segunda-feira, 8 de maio de 2017

DALTON ROSADO REVELA O QUE A GRANDE IMPRENSA NÃO PODE DIZER

"Se você não cuidar, os jornais farão você odiar as pessoas
que estão sendo oprimidas, e amar as pessoas
que estão oprimindo" (Malcolm X)
.
O noticiário político televisivo, que agora atrai muita audiência por rivalizar com o noticiário policial que sempre exerceu um forte atrativo perante as pessoas em geral, tem características de afirmação sistêmica incorporadas automaticamente pelos profissionais de imprensa. 

Os jornalistas que fogem dessa camisa de força têm de se virar nos trinta para sobreviver como tal.

O legal é o justo, segundo a concepção jornalística da grande mídia. 

Em assim sendo, tanto o Direito legislado (ainda que o seja por legisladores da estirpe que temos e como resultante da lógica democrática do capital), a Constituição Federal e os princípios republicanos são fundamentos sacrossantos que devem balizar todos os comportamentos e de cuja defesa os jornalistas não podem se afastar.

Ora, o legal, sob a lógica do capital, é manifestamente injusto, por erro essencial de formação; e a defesa do legal, sem qualquer questionamento sobre sua base constitutiva, corresponde à positivação de algo que é intrinsecamente negativo. 

A grande imprensa critica a corrupção denunciando todos os partidos, mas dá maior ênfase aos políticos corruptos de esquerda, não apenas por estes estarem agora rasgando a aura de dignidade que antes era inerente aos que contestavam o jugo do capital, mas, principalmente, em função do interesse empresarial midiático sistêmico e seus lucros implícitos. Os jornalistas afinados com a voz do dono geralmente creem estar defendendo não apenas o salutar direito à informação, mas aquilo que é justo. Enganam-se, contudo.      

Tais jornalistas cometem o erro que a própria esquerda comete: não percebem a essência corruptora na forma de relação social que vem sendo desenvolvida e adaptada há 3 mil anos. Uma corrupção original.

Deixam de denunciar a segregação do capital, alvejando apenas algumas de suas consequências periféricas, como a corrupção com o dinheiro público, por estarem submetidos à camisa de força do órgão no qual trabalham, cujo objetivo final é o lucro, a forma fetichista de sobrevivência empresarial. 

Até os próprios empresários donos das empresas de mídia estão submetidos a tal camisa de força, da qual não podem sair; a diferença é que eles não querem sair...  

Ao criticar o capitalismo, a esquerda raramente levou tal crítica às últimas consequências; faltou abarcar a formação essencial do capital como um todo (valor, dinheiro, trabalho, trabalhadores e mercadoria). 

Ao invés de colocar em xeque a mediação social da forma-valor em si, sempre preferiu dar ênfase à luta de classes, daí decorrendo sua crença de que a classe dos trabalhadores deveria continuar existindo (apesar de ser a substância do capital), mas tendo pretensamente o controle sobre aquilo que a oprime, a espoliação patrocinada pelo capitalista. 

A esquerda nunca compreendeu que o objetivo da sua crítica deve ser a superação do móvel da exploração e não a dominação dos dominadores (os capitalistas também são dominados pela lógica fetichista, ainda que tenham seus privilégios de classe). 

A grande imprensa nem isto chega a fazer. Limita-se a cobrar postura digna dentro da indignidade inerente. 

Segundo ela, o grande empresário é o benfeitor que emprega milhares de trabalhadores, não o detentor de horas de trabalho abstrato traduzidas em patrimônio, mercadorias, dinheiro e privilégios do poder que acumulou em face da extração de mais-valia dos trabalhadores (ainda que o dito cujo também obedeça ao fetiche do capital, sob outra forma e comodidade, agora acompanhada do estresse da autofágica corrida concorrencial de mercado). 

Na esteira desta postura facciosa e parcial, a defesa midiática de postulados republicanos, tidos como artefatos inquestionáveis da nossa história recente, alicerça-se em falsos valores sociais e institucionais de igualdade, fraternidade e liberdade. 

A grande imprensa se mostra estarrecida com a barbárie em curso, que é obrigada a noticiar (até porque tais notícias dão lucro) como se fosse resultante de fatores externos, malignamente subjetivos e vindos de fora para dentro dos inquestionáveis e virtuosos valores republicanos. Jamais podem dizer que é o capital, defendido filosoficamente pelos princípios iluministas republicanos, a causa do mal social que ora se aprofunda. 

É neste sentido que o jornalismo corrobora a exploração do capital mesmo no momento de sua evidente incapacidade de prover minimamente a capacidade de consumo da maioria da população, bem como de ser fator da promoção da paz social. 

Questiona as práticas em curso por parte dos políticos e partidos conluiados com maus empresários, sem jamais questionar a negatividade das instituições do Estado e do próprio capital, o qual, no seu vazio fim em si autotélico de reprodução continuada e segregacionista, é o responsável último pela barbárie que nenhum contingente policial militar é capaz de conter. 

Defende a essencialidade da existência do Estado como se fosse uma esfera acima do bem e do mal, corroborando assim o sentimento das esferas de poder estatal (caso, p. ex., do Poder Judiciário, que não se cansa de defender os postulados republicanos burgueses como se eles fossem o santo graal da purificação dos pecadores).

O jornalismo, em si, constitui-se numa profissão digna e importante como qualquer outra; mas, sob a égide do capital, está longe de ser o apanágio da liberdade e defesa de dos interesses e direitos coletivos. A grande imprensa está contaminada pela imposição do fetichismo da mercadoria, cumprindo, portanto, o desserviço de informar positivando o negativo modo de ser social sob a forma-valor – o capitalismo.  

Mas, ainda haveremos de ter um jornalismo crítico e imparcial, quando a sociedade finalmente emancipar-se das amarras do capital e de seus construtos institucionais! (Por Dalton Rosado)

Um comentário:

Valmir disse...

Nunca é demais lembrar: 90% dos políticos se iniciaram na carreira do crime e da mentira como advogados ou jornalistas.
E quando eventualmente bandidos são acuados no momento do assalto ou do seqüestro com reféns quem eles exigem que se apresente para que se entreguem??? Infalivelmente a mídia em primeiro lugar e a OAB...afinal nos momentos de aperto só podemos contar com os amigos não é?

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