quarta-feira, 5 de outubro de 2016

NOVA ESQUERDA PRETENDE MOSTRAR SUA FORÇA NESTE SÁBADO

"Nós, sobreviventes da utopia revolucionária, combatentes na luta por justiça e liberdade em nosso país e dispostos a nunca mais aceitar que aqui se implante uma ditadura, com o objetivo de construir o poder popular e implantar a democracia direta, levamos ao povo brasileiro a proposta de construção da Nova Esquerda, como espaço de integração, articulação e de fortalecimento das forças progressistas e revolucionárias do Brasil."

Assim se manifesta mais um agrupamento em gestação, neste momento em que várias forças de esquerda redobram esforços para preencherem o vazio aberto pela decadência do PT, que acentuou-se com seu desempenho sofrível nas últimas eleições municipais.

A Nova Esquerda se define como um "espaço político ideologicamente supra e pluripartidário, que tem como objetivo congregar e integrar todos os setores da esquerda brasileira, dos mais diversos partidos progressistas, movimentos sociais, organizações populares, redes e coletivos, para (...) se consolidar como movimento teórico e ideológico de ampla atuação de massa no país em defesa da democracia como valor universal e na construção do socialismo como modelo de desenvolvimento".

Neste sábado (8) vai promover encontros municipais nos quais será discutida, por três horas, a conjuntura nacional e internacional após as eleições municipais.
Por enquanto, nota-se a intenção de atrair pessoas das mais diversas correntes e tendências da esquerda, desde que não estejam identificadas com as práticas distorcidas da última fase do PT. Torço para que, no processo de discussão por meio da qual aprofundará suas posições, passe a adotar linhas mestras mais definidas e consistentes. 

Pois, p. ex., a "democracia como valor universal" nos conduzirá apenas a mais capitalismo – quando o que a esquerda precisa encontrar neste instante, pelo contrário, é o caminho da volta às origens (a luta de classe e a preparação da ruptura revolucionária), sem nenhuma condescendência com uma democracia que serve apenas para mascarar a dominação burguesa e o total avassalamento do poder político ao poder econômico nos dias atuais.

Mais informações podem ser obtidas no blogue da Nova Esquerda ou escrevendo para seu email.

7 comentários:

Eduardo Rodrigues Vianna disse...

Já vi esse filme, Celsão, e já sei como termina. Os caras tão lá dizendo que os núcelos de trabalho, compostos por dez pessoas mais ou menos, resolverão todos os seus assuntos de modo "consensual", porque o grande barato é a "horizontalidade", "sem hegemonia nem vanguardismo". Os caras falam ambiguamente em "democracia como valor universal", mas querem que o seu grupo funcione sem votações, isto é, pelo "consenso".

Esta é a conversa mais tola, infantil e autoproclamatória em que alguém pode cair, porque o tal "consenso" é ditadura de minoria. Você tem uma proposta majoritária, uma linha trabalho que convence a maioria, mas, se um grupinho ali não quiser, por algum posicionamento genuíno ou por um capricho pequeno-burguês, nada feito, porque não houve "consenso". É uma situação que tive o desprazer de presenciar muitíssimo em 2013. Fazer as coisas com base em "consenso" é fácil: é quase uma brincadeira se formos ver bem. Difícil é fazer as coisas tal como deveriam ocorrer na sociedade, com posições conflitantes sendo discutidas, votadas e deliberadas. Mas esta seria uma visão "autoritária" do trabalho político. Eu me pergunto se a "democracia direta" que esse pessoal quer implementar também seria na base desse tipo de presunção.

Quando aos locais em que essas reuniões do dia 8 devem ocorrer, bem, pode ser em qualquer lugar. Até mesmo na sede do PT, se houver "consenso".

celsolungaretti disse...

EDUARDO,

A COISA COMEÇOU COM ALGUNS SENÕES, COMO EU MESMO COLOQUEI. MAS, É SÓ UM PONTAPÉ INICIAL. QUANDO SE CONSOLIDAR, COM UMA CARTA-PROGRAMA E UMA ESTRUTURA DEFINITIVAS, AÍ PODEREMOS EMITIR UM JUÍZO DEFINITIVO.

POR ENQUANTO, ESTAREI TORCENDO PARA QUE NÃO SEJA, COMO VC DISSE, A REPETIÇÃO DE VELHOS FILMES QUE JÁ CANSAMOS DE VER.

ABS.

CELSO

Eduardo Rodrigues Vianna disse...

Você sabe que tenho muita estima pela sua opinião, Celso, mas estou mais cético do que você. A mim me parece que a recomposição da esquerda, num contexto muito especial em que vão aparecendo até mesmo novas forças produtivas, é trabalho para uma ou duas décadas, ou mais.

