sábado, 27 de maio de 2017

LAVA-JATO E ORGANIZAÇÕES GLOBO: O QUE UNE ESTE ESTRANHO CASAL? EIS UMA EXPLICAÇÃO INTERESSANTE.

Toque do editor
Ando sempre à cata de análises alternativas da crise brasileira, que fujam à unanimidade burra atualmente predominante tanto no campo da direita civilizada (a direita troglodita é um capítulo à parte) quanto no da esquerda desvirtuada, ambas cada vez mais equivalentes em essência, embora tudo façam para se diferenciarem na aparência. 

Um traço marcante da última é a insinceridade com relação ao papel que hoje desempenha: tornou-se o que a primeira sempre foi, uma mera força auxiliar do capitalismo. Reconhecer tal obviedade, contudo, prejudicaria seu marketing político. Maquiavel explica.

A novidade do mês foi a tramoia de policiais, promotores e procuradores que abusaram flagrantemente de seus poderes para, ao invés de investigarem crimes ocorridos, fabricarem acusações estridentes e panfletárias, visando à derrubada do fraco presidente Michel Temer e tendo as Organizações Globo como surpreendentes parceiras nessa empreitada.

A mais instigante interpretação que encontrei deste fenômeno foi a do jornalista Rodrigo Vianna, no blog O Escrevinhador. Vale a pena todos a lerem abaixo, com muita atenção! (Celso Lungaretti)
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O TENENTISMO TOGADO E A CRISE TOTAL: ESTAMOS
ÀS PORTAS DE UMA ANTI-REVOLUÇÃO DE 1930
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Por Rodrigo Vianna
"Estamos às portas de uma crise que já não é de governo, mas de regime”. A frase é de Marco Aurélio Garcia, ex-assessor internacional de Lula e Dilma, que, além de ter atuado nos bastidores dos dois governos, é historiador e observador da cena política.

Ao contrário do que se imaginava, a Lava-Jato e o movimento comandado por procuradores, juízes e delegados federais não tinham como objetivo apenas derrubar o governo Dilma, nem destruir o lulo-petismo – como davam a entender colunistas e políticos ligados ao tucanato.

Este blogueiro, desde 2015, lembra que a Lava-Jato tinha, sim, um claro viés antipetista; mas sempre foi muito mais que isso.

Enganava-se quem via na atuação de Moro, Janot e outros togados um projeto tucano. O MPF e o juiz das camisas negras fizeram uma aliança puramente tática com o PSDB e setores de centro-direita para atacar Lula e derrubar Dilma. Mas a Lava-Jato jamais esteve a serviço do PSDB – como os próprios jornalistas tucanos chegaram a acreditar.

Um analista entrevistado pela BBC usou uma definição interessante para a ação dos procuradores e juízes: seria uma espécie de tenentismo togado.
O autoritário tenentismo fardado de 1930...
O paralelo que se traça é com o movimento militar de jovens e impetuosos oficiais, que se levantou contra a República Velha, num longo enfrentamento que teve como desfecho a Revolução de 1930 comandada por Getúlio Vargas:
"Não parece haver um recorte específico no sentido de poupar os demais partidos. No fundo, o que os tenentes togados fazem é o processo da vida política brasileira como um todo: querem, em nome da ética jurídica, dos valores republicanos, erradicar a politicagem da cena brasileira. Mas é inegável que existe também um viés antipetista, às vezes por questão de classe, às vezes por perceberem a mistura de socialismo com corrupção como satânica ou herética"(Christian Edward Cyrill Lynch, doutor em Ciência Política pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
O tenentismo teve o papel de ajudar a demolir a velha ordem. Alguns tenentes foram levados ao governo de Vargas pós-1930, na qualidade de interventores estaduais. Outros caminharam para o prestismo que depois comandaria o Partido Comunista do Brasil durante cinco décadas.
...e o igualmente autoritário tenentismo togado de 2017.
Mas o tenentismo, ótimo para demolir a velha ordem, não tinha um projeto para colocar no lugar da velha República. Na última hora, um político advindo da velha ordem (Getúlio Vargas, que fora ministro de Washington Luiz, último presidente da República Velha) assumiu o poder e lentamente construiu uma nova ordem.

O paralelo termina aqui. Está claro que, ao contrário dos tenentes (que eram ingênuos e sem projeto, mas lutavam pela modernização do país), os procuradores/delegados/juízes do século XXI não têm um sentido de construção nacional. Mas de demolição pura e simples.

