O Zé Dirceu finalmente saiu da fase do resguardo que era obrigado a manter para não complicar sua situação jurídica e redigiu um artigo auspicioso para publicação na Folha de S. Paulo. Parece um maestro tentando recuperar o controle de uma orquestra que andou desafinando...
De um lado, faz a defesa dos erros cometidos pelo Partido dos Trabalhadores ao ingenuamente acreditar que se pudesse transformar o capitalismo pela via eleitoral, como se a democracia burguesa não fosse apenas o arcabouço institucional que protege a propriedade privada e existe para eternizar a primazia do lucro sobre os interesses e necessidades dos seres humanos.
Não era mesmo de supor-se que o Zé desse a mão à palmatória logo na primeira entrevista para um grande jornal após a hibernação forçada. A catilinária contra os que, com um mísero piparote parlamentar, deram fim à agonia de um governo sem rumo no espaço e desmobilizador do povo era mais do que previsível. Não passa de noblesse oblige.
O que realmente mostra ao que o Zé veio são os dois trechos nos quais cita uma palavrinha que tem andado ausente da retórica petista por muitos e muitos anos: revolução. São estes:
"A única solução razoável, antes como agora, é uma catarse, uma revolução política, econômica, social e cultural".
"O horizonte das forças populares e de esquerda deve ir além das próximas eleições presidenciais, agora ou no próximo ano. Podemos até vencer, mas sem ilusões: sob quaisquer circunstâncias, nosso norte é o avanço no rumo de uma revolução política e social, democrática".
Colocou as ressalvas que a cautela recomendava, afinal ainda não está totalmente a salvo de um recrudescimento repressivo. Mas eu sei, tu sabes, nós sabemos e ele sabe muito bem: revolução nenhuma é pacífica ou violenta por decreto.
Devemos sempre almejar transições pacíficas, sem derramamento de sangue, pois respeitamos a vida e lutamos para a dignificar.
Mas, tudo depende dos meios que o inimigo esteja disposto a utilizar para deter a marcha da História. A partir da assinatura do AI-5, p. ex., seria um disparate crermos que as flores pudessem vencer os canhões.
É, aliás, o recado que o Zé transmite nas entrelinhas, ao concluir desta forma o artigo:
"A meta é lutar, resistir e preparar um governo de amplas reformas. Sob a proteção de um novo pacto constitucional, originário das urnas, se a casa-grande voltar ao leito da democracia. Pela força rebelde das ruas, se nossas elites continuarem de costas para a nação".
Bem-vindo de volta, velho guerreiro! Espero que você traga consigo o espírito combativo que tanto faltou ao PT durante sua ausência. Até porque a força rebelde das ruas só atende ao chamado de quem quer mesmo tê-la a seu lado...
3 comentários:
Tem coisas que custo entender. O Zé traiu sua própria biografia e foi um dos que mais se locupletou do poder capitalista enchendo os bolsos de dinheiro. Não posso crer que seja digno desse comentário. Desculpe, mas esse cidadão não é paradigma para o que ainda resta da esquerda brasileira.
Ele cometeu erros, mas continua sendo um dos melhores cérebros que "o que resta da esquerda brasileira" tem. Passei um ano esperando que emergisse uma nova esquerda, empenhada em fazer a revolução e não em ganhar eleições e gerenciar o capitalismo. Não rolou. A derrota catastrófica de 2016 clamava por crítica e autocrítica. Não rolou. Então, resta o PT, repetindo todos os erros que conduziram ao impeachment da Dilma. E resta ao Zé, que pelo menos é capaz de perceber o óbvio ululante de que o PT precisa guinar à esquerda se não quiser tornar-se irrelevante. O artigo de hoje mostra que ele quer sacudir a pasmaceira do partido. Não custa nós o apoiarmos, contra o Lula, o Rui Falcão e outros adeptos da conciliação de classes. Já que as outras forças não têm garra para substituírem o PT, resta-nos ajudar, à distância, os que querem conduzir o PT para a direção certa.
Foi o Z´w quem convenceu o Lula à fazer alianças com o PMDB,, prá ganhar o "puder"... agota já era !!!
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