sexta-feira, 19 de agosto de 2016

PORQUÊS DO FRACASSO DO 'NACIONALISMO DE BLOCO' DA UNIÃO EUROPÉIA

"A UE deixou de cumprir a sua função e 
de satisfazer as necessidades e aspirações 
dos seus cidadãos. Caminha para uma 
desintegração desordenada que deixará 
Europa em pior situação do que se a UE nunca tivesse conhecido a existência." 
(George Soros, manipulador financeiro global)
Na história mais recente da humanidade, que compreende o período das civilizações antigas até os dias de hoje, assistimos a um suceder contínuo de mutações sociais como resultado da evolução do intelecto humano, muito embora tal evolução tenha se dado sob as formas negativas, como é o caso exemplar da escravidão direta de seres humanos por seus semelhantes. 

Entretanto, mesmo que consideremos a barbárie humana representada pelas guerras (só nos dois conflitos mundiais morreram cerca de 70 milhões de pessoas), podemos acreditar, a partir da superação da inconsciência social, somente possível com a tomada de posição sobre as raízes dos problemas social, que a humanidade venha a caminhar para um estágio moral e intelectual superior, solucionando os impasses que caracterizam o limite cíclico de cada modelo social.

De um modo ou de outro, por se constituírem como fenômenos históricos, portanto, mutáveis pela própria natureza, há um período cíclico de nascimento, vida e morte de cada modelo, observando-se a cada final de ciclo uma dilaceração da ordem social, em razão de que a forma de produção e seu correspondente arcabouço institucional já não dão mais mínimas respostas eficazes de sustentabilidade. Vivemos esse momento.

Os exemplos da saturação do modelo econômico globalizado atual, no qual os países têm um discurso hipócrita de busca da convivência harmoniosa, mas são impelidos à competitividade fratricida pela concorrência de mercado (na qual se busca, a todo custo, o sangue que irriga o organismo social público e privado representado pelo vazio fim em si autotélico da forma-valor), evidenciam-se agora nos desgastes da pretendida Unidade Econômica Européia. 

Com a crise causada pelo estouro das bolhas financeiras europeias a partir de 2008, foi para o espaço o ambiente de convivência de festa entre ricos e aspirantes a serem ricos no nacionalismo de bloco da União Europeia, estabelecendo-se então o salve-se quem puder fratricida. 

O Brexit nada mais é do que a expressão materializada da impossibilidade da pretendida harmonia do nacionalismo de bloco europeu entre competidores econômicos que buscam para si a antiga hegemonia econômica em tempos de crise, leitmotiv das grandes guerras mundiais que marcaram o genocídio europeu.

É impossível haver harmonia sob a lógica do valor, justamente porque não são os homens os sujeitos sociais, desalojados de tal posição pelo sujeito automático da forma-valor que lhe dá ordens expressas em cada mercadoria, na busca pela supremacia sobre as demais; cada mercadoria no mercado está em guerra com as demais, com a vitória dependendo do aumento do nível de produtividade, a ser obtido pelo uso da tecnologia na produção. 

Como o nível de produtividade é desigual de país para país europeu, ocorre o fenômeno da liberdade da raposa e das galinhas dentro do mesmo galinheiro. Logo que se confirma a vantagem da canídea sobre as galináceas, há uma tendência natural de as inferiorizadas quererem sair do galinheiro. O Brexit mostra, portanto, que não pode haver unidade entre desiguais no campo econômico, pois foi o capitalismo quem introduziu a necessidade dos estados nacionais como forma de promoção vantagem de uns sobre os outros. 
O transnacionalismo (que é o oposto do internacionalismo) defende a ideia de harmonia entre os povos na qual o que se produz aqui seja compensado pelo que se produz acolá e vice-versa, bem como o sentimento de solidariedade no sentido da troca de condições naturais e científicas de vivências e sobrevivência; representa a antítese das relações do capital internacional que apenas simula hipocritamente a busca desses pressupostos.      

A contradição fundamental causadora da crise global aguda do capitalismo (que piora o que sempre foi ruim) consiste na substituição do trabalho vivo, assalariado, pelo trabalho morto, das máquinas, aumentando o lucro individual de cada país, mas diminuindo concomitantemente a massa global de valor produzido. Assim, a impossibilidade material do indispensável aumento contínuo da massa de valor global como forma de viabilização da manutenção do organismo mercantil mundial decreta:
  • a inadimplência da dívida pública crescente;
  • a redução do estado a sua função precípua de manutenção da ordem econômica e militar, concomitantemente à supressão ou desqualificação dos serviços públicos;
  • o colapso do sistema financeiro a partir do momento que se evidenciar a insolvabilidade dos seus créditos podres;
  • o aumento do número de falências;
  • a fusão de conglomerados industriais e comerciais para fazer face à concorrência; 
  • as guerras bárbaras de sobrevivência nos continentes e regiões perdedoras na concorrência mercantil, cujos indivíduos são considerados como párias sociais que consomem sem produzir;
O exemplo da desintegração da União Europeia deriva de situações de realidades desiguais como a da Alemanha, que por seu alto nível de produtividade tecnológica de mercadorias vem obtendo aquilo que não conseguiu pelas armas, e passou a ditar norma de austeridade para os países membros, sem que estes últimos possam conseguir as mesmas condições alemãs de competitividade mercadológica e de enfrentamento da dívida pública crescente. 

O alto nível de endividamento alemão, de 71,2% do PIB, mas abaixo da média europeia, é sustentado pela obtenção de inimagináveis taxas negativas de juros com pagamento de longo prazo, diferentemente dos seus parceiros menos desenvolvidos da EU. Como, então, haver harmonia de convivência econômica entre parceiros competidores sob condições tão desiguais? 

Todas as sementes trazem no seu gene a concepção de sua essência, e o gene da forma-valor não admite lógicas humanistas e solidárias, pois, como disse o Prêmio Nobel de economia Milton Friedman, "there is not free lunch".  
Por Dalton Rosado  

Nenhum comentário:

Related Posts with Thumbnails