segunda-feira, 1 de agosto de 2016

QUEM É VOCÊ?

Que vitórias terá alcançado a Natália desde então?
Havia expectativa quanto ao primeiro brasileirinho ou brasileirinha a nascer no terceiro milênio, e também com relação ao nome que receberia. Seria o de algum revolucionário, como os muitos rebentos da geração 68 batizados de Ernesto em homenagem a Chê Guevara? O de um herói dos esportes, como o Romário que nos deu o tetracampeonato de futebol? Daniela, para lembrar a Mercury que canta e nos encanta?

Nada disto. A inspiração do nome da menina que nasceu à meia-noite em ponto do primeiro dia de janeiro de 2001, na cidade paulista de Sorocaba, veio do anseio dos pais de que ela alcançasse muitos triunfos na vida:
 Natália Vitória.

O nome é um modo de designar as pessoas. É como uma etiqueta colocada sobre nós. E é uma instituição jurídica. Muitos pais e mães, alguns irresponsáveis, outros visionários, andaram colocando nomes desmoralizantes em seus filhos. Isto não existe mais, porque agora os nossos oficiais de registro não aceitam nomes bizarros, evitando também os homônimos (quase sempre de famosos); se os pais insistem, entregam a decisão ao juiz.

Ninguém pode impedir que os pais escolham nomes de personalidades para seus filhos, como Lincoln, Washington, Jefferson, Margareth, Edson (o da lâmpada), Roosevelt e outros. Embora tenham se complicado os que, vivendo em países onde a esquerda não tem colher de chá, escolheram nomes incomuns como Lênin, Stalin, Trotsky, Fidel (o já citado Ernesto escapava, por já ser muito utilizado antes de certa foto correr mundo).


No tempo da segunda guerra mundial, o povo do nordeste do Brasil lia a placa da base da marinha dos Estados unidos – US Nave – e seus filhos passaram a se chamar Usnave.


Tamanha foi a pílula de westerns enfiados garganta abaixo aos cidadãos do mundo pelos Estados Unidos, que houve crianças batizadas com os nomes de Durango Kid, Jamesvest, Marlon Brando e quem procurar vai achar mais.

Eu sou Apóllo, que a partir do lançamento das naves à Lua, passou a designar tudo, desde funilarias e teatros até calcinhas. Meu pai é Cezar. Meu avô, Aníbal. Minha avó, Kzarina. Um primo, Homero. Um tio, Américo. Tias e primas têm nomes de flores: Margarida, Flora, Valquiria, Florisa, Rosa, Violeta, Jasmin. Minha irmã se chama Primavera.

No meu serviço tinha Ulysses, Narciso, Adonis, Hércules.

Quando me dizem que meu nome é o de um deus grego, o da beleza, modéstia à parte retruco que é também o nome de um inseto, apenas para ressaltar a transitoriedade das nossas vidas.

Mas há nomes que ultrapassam a imaginação.

O dono de um carro que comprei uma vez, se chamava Universo Trincado. Excelente pessoa que, certamente, não pode concordar com os juristas que dizem que o nome dá a chave da pessoa quase inteira.


No Nordeste era conhecido, há algumas décadas, o nome lança Perfume Rodo Metálico. Conhecidos foram também os nomes de Maria Tiburcina Prostituta Cataerva e Maria da Graciosa Rodela. Uma mulher morreu de parto e a criança se chamou Restos Mortais de Catarina.

Existem até colecionadores de nomes esquisitos, que falam em Cafiaspirina da Silva, Um Dois Três de Oliveira Quatro, Olindo Barba de Jesus, José Casou de Calças Curtas, Decênio Feverêncio de Oitenta e Cinco, Antonio Dodói.

Os jornais divulgaram certa vez nomes  de artistas de ópera. A família era formada pela menina Traviata, os meninos Trovador e Rigoleto. E também Crepúscula dos Deuses, Produto do Amor Conjugal de Maria América e Mariano Chaves.


O ex-presidente Getúlio Vargas, católico declarado, colocou  nome de protestante num de seus filhos: Lutero.

O povo já ouviu falar de gente chamada Oceano Pacífico e dos nomes literários dados aos filhos pelo então deputado Epílogo de Campos: se chamaram Prólogo, Soneto e Ementa. O que esperou fosse o último se chamou Epílogo Júnior. Mas veio mais um, menina, de nome Errata.
Ôps, Apolo errado!

Jerônimo Rosado teve muitos filhos e os chamou de Um, Dois, Três, e por aí vai, só que em francês. Um deles, o vigésimo, foi o deputado Vingt Rosado. O décimo oitavo, Dix-Huit Rosado.

Um nome sempre citado pelos catedráticos de Direito em sala de aula é Himeneu Casamentício das Dores Conjugais.

E você, quem é? (por Apollo Natali)



Um comentário:

celsolungaretti disse...

O DALTON ROSADO ME ENVIOU O COMENTÁRIO ABAIXO POR E-MAIL, PEDINDO QUE O POSTASSE:

"Caro companheiro Apollo Natali,

sou seu leitor assíduo e colega menor de escritos no blog; delicio-me com a singeleza dos seus artigos. Eles traduzem a sua alma generosa e demonstram ser você uma pessoa de convívio fraterno e que busca a correção num mundo que prima pela negação dos melhores valores morais.

O Jerônimo Rosado, que você citou, é meu tio-bisavô, e era farmacêutico formado no Rio de Janeiro, e radicado em Mossoró, RN (nos idos do início do século XX, o farmacêutico era de importância vital nas cidades, pois eram eles que manipulavam os remédios). Homem culto, era o sábio da localidade próspera graças à indústria salineira. Pai de uma prole numerosa de 21 filhos, nominou as mulheres com o nome de suas mães (ficou viúvo e casou com a cunhada, a pedido da esposa), e os homens com o seu próprio. Para diferenciá-los nominou as mulheres como com o nome da mãe, Isaura, com o complemento em francês (Isaura trezième, por exemplo), e os homens da mesma forma como Jerônimo (dix-sept, dix-huit, dix-neuf, vingt, e vingt-un, por exemplo).

Como se pode notar, os cinco últimos filhos foram homens (do 17 ao 21), e três deles se tornaram políticos importantes do Rio Grande do Norte (Dix-sept foi governador, que faleceu num desastre aéreo em 1951, quando se dirigia para um audiência com Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro; Dix-huit foi senador, deputado, prefeito, presidente do Inda, hoje Incra, e participava da comitiva de Jango na viagem à China, quando Jânio renunciou; Vingt foi deputado federal por mais de oito legislaturas, se não me engano. Vingt-un era o intelectual da família, criador da Escola Superior de Agricultura de Mossoró e editor da Coleção Mossoroense, com milhares de livros). Vingt-un era o primo que mais se identificava comigo.

De minha parte, sou o único rosado que se tornou vermelho (rs, rs, rs), e que agora já está mais pra preto.

Um grande e fraterno abraço, Dalton Rosado"

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