Estamos diante de uma crise de regime, sim. Que, se chegar ao ápice, pode levar à destruição não só do lulo-petismo, mas de toda a ordem democrática implantada desde a Constituição de 88. E mais que isso: em certo sentido, pode levar à destruição do longo projeto de Estado Nacional iniciado em 1930.
Valor de mercado da traição subiu muito desde as 30 moedas do Judas

O sentido de tudo que aconteceu de 1930 para cá foi: o Brasil pode ser um Estado autônomo, pode incluir as massas no desenvolvimento (com mais ou menos direitos, mais ou menos liberdade) e o governo cumpre papel central no desenvolvimento, dada a incapacidade da burguesia de liderar qualquer projeto nacional.

Os militares de 64 não ousaram confrontar a herança varguista de Estado. Collor tentou, e caiu. FHC anunciou que enterraria a Era Vargas, mas não conseguiu – seja porque dentro do PSDB ainda havia setores que seguraram a onda ultraliberal, seja porque na oposição o bloco PT/CUT/movimentos sociais/partidos de esquerda foi capaz de resistir ao desmonte.

O tenentismo togado, agora, propõe (talvez sem a devida clareza, mas por ações práticas) uma demolição do Estado e das forças produtivas que o Brasil foi capaz de construir ao longo de mais de 80 anos. Estão na mira: Petrobras, BNDES, construção pesada, agro-indústria. É uma crise sem precedentes. Uma crise de regime. Uma espécie de anti-Revolução de 1930.

Assim como os tenentes não tinham projeto, mas apenas a energia renovadora, os togados não parecem ter outra função que não seja demolir tudo.
"A Globo pretende se safar do naufrágio"

Mas o poder, como sabemos, não admite vácuo. Alguém ocupará espaços. Se o tenentismo togado cumpre a tarefa de implodir o sistema político e de minar a própria ideia de um Estado forte, com vistas ao desenvolvimento, sobra o que?

Provavelmente, uma nova ordem baseada em iniciativa privada, visão gerencial privatista, abertura do país.

Muita gente se pergunta: por que a Globo foi com tanta sede ao pote na direção de destituir Temer? Ora, porque a Globo pretende se safar do naufrágio, pretende estar do outro lado do balcão se, e quando, a crise de regime levar de roldão PT/PSDB/PMDB e as agências federais de desenvolvimento – como BNDES, Petrobras e toda a longa e bem sucedida construção varguista do Estado.

A Globo é a organizadora do projeto privatista, do novo regime que já nos espreita na esquina da história.

Mas nem a Globo pode se salvar, se as delações de Ricardo Teixeira arrastarem para a fogueira da destruição os direitos de transmissão esportivas e os esquemas de lavagem de dinheiro já denunciados aqui.

Até 2 ou 3 meses atrás, setores mais responsáveis do centro democrático emitiam sinais de que era preciso salvar a política do avanço destrutivo representado pelo tenentismo togado. 

"Minha impressão é que vai surgir uma liderança autoritária"
Lula era visto como o nome que, de dentro do sistema político, poderia comandar a necessária resistência. Nelson Jobim e Renan, além do próprio FHC, chegaram a vocalizar essa estratégia.

Mas o tempo pode ter passado. A crise de regime pode arrastar a todos, sem exceção.

Em 1930, brotou na última hora uma solução autoritária (Vargas) que deu sentido para a demolição da República Velha. Um sentido nacional, de desenvolvimento.

Minha impressão (e espero estar errado) é que vai surgir nos próximos meses uma liderança autoritária, que ofereça um sentido para a destruição promovida pelo tenentismo togado. Mas agora um sentido regressivo, de recolonização do Brasil.

A anti-revolução de 1930 avança, e me parece que nem Lula teria força agora para deter a onda que se avoluma no horizonte.

3 comentários:

SF disse...

Percebo que você também está aceitando a hipótese de que o "tenentismo togado" (gostei da expressão) age por si mesmo.

Porém, discordo que permitirão vácuo no poder.

Há algum tempo vejo o MP querendo ser polícia e o juduciário querendo lesgislar. Daí a se imiscuirem no executivo de vez não será tão difícil.

Com os previlégios que já detém e a sua autoratária maneira de agir, decerto engendrarão um terrível estado policial e tirânico.

A serviço do moribundo capital.

O que inquieta agora é a possibilidade de o próprio país esfacelar-se na guerra fraticida pelo butim.

Como você vê essa possibilidade?

celsolungaretti disse...

Fiquemos no imediato, companheiro. Espero que essa baita vacilada que o Partido da Justiça acaba de dar recoloque as coisas no lugar. Esse período de excepcionalidade já se alongou demais. É hora de dissolver a força-tarefa e os casos de corrupção serem distribuídos para vários promotores.

Tudo dependerá de a tramoia resultar ou não. Se fracassar, o perigo de estado policial tende a ser afastado.

Abs.

jose olyntho disse...

Nao tem jeito. o povo ve de longe sem entender bem . Falta -lhe disposi;ao para a luta em consequencia da falta de consciencia politica . sobram- lhe aparelhos celulares. Tudo fica entre eles .

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