E, como disse um dia desses aquele europeu Zizek, o marxismo está aí também para ser subvertido. Isto é, temos a maior consideração pela tese de Marx, de que não importa compreender o mundo, mas modificá-lo. Porém, há momentos em que importa mais estabelecer uma boa compreensão dos processos e das coisas de uma maneira geral. Parece que a nossa época é um desses períodos que requerem muita compreensão, muito entendimento verdadeiro.

Quanto à autoproclamada "Nova Esquerda", a se reunir no dia 8 em todos os municípios do Brasil (por que não em todos os municípios da Via Láctea logo duma vez?), não há nada que me aborreça mais, na atualidade, do que esse horroroso discurso COSMÉTICO sobre a política. Logo, logo, teremos algum pós-partido pós-socialista e pós-latino-americano, pós-brasileiro também, em torno ao pós-trabalho neste mundo pós-industrial, em defesa da pós-educação pública, dos pós-hospitais, dos pós-professores e pós-médicos muito bem pós-pagos, do pós-saneamento básico, da pós-reforma agrária, e pós-etc, e pós-etc. Pode até não resultar em absolutamente nada, mas vai "lacrar" que é uma loucura.

celsolungaretti disse...

Vc é mais jovem, daí sua impaciência. Lembro-me de um companheiro que, lá por 1975, se lamentava: "os quadros bons foram morrer na luta armada e eu agora tenho de reerguer a esquerda utilizando a borra que sobrou no fundo do tacho...".

Mas, se queremos fazer algo, temos de aproveitar a matéria-prima que a História nos oferece. Não há outra.

Um abração, Eduardo!

Eduardo Rodrigues Vianna disse...

Não sou impaciente, Celso, ao contrário: tenho toda a paciência histórica que Lênin recomendava. "Em política, as coisas se resolvem amanhã ou depois, mas, em história, amanhã ou depois significa pelos menos alguns anos". O que eu sou é cético.

Abraços.

celsolungaretti disse...

Eu vi esses documentos da Nova Esquerda como o pontapé inicial de um processo que, se repetir o que ocorreu entre 1964 e 1968, será longo, com lançamentos de siglas, fusões, rachas, surgimento de novas lideranças, queda de velhas lideranças, etc.

Então, saberemos melhor até onde tal grupo irá a partir do lançamento de uma carta-programa e da estruturação orgânica. Mas, nem isto será definitivo, muita coisa tende a mudar ao sabor dos acontecimentos.

Enfim, é positivo que a esquerda esteja deixando de submeter-se à hegemonia do PT e agora se disponha a caminhar por suas próprias pernas.

Quanto às definições programáticas, talvez melhorem ao longo do processo (e nossas críticas poderão ajudar neste sentido), talvez não.

O certo é que o PT, com os intelectuais brilhantes de que dispunha em 1980 (tendo depois decepcionado e afugentado quase todos...), produziu um ótimo manifesto de fundação. Vide esta passagem, p. ex.: "O PT buscará conquistar a liberdade para que o povo possa construir uma sociedade igualitária, onde não haja explorados nem exploradores. O PT manifesta sua solidariedade à luta de todas as massas oprimidas do mundo".

Adiantou? Não. O igualitarismo era conversa pra boi dormir e as verdadeiras intenções do partido estavam, isto sim, expressas na carta com que Lula apaziguou o grande capital, para que este lhe permitisse assumir o poder.

Enfim, meu caro Eduardo, todos somos gatos escaldados, mas não podemos perder a esperança, se não nada sobrará. Proponho darmos um crédito de confiança ao pessoal da Nova Esquerda, atribuindo as imprecisões desses documentos iniciais à sua inexperiência.

Mais tarde, quando tiverem se revelado mais, na teoria e na prática, poderemos formar uma opinião mais taxativa a seu respeito. Vamos dar tempo ao tempo.

Eduardo Rodrigues Vianna disse...

Pois é, Celso, devemos ter boa vontade para com as coisas e pessoas na medida em que queremos alguma boa vontade também em relação a nós, agradeço por me fazer lembrar isto. Além do mais, para usar o pensamento de Mao, o critério da verdade só pode ser considerado a partir da prática. A minha bronca é quanto aos aspectos ideológicos desta nossa época, a moda atual, o enfadonho pós-modernismo político, com todos os seus conteúdos e características.

Nós nos habituamos a dizer, às vezes a papagaiar, que as velhas gerações de homens e mulheres de esquerda estão cheias de vícios. Mas a nova geração também está cheia, abarrotada de vícios. Alguns francamente absurdos ou ridículos, como aquela noção detestável de que a sociedade real e concreta deva ser encarada como o mundo de fantasia das redes sociais, em que as coisas podem ser resolvidas por "consenso".

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