sábado, 16 de abril de 2016

PARA DALTON ROSADO, O IMPEACHMENT DEVERIA SER DA POLÍTICA COMO UM TODO.

Por Dalton Rosado
MUDANDO OU NÃO AS MOSCAS, 
O EXCREMENTO É O MESMO!
É necessária e oportuna a reflexão à luz do pensamento revolucionário emancipacionista sobre o significado do deferimento ou indeferimento pela Câmara Federal do encaminhamento para decisão pelo Senado Federal do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Fazê-la após o resultado poderia parecer uma análise oportunista e, assim, quero firmar uma posição antecipada quanto ao pensar sobre essa questão.
   
Todas as discussões sobre esse tema, que parecem oportunas e inadiáveis (e o são, num sentido imediatista) são insubsistentes ao longo prazo, pois se dão dentro das margens estreitas de uma camisa de força restritiva imposta pela lógica mercantil, e que promove o desvirtuamento da questão central: as razões estruturais da crise mundial do capitalismo. 

O presidente da República, qualquer que seja ele, não é substancialmente diferente dos demais, pois:
  • as diferenças são periféricas e se dão sempre na escolha de meras e insubsistentes prioridades políticas dentro de um orçamento estatal exíguo em relação às demandas sociais e num mesmo quadro de escassez e segregação social motivada pela lógica sobre a qual estão assentados os governos e as ações governamentais, agravados pela sempre presente corrupção, que é um subproduto inerente à corrupção original sistêmica (extração de mais-valia);
  • se dão numa tentativa vã de um impossível desenvolvimento capitalista ad eternum (defendido tanto pela direita como pela esquerda) mesmo diante das evidências do limite interno de expansão; 
  • os pressupostos são os mesmos porque todos os governos governam sob a égide das categorias capitalistas (trabalho abstrato, dinheiro, mercadorias, mercado, Estado, política, etc.); e 
  • as ferramentas e conceitos econômicos que se lhes são dados são sempre os mesmos.
A burguesia no poder administra o que lhe é inerente: a decomposta institucionalidade que dá sustentação jurídica e política ao seu projeto segregacionista de relação social mercantil; assim agir está no seu papel que é contrário ao interesse popular e que deve ser denunciado.

Mas qualquer corrente de pensamento com sensibilidade social e desapego político ao poder pelo poder não deve assumir a administração da crise do capitalismo; não deve assumir a opressão inerente ao papel do Estado regulamentador mercantil e cobrador de impostos de uma população exaurida economicamente; não deve assumir a administração da escassez governamental que sacrifica a população; não deve governar o ingovernável, mas, ao contrário, deve denunciar a ingovernabilidade; não deve se constituir como partido (que como o próprio nome diz, é parte de um poder decrépito), pois no poder terá que enfrentar questões econômicas insuperáveis e opressoras. Daí a frustração com o PT e com todos os partidos de esquerda, mundo afora. 

A uma esquerda autêntica caberia, isto sim, negar os construtos da imanência capitalista e pugnar por uma sociedade emancipada e livre do dinheiro e da mercadoria.

A irreversibilidade da crise econômica salta aos olhos:
  • a rica e culta Europa está com nível de desemprego acima dos dois dígitos, igualando-se ou superando o brasileiro; 
  • os Estados Unidos têm uma dívida pública de 100% do PIB e somente se mantêm ilusoriamente solváveis graças à emissão sem lastro de sua moeda aceita em escala internacional e seus títulos idem, cuja insolvabilidade, quando evidenciada, representará o colapso financeiro mundial definitivo; 
  • o Japão possui uma dívida de 220% do PIB, e se constitui numa ameaça constante de calote no sistema financeiro; 
  • o FMI afirma que o PIB mundial definha, e o capital, sem reprodução contínua aumentada vira fumaça (e, se é isto que ocorre com os poucos ricos do mundo, pior ainda será se olharmos para a África, Oriente Médio, Ásia, América Central, do Sul e México, onde o quadro é de tragédia humana!).  
O milagre dos BRIC’s, que consistiu na produção e comércio de mercadorias one way, via trabalho assalariado desumano aliado à tecnologia de ponta e bolha de crédito, faz água, e se constitui em mais uma ameaça ao sistema financeiro mundial. O mundo capitalista caminha celeremente para o abismo.

Desta forma, qualquer que seja o governante brasileiro, escolhido por qualquer que seja a forma política, não tem capacidade de equacionar a crise da economia e não hão de ser os eternos deserdados da sorte aqueles que devem pagar pela falência sistêmica do capitalismo de que são vítimas históricas. 

Para evitarmos isso se faz necessária uma oposição consciente fundada na reflexão sobre a natureza e conteúdo negativo das categorias capitalistas, que não é feita pela grande mídia; nem pelas instâncias políticas; nem pelos partidos; nem pelos sindicatos; e nem mesmo pelas academias (e não o fazem, não porque tais estudos sejam complexos, mas porque significam a negação do capital e de todos seus construtos imanentes, inclusive do aparelho de Estado ao qual estão ligados). 

Faz-se necessário que o conjunto da sociedade reflita sobre os limites existenciais das categorias capitalistas e as consequências de suas manutenções nesse momento de exaustão do modelo social mercantil a que pertencem. O que está na pauta deve ser o impeachment da política.

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