domingo, 29 de maio de 2016

PARA DALTON ROSADO, OS POLÍTICOS DEVEM SER BANIDOS JUNTAMENTE COM O CAPITALISMO.

O FIM DOS FINS DA POLÍTICA
Bastou a descoberta de um instrumento de coerção (prisão) concomitante à possibilidade de anistia parcial da prática de crimes (por meio da delação premiada) para que os políticos demonstrassem duas coisas: 
  • a podridão generalizada que caracteriza historicamente as relações do poder político; 
  • o caráter dos delatores.  
Como sabemos, o dinheiro do Estado, falaciosamente tido como coisa pública (res publicae), é na verdade tratado como coisa de ninguém (res nullius), desde o império romano, e tem a função estratégica de financiar a manutenção da opressão sistêmica perante aquele que sustenta o próprio Estado: o oprimido contribuinte, já espoliado pela extração de mais-valia capitalista, e ainda chamado ao pagamento dos impostos que financiam a máquina estatal. 

Dentro desse contexto de me engana que eu gosto, não é de se admirar que os políticos usem a máquina estatal em benefício próprio particular de enriquecimento, ou de financiamento do caríssimo processo eleitoral (no qual o próprio eleitor, percebendo intuitivamente o que está por trás de tudo, infelizmente, também se corrompe).
A Operação Lava Jato, ao instituir a prisão e posterior mecanismo de delação, encontrou uma forma de explicitar publicamente aquilo que todos nós já sabemos há muito tempo: que o processo político é uma corrupção só. Mas, também, trouxe ao lume uma novidade: o caráter oportunista e canalha dos políticos, quando demonstram ser meros alcaguetes de seus companheiros de roubalheira. 

Eles todos estão denunciando-se uns aos outros, num efeito dominó que parece atingir a torto e a direito, sem sobrar ninguém. Aí a farsa republicana da isonomia de suas práticas sociais se desmancha como um castelo de cartas carcomidas pelo cupim. 

Nesse sentido, lembro-me dos bravos militantes que lutaram em extrema inferioridade de correlação de forças contra a ditadura militar e dos muitos que, mesmo sob as cruéis torturas, padeceram sem delatar os seus companheiros de luta. A esses minha homenagem pelo heroísmo. 
 
A corrupção na política nada mais é do que uma correia de transmissão da corrupção própria ao poder econômico do capitalismo, modo de relação social no qual o princípio funcional teleológico não é a satisfação das necessidades sociais, mas a acumulação autotélica do próprio capital, vazia de sentido virtuoso, posto que, é um mecanismo de corrupção subtrativo da riqueza de quem a produz (o trabalhador), e que apenas faz uso, utilitariamente, das necessidades de consumo para atingir o seu objetivo tautológico negativo, destrutivo, e por fim autodestrutivo. 

Assim, a política, como canal de acesso ao poder institucional (autolegitimadora de sua nefasta função e legitimadora das instâncias institucionais, como construto jurídico de uma lógica social perversa, qual seja o capitalismo), não poderia mesmo ser boa coisa, e sucumbe juntamente com a depressão econômica, numa relação de causa e efeito imanente. 

A crítica à política corresponde à crítica radical à democracia de mercado, ao mesmo tempo em que a defesa de seus postulados corresponde à manutenção do sistema de exploração, ainda que isso não seja muitas vezes assim compreendido por seus incautos (alguns até bem intencionados) atores. 

Há quem considere, equivocadamente, que a política é um mal menor ou necessário, pois sem ela viveríamos sob um autoritarismo explícito; algo assim como se admitíssemos que não existisse nenhuma saída para a humanidade fora da política. 

Na verdade, a política tem um caráter submisso perante o capital; a sua incapacidade atual de regulação institucional da economia (via controle monetário, indução ao desenvolvimento mercantil, legislação, etc.), em franco processo de depressão mundial, augura-lhe o fim, simultaneamente ao fim do sistema produtor de mercadorias. 

Infelizmente, isto não significa, ipso facto, a emancipação humana, pois pode representar o recrudescimento do retrocesso civilizatório hoje existente mundo afora. A superação da política implica a necessária construção de uma forma de relação social horizontalizada, direta, e correspondente a um modo de produção natural, concreto, no qual os produtores tenham consciência do que estão produzindo e para quê. 
   
Agora, reunidos no Japão, os países membros do G7 elegeram politicamente, como prioridade absoluta, o retomada do desenvolvimento econômico, sem quererem compreender o limite interno absoluto do sistema produtor de mercadorias. 

Os países capitalistas mundialmente hegemônicos sob o ponto de vista político-econômico preferem, dentro de seus mesquinhos interesses, admitir que o capitalismo, é um sistema que pode crescer ad infinitum, e assim, intentam submeter toda a humanidade à continuidade de uma lógica socialmente decadente e ecologicamente suicida, ao invés de buscarem alternativas transcendentes. Destarte, caberá ao mundo inteiro a compreensão de que somente a negação dos postulados político-econômicos que se constituem como amarras à emancipação da humanidade poderá nos salvar a todos. 

Mas o que agora ocorre no Brasil tem uma virtude colateral: mostrar que a grande maioria dos políticos brasileiros, de tão incompetente, gananciosa e canalha, se constitui como vanguarda mundial da explicitação do verdadeiro caráter da política. 

Então, lembrando a frase ferina  do poeta português Eça de Queiroz ("Os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente, pela mesma razão”), ousarei propor uma ligeira correção, embora sem a mesma verve humorística: eles devem ser banidos juntamente com o objeto a que servem, a vida mercantil. (por Dalton Rosado)

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