quarta-feira, 12 de julho de 2017

UM ALERTA: O PREÇO DA MALANDRAGEM É A PERDA DE LEGITIMIDADE DO JOGO POLÍTICO.

Por Celso Lungaretti
No momento mesmo em que era desfechada blietzkrieg Janot/Globo para derrubar Temer, eu já alertava que:
— não se conseguiria alterar para eleição direta a forma de escolha do presidente-tampão;  
— não se evitariam as reformas trabalhista e previdenciária, pois são uma exigência do poder econômico à qual o novo chefe do governo necessariamente se prostrará, como Dilma Rousseff se prostrou em 2015; 
— o eventual substituto de Temer seria tão ruim quanto ele ou pior ainda (um tucano que, de posse da caneta presidencial, articularia a vitória do seu partido em 2018).
Nem é preciso dizer que as três previsões se confirmaram; e que eu estava certíssimo ao advertir a companheirada que qualquer esquerdista que apoiasse tal golpe, estaria apenas botando azeitona na empada alheia.

Há quase dois meses, no dia 17 de maio (vide aqui), eu já escrevia que:
— afastado Temer,  o Congresso Nacional, pela via indireta, "elegerá presidente quem o sistema escolher. Com isto, sairia seis para a entrada de meia dúzia"; 
 "Presidente não passa de um miquinho amestrado da classe dominante. A burguesia está no poder e o presidente, de um jeito ou de outro, acaba sempre a ela servindo. Temos é de mudar a essência do poder, fazendo com que passe a priorizar o bem comum, e não mais a ganância e os privilégios de ínfimas minorias".
Não deu outra, como Elio Gaspari constata na sua coluna desta 4ª feira, 12, uma lição de realismo político para nossa desnorteada esquerda, que praticamente esqueceu os princípios revolucionários e quase nunca leva em conta a correlação de forças ao definir suas estratégias e táticas, daí só vir colhendo, há bom tempo, derrotas e mais derrotas.
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A TROCA DE SEIS POR CINCO E MEIO
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Por Elio Gaspari
Começaram as conversas para a formação do governo de Rodrigo Maia. Henrique Meirelles continua na Fazenda e quer nomear a diretoria do BNDES. Eliseu Padilha dança, mas Moreira Franco, casado com a mãe da mulher de Maia, fica. 

Os cortesãos disputam o tesouro do monarca encurralado. O ataque aos cargos de Michel Temer tem uma originalidade: trata-se de levar o que se pode, desde que tudo continue na mesma.

O Brasil ainda vive sua maior recessão. A estrutura partidária está dividida entre a cadeia, o medo e a perplexidade. O país amargou a queda de uma presidente da República e a ruína de outro sem que se discuta quem deve ir para o lugar. 

Milhões de pessoas foram para a rua pedindo a deposição de Dilma Rousseff sabendo que ela seria substituída pelo vice-presidente. Passou-se um ano, ele administrou uma agenda que nada teve a ver com a campanha em que se elegeu e colheu uma inédita impopularidade, envenenada por uma conversa de 38 minutos com um campeão nacional da roubalheira.
Gaspari está certo: seria troca de seis por cinco e meio...

Tirar Dilma era fácil. Ela sairia por uma porta e Temer entraria pela outra. Agora, a conversa é outra. Se Temer for deposto, será interinamente substituído pelo presidente da Câmara (Rodrigo Maia), que convocará uma eleição indireta, na qual votarão só deputados e senadores.

O tamanho da encrenca permitiria supor que houvesse uma discussão de nomes para o mandato-tampão de pouco mais de um ano. Seria o caso de se pensar em alguém que não estivesse no índice onomástico da Lava Jato. Nem pensar, a máquina oferece a perpetuação de Rodrigo Maia.

Deputado de pouco votos, ele entrou na política por direito dinástico, pois seu pai foi prefeito do Rio de Janeiro, permitindo-lhe a única e breve experiência executiva. Todos os políticos têm seus altos e baixos e Rodrigo Maia viveu seu momento demoníaco em abril de 2016, no dia da votação do impedimento de Dilma Rousseff. 
Ele foi ao microfone, atirou na doutora e dirigiu-se ao deputado Eduardo Cunha, que comandava a sessão: "Senhor presidente, o senhor entra para a história hoje". Em outubro o poderoso personagem entrou para a história da carceragem de Curitiba, onde ainda está.

Rodrigo Maia é visto como uma preferência do mercado e apresentou-se nessa condição, como paladino dos itens mais audaciosos da agenda de Temer. 

Há um componente mistificador nessa construção. A condição de queridinho do mercado é uma invenção da turma do papelório. O escolhido, ou vítima, é um simples coadjuvante.
...daí este paralelo hilário dos humoristas da web

O último queridinho foi Antônio Palocci. Preso em Curitiba, está colaborando com a Viúva e transformou-se numa alma penada para a banca que o aplaudia.

Apesar dessa mistificação ostensiva, a base de apoio de Rodrigo Maia não é a banca, mas a tropa de parlamentares que garantiram o que parecia ser maioria mágica da Temer. 

Assim, a turma do papelório finge que não vê a essência da base de apoio e ela finge que fará tudo o que seus mestres mandarem. (A reforma da Previdência foi tosada e a trabalhista, vendida.) 

O que poderia ser uma mútua enganação é apenas uma trapaça para iludir o eleitorado. O preço da malandragem é a perda de legitimidade do jogo político, ameaçando o que há de relevante no calendário: a eleição presidencial do ano que vem.

2 comentários:

Anônimo disse...

Toma vergonha Lungaretti. Tu nunca vai deixar de ser um carcamano...

celsolungaretti disse...

Não costumo colocar no ar meras grosserias, mas esta fez por merecer. Alguém que prefere atacar os outros ocultando-se no anonimato pensou que a alusão à minha ascendência italiana de alguma forma me abalaria.

Ora, sou neto de italiano por parte de pai, mas o coitado morreu em 1930, só o conheço por umas poucas fotos; e bisneto de italiano por parte da mãe. Nada que influísse na formação de minha personalidade. Identifico-me com a Itália de Giuseppe Garibaldi, Antonio Gramsci, de Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti, bem como com o maravilhoso cinema italiano de décadas passadas. Nada tenho a ver com a Itália que pariu Mussolini, Berlusconi e a Cosa Nostra.

Mas, já que o assunto veio à baila, um antepassado italiano teve um destino com alguns pontos de contato com o meu, conforme se pode ver aqui:
https://naufrago-da-utopia.blogspot.com.br/2016/11/tenho-um-antepassado-ilustre-angelo.html

Tudo considerado, não me orgulho nem envergonho de ter sobrenome italiano. Como revolucionário internacionalista que sou, encaro tal detalhe como irrelevante para avaliar-se qualquer pessoa.

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