puede caminar / porque no tienne, / porque le falta / la patita principal.
Nosso divertido versinho revolucionário:
Nenhum comentário:
Postar um comentário