UMA ANÁLISE DA CONJUNTURA POLÍTICO-ECONÔMICA MUNDIAL
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"É mais fácil enganar o povo do
que convencê-lo de que
tem sido enganado"
(Mark Twain)
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Para os políticos profissionais, só há uma condição sine qua non, a de que o capitalismo não pode morrer. Para salvá-lo são admissíveis todos os métodos, quais sejam:
– arrocho fiscal;
– arrocho previdenciário;
– muros de isolamento para conter a entrada dos supérfluos da produção globalizada de mercadorias;
– política nacionalista que se traduz em protecionismo fiscal para os seus e globalização de mercado para as suas mercadorias em relação aos demais;
– exportação de armamentos cada vez mais sofisticados para faturar com a guerra e manter o poder nas mãos de aliados corruptos;
– negação do aquecimento global como resultante da emissão de gases poluentes na atmosfera e aceitação de crimes ecológicos em terra desde que produzam valor;
– postura xenófoba de pseudo-proteção aos nacionais e deportação dos estrangeiros;
– postura racista e sexista discriminatória das minorias que não se ajustam ao padrão branco, ocidental e masculino do homo economicus;
– exacerbação da extração de mais-valia relativa traduzida como busca incessante do aumento da produtividade per capita na base do “só fica quem produz muito, em menos tempo e com número menor de trabalhadores” e que é a causa do desemprego estrutural e da redução irreversível da massa global de mais-valia e reprodução do valor;
– rejeição a qualquer postura de conhecimento, esclarecimento e humanismo, que se traduz em exaltação do populismo mentiroso que promete o céu a partir da ida ao inferno;
– massificação do discurso que procura nos efeitos da crise do capitalismo a causa da crise (como a existência máfias, milícias urbanas e de grupos fundamentalistas sanguinários e repugnantes como o Estado Islâmico, Al Qaeda, Boko Haram, etc.);
– maliciosa responsabilização da execrável corrupção política e privada com o cada vez mais minguado dinheiro público, como pretensa causa fundamental ou única da crise sistêmica (a grande mídia dá auxílio precioso para impingir esta balela).
Há que se salvar o capitalismo ainda que morra a maioria dos seus súditos incautos, num caso típico de remédio que mata o paciente. Afinal, o objeto teleológico do capital não é o povo que o sustenta, mas a sua própria lógica funcional e a sua existência vazia de sentido humano.
É assim que raciocinam os executivos da estirpe dos Henriques Meireles da vida mercantil.
Tais posturas tentam tapar o sol com uma peneira e escamotear uma verdade que já não pode ser ocultada: o modo de mediação social próprio às sociedades mercantis, capitalistas, hoje one world (aí incluídos os pouquíssimos remanescentes do socialismo real ainda existentes), traduzido como sistema produtor de mercadorias, vive os seus estertores e a única solução viável é a sua própria superação, que somente pode ser entendida como produção de bens e serviços sem valor econômico e fora do mercado.
O resto é papo furado de quem tem medo do novo, seja por inconsciência, covardia, acomodação, ou pelo mesquinho interesse corporativo ou empresarial.
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UM FIM DE FEIRA EM ESCALA GLOBAL
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O quadro mundial é de recessão econômica e retrocesso social e político.
Os Estados Unidos, em que pese haver recuperado sob Obama os níveis de emprego, teve um crescimento do PIB em 2016 de 1,6%, percentual insatisfatório em termos mundiais (considerando-se que que é o principal importador mundial de mercadorias e tem o maior PIB do mundo).
Prenuncia-se por lá uma futura queda no emprego, instância última a ser atingida pela recessão ou crescimento econômico pífio. Isto sem se falar no endividamento público e privado insolvável, que mais cedo ou mais tarde fará ruir todo o edifício econômico-financeiro estadunidense, sustentado pela perspectiva de produção de mais-valia futura.
A renitente redução do crescimento do PIB chinês, agora fixado em 6,6% ao ano, representa um crescimento do PIB per capita de 1,3%, em termos de comparação aos valores econômicos absolutos estadunidenses, considerando-se que a população chinesa é cinco vezes maior que a dos EUA. Ou seja, o capital definha nas duas locomotivas econômicas mundiais.
Os juros negativos das aplicações financeiras na União Europeia, pari passu ao renitente e já prolongado emperramento da economia no velho continente, demonstram que o chamado 1º mundo já não consegue manter os seus níveis de riqueza abstrata e renda de sua população. Por lá o desemprego estrutural, principalmente entre os jovens, é uma realidade desconfortante para as estatísticas econômicas e uma realidade cruel para o seu povo, acostumado aos melhores padrões de consumo mundial.
O Japão tem a maior dívida pública do mundo, que se prenuncia como impagável e que se constituirá numa bomba mortífera mais devastadora do que as de Hiroshima e Nagasaki.
A situação dos países periféricos é de completa desintegração social, institucional e econômica (vide o caso do Brasil, antes oitava economia do mundo).
Daí é que derivam as constantes e cada vez mais participativas manifestações públicas de insatisfação contra tudo e contra todos, circunstância da qual procuram se aproveitar os populistas de plantão para a viabilização dos seus perigosos discursos vazios de conteúdo e repletos de promessas vãs.
A fuga para um passado reprovável é representada pelo discurso populista que, ao invés de propor formas alternativas de vida social sustentáveis, promete a volta melhorada aos tempos de outrora, uma pretensão sem nenhuma base concreta de realidade, posto que se utilizam do discurso de otimização de mecanismos ultrapassados que não são solução para o atual estágio de crise social.
O temor de uma fascistização do poder estatal mundial é real, pois a história registra as suas trágicas consequências, ainda mais agora, dado o poder bélico existente. Fico a pensar no que teria feito Hitler, acuado em seu bunker no centro de Berlim, prestes a suicidar-se com Eva Brawn e seu marqueteiro Joseph Goebbels, se pudesse apertar o botão de uma bomba atômica.
Da mesma forma o discurso populista de esquerda que promete redistribuição da riqueza abstrata altamente concentrada, regulação ecológica, combate ao islamismo e à repressão étnica e sexual, entre outras propostas periféricas, reformistas e irrealizáveis ou realizáveis (algumas), sem questionar a forma de mediação social pela forma-valor e a própria institucionalidade estatal da qual faz e quer fazer parte), representa um tratamento cosmético da crise, sem enfrentá-la na sua essência ontológica, o que leva necessariamente ao fracasso e ao descrédito.
Por Dalton Rosado |
Mais do que nunca é necessário negarmos o que está posto como resultante do passado reprovável (ainda que se conserve o que dele se pode extrair como válido), de modo a que possamos enfrentar o futuro sob uma base sólida de discernimento teórico e empírico.
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