"O fascismo é a decadência do capitalismo"
(Vladimir Ilitch Ulianov, o Lenin)
Costuma-se considerar que a vida, hoje, é bem melhor do que foi outrora. As comparações sempre se referem às dificuldades materiais de sobrevivência humana no passado, tipo “eu andava uma légua a pé para ir a uma festa, e mais outra para voltar” ou “morria muita mulher de parto e muito recém-nascido”; e, ainda, “antigamente você tinha que se contentar com o que tivesse à mesa”, etc.
É verdade que no passado as dificuldades humanas eram graves. Entretanto, será que a modernidade é, de fato moderna, tendo a vida melhorado substancialmente? A resposta a esta indagação não pode ser outra senão um rotundo NÃO!
Se é verdade que hoje existe carro-pipa para levar a água até a casa do antigo retirante nos sertões nordestinos, que outrora morria de sede conforme epicamente narrado em O quinze, de Raquel de Queiroz; se é verdade que a prevenção do pré-natal reduz em muito a morte de mulheres e crianças; se é verdade que as vacinas evitam a poliomielite, a meningite, o sarampo, etc.; se é verdade que temos fogão a gás, energia elétrica, água encanada, etc.; é também verdade que convivemos com uma série de graves dificuldades que tornam a vida atual desnecessariamente caótica, como consequência de um modelo social mercantil exaurido.
A tal modernidade nos impõe um modo de viver que anula todos os ganhos relativos ao saber adquiridos durante milênios e, principalmente, nos últimos dois séculos.
Acaso é moderno termos de nos trancar em nossas casas, com cercas elétricas e dispositivos de filmagem, sendo mesmo assim assaltados e assassinados à luz do dia?
Acaso é moderna a existência de grandes contingentes humanos vivendo em favelas?
Acaso é moderno o horror do sistema hospitalar público e assistencial de saúde?
Acaso são modernas as prisões abarrotadas de presos, mais lembrando as masmorras medievais?
Acaso é moderna a fome que aumenta no mundo inteiro?
Acaso é moderno o desemprego estrutural, que tira do trabalhador a única forma de obtenção do sustento de sua família?
Acaso é moderna a agressão ecológica?
Vivemos numa sociedade decadente do ponto de vista moral (com a prevalência da corrupção e do conceito de levar vantagem) e, principalmente, do ponto de vista material. Tudo isso se deve ao mecanismo interno fetichista do sistema produtor de mercadorias, cujo fundamento é socialmente inconsciente, insensível e destrutivo (tanto que ora se autodestrói), precisando ser superado para que possamos nos beneficiar dos ganhos efetivos de séculos de evolução humana do saber.
É importante reproduzir uma afirmação de Marx, feita há exatos 159 anos, na qual ele conclui, com acerto, que as sociedades antigas eram melhores do que as atuais do ponto de vista dos seus domínios sobre as suas vidas sociais e interações com a natureza no sentido da produção de bens e serviços indispensáveis à vida, relevadas as precariedades inerentes ao incipiente domínio das ciências e excluindo-se desta análise o abominável escravismo direto.
É importante reproduzir uma afirmação de Marx, feita há exatos 159 anos, na qual ele conclui, com acerto, que as sociedades antigas eram melhores do que as atuais do ponto de vista dos seus domínios sobre as suas vidas sociais e interações com a natureza no sentido da produção de bens e serviços indispensáveis à vida, relevadas as precariedades inerentes ao incipiente domínio das ciências e excluindo-se desta análise o abominável escravismo direto.
Caso aquelas sociedades tivessem o domínio do saber científico-tecnológico que temos hoje, a vida social deles seria bem superior do ponto de vista social, em relação ao estágio atual das sociedades modernas. Vejamos o que disse Karl Marx sobre tal questão:
"A antiga visão, em que o ser humano aparece sempre como a finalidade da produção, por estreita que seja sua determinação nacional, religiosa ou política, mostra ser bem superior ao mundo moderno, em que a produção aparece como finalidade do ser humano e a riqueza, como finalidade da produção." (1)
Marx quis dizer que o homem moderno (hoje muito mais moderno do que em 1857, no sentido referido) vive para algo que lhe é estranho, ou seja, tudo que produz não é para si, mas para um ente abstrato (a riqueza abstrata da forma-valor) que, tal qual um Moloch faminto e cada vez maior, dela se apodera e submete quem a produziu materialmente. Na antiguidade a produção se dava em razão do homem, mas agora o homem vive para a produção, sendo a riqueza material transformada em riqueza abstrata alheia a si.
Há uma inversão de propósitos, na qual o meio de obtenção da vida (a produção de bens) se transforma num fim em si, vazio de sentido virtuoso (a produção de riqueza abstrata).
A esquizofrenia das sociedades modernas reside no fato de que obedecemos a um comando externo de produção que nos é nocivo e cujo domínio sobre nós sequer percebemos, pois temos a falsa impressão de que estamos no domínio da dita produção.
A esquizofrenia das sociedades modernas reside no fato de que obedecemos a um comando externo de produção que nos é nocivo e cujo domínio sobre nós sequer percebemos, pois temos a falsa impressão de que estamos no domínio da dita produção.
Marx nos ensinou que, numa sociedade emancipada, haverá o domínio humano da universalidade das necessidades, capacidades e fruições, bem como sobre as forças produtivas de sua natureza, sobre a elaboração absoluta dos talentos criativos numa totalidade. Disse:
"Na economia burguesa e na época da produção que lhe corresponde, a exteriorização total do conteúdo humano aparece como completo esvaziamento; essa objetivação universal como estranhamento total, e a desintegração de todas as finalidades unilaterais determinadas como sacrifício do fim em si mesmo a um fim totalmente exterior.
Por esta razão o pueril mundo antigo, por um lado aparece como mais elevado. Por outro, ele o é em tudo que se busca a forma, a figura acabada e a limitação dada. O mundo antigo representa a satisfação de um ponto de vista tacanho; ao passo que o moderno causa insatisfação, ou quando se mostra satisfeito consigo mesmo, é vulgar." (2)
Por Dalton Rosado |
"Não! Este é o preço da decadência social da chamada modernidade."
1 Karl Marx, Grundrisse, pág. 399, 1ª edição, Ed. Boitempo, 2011.
2 Karl Marx, Grundrisse, pág. 400, 1ª edição, Ed. Boitempo, 2011.
2 Karl Marx, Grundrisse, pág. 400, 1ª edição, Ed. Boitempo, 2011.
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