Por Bernardo Mello Franco |
O NULO NO PALANQUE
Na reta final do segundo turno, o voto nulo virou tema central nas eleições do Rio e de Porto Alegre. A escolha de não escolher ninguém passou a inflamar o debate nas redes e a propaganda na TV.
Na capital gaúcha, o nulo ganhou status de candidato, com direito a jingle e até a passeata. Foi a resposta encontrada por eleitores de esquerda para uma disputa entre dois conservadores: Nelson Marchezan (PSDB) e Sebastião Melo (PMDB).
"Anula lá / Pegue um número aleatório e confirme depois / Anula lá / Eu prefiro votar no diabo do que nesses dois", prega o vídeo da campanha de protesto, que já soma mais de 200 mil exibições no Facebook.
A força do jingle tem preocupado o tucano e o peemedebista. "É a velha estratégia: se tu não consegue se defender e sair do meio da lama, tu joga lama em todos para dizer que todo mundo é igual", reclamou Marchezan, em entrevista a Paula Sperb.
"A pregação do voto nulo é negar a política. Negar a política é [promover] o surgimento de salvadores da pátria", endossou Melo.
No Rio, as pesquisas indicam uma avalanche de votos nulos na disputa entre Marcelo Crivella (PRB) e Marcelo Freixo (PSOL). Segundo o Datafolha, nada menos que 19% dos eleitores pretendem votar nulo ou em branco. Nas últimas duas eleições na cidade, o índice não ultrapassava os 9% na semana final da campanha.
Em desvantagem, Freixo mudou o discurso para tentar atrair quem não simpatiza com ele nem com o rival. "É muito importante que você não anule seu voto, não se anule", passou a repetir. Até aqui, o apelo não deu sinais de que vá funcionar.
Enquanto o candidato do PSOL tenta tirar os cariocas do muro, seu partido prega que os gaúchos permaneçam em cima dele. "O voto nulo não é nulo. Nem o branco é qualquer cheque em branco", diz uma nota da sigla. Por via das dúvidas, a psolista Luciana Genro passou parte do segundo turno no Rio, em busca de alguns votinhos para Freixo.
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Pitaco do editor |
EU VOTARIA ANTES NO
DIABO DO QUE NO CRIVELLA
A democracia burguesa é mera fachada para a imposição dos valores e interesses do grande capital, com o poder econômico determinando, por trás da cortina, para que lado penderão os supostos representantes do povo na tomada das grandes decisões.
Então, com o acachapante fracasso das recentes experiências neopopulistas na América do Sul, ficou mais do que evidenciada a inviabilidade da revolução pelas urnas. A conquista de presidências da república e maiorias legislativas, desacompanhada da organização das massas para dar um fim à exploração do homem pelo homem, levou invariavelmente às recessões agudas que estão derrubando um a um esses regimes híbridos nos quais a orientação governamental esquerdista coexistia conflituosamente com uma estrutura econômica capitalista (a Venezuela é, salta aos olhos, a peça do dominó que tombará em seguida).
Faz todo sentido, portanto, abandonarmos de vez as ilusões eleitoeiras e passarmos a lutar fora do sistema e contra o sistema, travando as lutas econômicas e sociais com a perspectiva de, por meio delas, irmos acumulando forças para uma futura ruptura revolucionária, pois todas e quaisquer conquistas dos trabalhadores jamais serão definitivas sob o capitalismo.
Em teoria, tudo isso é ponto pacífico, não há mais nem o que discutirmos.
Na prática, é simplesmente cruel o dilema em que tal posição correta nos coloca, quando no 2º turno para a prefeitura carioca se defrontam a Igreja Universal (Marcelo Crivella, este aqui) e o Psol (Marcelo Freixo).
Ou seja:
- de um lado, uma organização que arranca o couro dos coitadezas utilizando retórica religiosa e pode exercer uma influência monstruosa nos rumos nacionais se, ademais, tornar-se uma força revelante da política oficial; e
- do outro, o melhor partido que sobrou depois do vendaval que varreu a esquerda, embora cometa gravíssimo equívoco ao acreditar que seja possível reeditar o lado bom da trajetória do Partido dos Trabalhadores, mas sem enveredar pelos desvios que acabaram descaracterizando irremediavelmente o PT.
Mas, sinceramente, não gostaria de estar na pele dos eleitores conscientes do Rio de Janeiro. Eta decisão difícil de tomar!
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Reportagem de TV pegando Crivella na mentira
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