Nas dez primeiras disputas da Copa do Mundo (1930-1974), os sul-americanos empatamos com os europeus em 5x5: Brasil 3, Uruguai 2, Alemanha Ocidental 2, Itália 2 e Inglaterra.
Nas dez seguintes, perdemos de 6x4: Brasil 2, Itália 2, Alemanha 2, Argentina 2, França e Espanha.
O pior é que saímos de mãos abanando nas três últimas. Ou seja, o futebol europeu evoluiu e nós andamos para trás.
Durante 45 anos, a superioridade individual de nossos craques conseguiu pelo menos contrabalançar a melhor organização tática e jogo coletivo dos europeus, que frequentemente tiveram de apelar para retrancas e jogo ríspido para conter nossos endiabrados atacantes.
Nos 41 anos seguintes, o velho continente passou a formar jogadores mais talentosos e aprendeu a extrair maior proveito de sua vocação para o jogo coletivo. O defensivista catenaccio deu lugar ao futebol total holandês e, mais tarde, à revolução espanhola.
Os papéis se inverteram: enquanto os europeus se modernizavam, tocando mais a bola e procurando chegar ao gol por meio de jogadas trabalhadas, nós e os hermanos regredíamos:
Ótima charge de um jornal espanhol |
- quando atacados livrávamo-nos da redonda com chutões, por falta de qualidade para sairmos jogando;
- botávamos rústicos cabeças de área para servirem de cães de guarda do sistema defensivo; e
- tentávamos marcar gols em bolas paradas, apostando em que, de tanto alçarmos centros a esmo, um deles acabaria encontrando a cabeça certa.
Assim, não é só a cartolagem corrupta e incompetente que pode frustrar as esperanças de Tite, mas também os anos transcorridos até o futebol brasileiro despertar para o que se fazia de melhor no mundo.
Hoje já existem alguns técnicos veteranos e uma nova safra de treinadores que se esforçam por assimilar e reproduzir aqui os conceitos ofensivos do futebol espanhol e alemão, principalmente.
Para nossa infelicidade, temos também os que preferem inspirar-se na marcação total do argentino Diego Simeone, a nova alternativa defensivista, responsável por espetáculos horrorosos e por vitórias arrancadas com 99% de transpiração e 1% de inspiração. O também argentino Edgardo Bauza é da mesma escola e está propagando o mau exemplo no Brasil, tanto que a principal arma do outrora estilístico São Paulo passou a ser... o escanteio!
Custou, mas surgiu uma luz no fim do túnel! |
Com o atraso na atualização, Tite terá alguma dificuldade para montar um grupo de jogadores sintonizados na modernidade, ainda mais só dispondo dos atletas quando das convocações para as eliminatórias do Mundial e amistosos. No Corinthians, a introjeção de seus conceitos por parte dos jogadores foi fruto de muito treinamento.
Acredito que já se esteja mudando a mentalidade nas categorias de base, então as novas fornadas logo deverão vir com mais defensores capazes de colocar a bola nos pés de companheiros ao invés de rifá-la, mais meio-campistas criativos e com ampla visão de jogo, mais atacantes ecléticos que se desloquem por todos os espaços ao invés de ficarem confinados a uma determinada faixa do gramado.
E nos falta, claro, o cérebro da equipe, outro tipo de craque que não temos conseguido formar ultimamente.
Bem trabalhados, talvez o Jadson ou o Paulo Henrique Ganso consigam suprir esta lacuna. E Tite é exatamente o homem capaz de enxergar neles o potencial pelo qual passou batido o Dunga, que jamais, nem como jogador nem como técnico, soube valorizar a sutileza.
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